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Zeca Camargo compartilha experiências em viagens a mais de 100 países e desafios da carreira

De passagem por Fortaleza, o jornalista e escritor Zeca Camargo concedeu uma entrevista exclusiva ao O Otimista, onde detalha momentos marcantes da carreira, inseguranças e como surgiu a paixão por viagens. Atual contratado da TV Band, ele fala dos desafios e projetos futuros na televisão 

Danielber Noronha 

danielber@ootimista.com.br

Zeca Camargo nasceu em Minas Gerais, dividindo a atenção da família com outros três irmãos. Do quarteto, ele já veio com um espírito nômade, lapidado pelo pai, o Seu Saul Ávila, que o empurrou para o mundo com a missão de sempre retornar ao Brasil com um novo aprendizado. Zeca seguiu tão à risca a ordem do progenitor, que já rodou os quatro cantos do planeta. Todas essas experiências o trouxeram a Fortaleza para  conduzir o curso Escrita de Viagem, oferecido pela Pós-Unifor. “Fiquei feliz por encontrar pessoas interessadas em vir aqui para saber mais sobre esse curso e tudo isso torna meu trabalho muito mais fácil”, celebra.

Entre uma aula e outra, o jornalista, escritor e apresentador conversou com O Otimista sobre a carreira, fazendo um balanço dos 30 anos de profissão e dos desafios que fazem parte do cotidiano como diretor-executivo de produção na TV Band, onde trabalha desde 2020, embora já tenha desenvolvidos vários projetos em frente às câmeras ao longo deste período. “Já estamos tocando alguns para 2023 e pensando até em 2024”, adianta. No bate-papo, ele falou sobre os medos do início da carreira, os aprendizados conquistados após visitar mais de 100 países e como foi prestar homenagens à jornalista Gloria Maria, falecida em fevereiro deste ano, retornando ao Fantástico junto de outros colegas de profissão. Leia na íntegra a entrevista!

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Foto: Nicolás Leiva

O Otimista – Sua vinda a Fortaleza se deve ao curso Escrita de Viagem. Como está sendo essa experiência de dividir seus aprendizados com outras pessoas?
Zeca Camargo – Eu nunca tinha dado aula num formato acadêmico, mas tem sido uma experiência única. Estou testando essa capacidade de falar com as pessoas, convidando-as a fazer essa viagem comigo. Essas aulas partiram de um curso que dei em 2021, on-line, durante a pandemia. Agora, presencialmente, fiquei feliz por encontrar pessoas interessadas em vir aqui para saber mais sobre esse curso e tudo isso torna meu trabalho muito mais fácil. Estou à vontade, falando de coisas que tenho bastante intimidade e paixão, que são a literatura e as viagens.

O Otimista – Profissionalmente falando, as viagens fazem parte da sua vida desde quando foi correspondente da Folha de S. Paulo em Nova York, em 1988. O quanto acredita que essas experiências agregaram na sua carreira profissional e também na sua formação identitária?
Zeca Camargo – Comecei a viajar bem antes da vida pública, parecia ser algo predestinado. Isto porque meus pais sempre incentivaram muito. Meu pai via como algo de educação mesmo, onde eu precisava aprender algo sobre o lugar, não era somente lazer. Isso virou um aprendizado e está internalizado em mim. Mesmo que viaje para um lugar que já conheça, preciso voltar com uma bagagem nova. Parece um grande clichê essa máxima de voltar com uma bagagem cultural, mas, de fato, você tem contato com culturas diferentes e sempre está conhecendo algo novo.

O Otimista – Por ter tido contato com outros países de costumes muito divergentes dos brasileiros, já sentiu medo durante uma dessas andanças pelo mundo?
Zeca Camargo – Já tive destinos que foram arriscados, mas cresci entre o Rio de Janeiro e São Paulo, cidades que te deixam numa espécie de alerta. Lembro de chegar em Nova York, como correspondente da Folha, com um pouco de medo e uma certa apreensão. Mas ter crescido em cidades grandes me deu uma certa segurança de saber reagir diante de quaisquer adversidades.

O Otimista – O sucesso no mainstream veio na TV Globo, no Fantástico e na apresentação do No Limite. Como foi a experiência de estar a frente de projetos tão grandiosos?
Zeca Camargo – Nunca fui um cara que quis trabalhar em televisão, então não tinha esse compromisso de falar: “poxa vida, tenho muita gente olhando o que estou fazendo!”. Até porque, estando num jornal [impresso] muita gente vai estar lendo seu trabalho e isso exige também grande responsabilidade. Quando passei para a televisão, tive sorte porque meu primeiro trabalho foi na MTV, onde eu tinha liberdade total e podia fazer qualquer coisa. Não quero parecer muito corajoso, mas nunca tive esse receio. Meu intuito sempre foi fazer um trabalho interessante, cativando as pessoas. O número de espectadores que respondiam a isso, na verdade, era quase uma consequência. Não tinha uma forma ou intenção por trás, tudo aconteceu com uma certa naturalidade. Tive sorte de trabalhar no Fantástico, porque a gente brincava que era um programa com estreia toda semana. Era preciso reinventá-lo todo domingo. Pensando nisso, todos os desafios faziam com que parecesse a primeira vez.

O Otimista – Diante de tantas experiências, o que você diria para aquele Zeca do começo dessa trajetória que, talvez, nem acreditou que pudesse chegar onde está hoje?
Zeca Camargo – Para ele não perder a curiosidade nunca. A coisa mais importante do nosso trabalho é ser curioso. A sua curiosidade é o que te faz elaborar a pauta, que te motiva a querer entrevistar fulano e ciclano. Quando eu era muito jovem, existia um receio de ter essa curiosidade. “Será que devo perguntar?” E você deve fazer isso! Você é jornalista e repórter porque quer desconfiar das coisas, quer saber se o relato que te contaram não tem um outro lado, uma outra intenção, um subtexto. Minha curiosidade continua a mesma, mas, se tivesse ouvido alguém falar para não ter medo e ousadia, este seria um bom recado.

O Otimista – Além dos programas de TV, você também já escreveu alguns livros. Qual o lugar da escrita na sua vida? É um espaço de desabafo, de fruição dos teus pensamentos?
Zeca Camargo – A princípio, foi uma consequência. O primeiro livro que escrevi, A Fantástica Volta Ao Mundo, de 2004, era quase uma brincadeira, mais um relato de viagem. Porém, tinha um desafio muito bacana ali, de ter que contar algo a mais, que a própria reportagem não tivesse mostrado. A série para a televisão foi ao ar entre maio e setembro daquele ano e a ideia era lançar o livro no fim de 2004. Então, escrevi aquele material às pressas, em duas ou três semanas, e pegaram um material que eu já tinha, que era um diário de viagem para complementar. Mas o desafio era contar a história por um olhar diferente, que é quase uma herança deixada pelo Fantástico. Isto porque quando acontece uma coisa forte durante a semana, o Fantástico tem que contar de um jeito diferente e foi isso que lembrei quando fui fazer o livro. No caso das viagens, o desafio é ir além das imagens. No livro, você precisa superar a descrição da imagem e saber como usá-las para contar uma narrativa mais pessoal. Por isso, brinco que esse primeiro livro não é tão interessante assim. Relendo ele, percebi que podia ter contado algumas coisas de uma maneira diferente. Os outros que tive a partir deste foram mais completos, mais pessoais, com a minha marca.

O Otimista – Ainda falando em escrita, você foi responsável pela biografia de Elza Soares, que foi uma das maiores artistas do País. O quanto esse mergulho na vida dela te marcou?
Zeca Camargo – Fui convidado de maneira bem informal. Já havia entrevistado ela algumas vezes e dois produtores que trabalhavam com ela me convidaram. Eu achei que a biografia era uma entrevista bem feita, com mais detalhes, mas é bem mais do que isso. Eu fui desmontando isso logo no início. A primeira entrevista com a Elza teve quatro horas, ela terminou exausta e eu também e a coisa não rendeu. A ideia inicial era fazer uma entrevista de quatro horas a cada três semanas, mas falei: “Olha, Elza, vamos fazer uma entrevista todos os dias, de mais ou menos um hora?”.Justamente para deixá-la mais à vontade. Eu tive que aprender, neste processo, a costurar uma história maior. É como se você fosse acostumado a fazer desenho no papel e depois tivesse que pintar uma grande tela. Era preciso pegar as memórias da Elza e entender o contexto delas. Veja bem, eu trabalhava com as memórias de uma mulher de 80 anos, com muitas das memórias já calcificadas. Era um trabalho de desconstruir isso e colocar essas lembranças dela dentro de um contexto. Esse foi o melhor aprendizado, sem contar a minha relação com a Elza, que levei para a vida. A gente criou uma ligação muito bacana. Eu dedico o livro ao Luiz Nascimento, que foi meu diretor durante toda a minha passagem pelo Fantástico. Ele quem me ensinou o valor de uma história bem contada, que não seja apenas uma página de Wikipedia. Inclusive, adoraria fazer outras biografias. Ao contrário de outros biógrafos, acho interessante fazer a biografia de alguém vivo para ter a pessoa para contar sobre a própria vida.

O Otimista – Agora você vive uma nova fase em sua carreira, como diretor executivo de produção na Band. De que forma participar do backstage de uma nova casa eleva a responsabilidade sobre seu trabalho?
Zeca Camargo – A gente já fazia um pouco isso. No Fantástico, a gente fazia de tudo um pouco, mas veio a Band pedindo para eu fazer isso mais fortemente. Definitivamente, sou um cara de ideias e um pouco da vontade da emissora era para eu colaborar justamente com novos projetos, mas consigo ser bem mais produtivo na frente das câmeras. Tivemos o programa 1001 Perguntas no ano passado, que me deu um bom retorno.

O Otimista – Além de diretor executivo de produção, você também ganhou outras atrações na emissora, que parece estar dando bastante espaço para você criar. Como está sendo essa experiência e isso chega para você também como um reconhecimento pelo que construiu até aqui?
Zeca Camargo – Já estamos tocando alguns para 2023 e pensando até em 2024, mas acho que a moeda de troca aí é a criatividade, você tem boas ideias, tem a competência de realizá-las e acho que não decepcionei nessas escolhas que tomei. A experiência mais recente foi a cobertura do Carnaval de Salvador, que participei junto da Band Bahia, e era uma grande aposta e deu tudo certo. Toda emissora vai estar sempre experimentando, dando um pouco de liberdade para ver se funciona, e você vai ganhando espaço. Tudo isso é uma conquista e vem de 30 anos de carreira, que me permitem apostar mais. Isso é um privilégio.

O Otimista – Com o falecimento da saudosa Glória Maria, você voltou os Estúdios Globo para prestar-lhe uma homenagem, junto a outros grandes nomes do jornalismo. Como foi voltar a essa antiga casa, e também estar no mesmo lugar onde trabalhou com a Gloria por tanto tempo?
Zeca Camargo – Fui muito bem recebido. Ali, estava entre amigos, com [Pedro] Bial, a Renata Ceribelli, a Patrícia Poeta, que foi uma colega de anos, e o Tadeu Schmidt. São pessoas que, apesar de não ter o contato do dia a dia, sigo acompanhando e tenho muito respeito. É engraçado, porque quando a gente fala parece que foi um grande evento, mas, na verdade, foi um encontro entre amigos para relembrar a Gloria. De lá, saímos para tomar alguma coisa, para celebrar a Gloria Maria, e foi mais simpático ainda, porque estávamos informais, celebrando uma grande amiga. Quando o programa foi ao ar, fiquei tão emocionado quanto quem viu de casa. Tem que marcar também a generosidade da própria Band por ter me cedido para ir lá, mas era uma homenagem tão grande que não tinha como negar.

O Otimista – Ainda sobre o lar, finalizo perguntando quais significados esse conceito e também a palavra família ganharam para você já desbravou grande parte do mundo?
Zeca Camargo – Aprendi que lar são amigos, você os faz em qualquer lugar. Hoje, tive uma tarde maravilhosa! Saí com artistas que não conhecia e fui à Pinacoteca do Ceará, dei uma passada no restaurante de uma amiga minha e cheguei na Unifor com um pique maravilhoso. Cheguei com uma sensação de lar. Eu não moro em Fortaleza, mas, durante uma tarde, me senti como um fortalezense. Fui bem recebido, me apresentaram coisas incríveis e me deram mais motivos para voltar aqui. Acho que você vai construindo esse espírito nômade, que eu e tantas pessoas têm, ao longo das viagens. Lar é a capacidade de criar afetos em qualquer lugar do mundo e acho que nisso fui bem sucedido.

(Colaborou Sâmya Mesquita)

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