No aniversário de três anos do O Otimista, Wolney Oliveira e Janne Ruth, grandes nomes do cinema e da dança no Estado, respectivamente, demonstram esperança em um futuro melhor a partir da cultura, com base em investimentos e valorização de talentos locais
Danielber Noronha
danielbe@ootimista.com.br
Em um mundo cheio de intempéries e uma agenda já pautada pela negatividade, é grande o desafio de lançar um olhar propositivo e de fé em dias melhores – tarefa abraçada pelo Grupo Otimista de Comunicação quando, há três anos, lançou a primeira edição impressa pelos quatro cantos de Fortaleza. Assim também fez e segue fazendo a cultura, que chega como um respiro acompanhado de confiança em dias melhores, seja através da tela grande do cinema, da mistura de melodia das músicas ou dos passos flutuantes da dança. Constantemente calejada pelo corte de verbas públicas ou pela falta do reconhecimento devido, esta seara foi pilar de sustentação para muita gente no período de maior crise da covid-19 e os rostos que estiveram à frente desta luta seguem convictos de que muitas bonanças estão por vir.
Delegada do Conselho Brasileiro da Dança no Ceará (CBDD), Janne Ruth afirma que uma característica humana ficou ainda mais evidente durante o período devastador da crise sanitária: a resiliência. “A gente aprendeu a se reinventar e buscar novas possibilidades. Foi preciso muita criatividade para a cultura não parar”, resgata. Buscando evitar a evasão total dos alunos das escolas de dança, Janne viabilizou o primeiro festival de dança online do País, o Fendafor Home Experience. “A gente conseguiu se conectar com o mundo de uma forma nunca vista antes e foi um sucesso tanto que os festivais e as aulas remotas seguem ocorrendo até hoje”, pontua.
No Rio de Janeiro finalizando as filmagens do filme Lampião, O Governador do Sertão, o cineasta Wolney Oliveira conversou com Tapis Rouge e também comentou sobre os ensinamentos deixados pelo contexto pandêmico. “O aprendizado maior é que precisamos ter fé, força e resistência, além de uma capacidade de olhar para frente e conquistar os degraus apesar das adversidades”, elenca.
Momento de transição
Enquanto o Brasil atravessa um período de mudança social e comportamental após todas as restrições sanitárias e geográficas impostas pelo coronavírus, ocorre também uma transformação no cenário político, motivo que ajuda a explicar as grandes expectativas de Wolney e de Janne em dias melhores, a começar pela recriação já anunciada do extinto Ministério da Cultura. “Acredito que serão quatro anos de desenvolvimento para o audiovisual brasileiro. Como dizia o professor Antônio Martins Filho: ‘sou um otimista convicto e inveterado'”, evidencia Wolney Oliveira. “A sensação que tenho é de que teremos voz novamente para ajudar a resolver o desmonte na cultura”, complementa Janne Ruth.
Onde apostar
Entretanto, ponderam os agentes culturais ouvidos pela reportagem, é preciso ser assertivo nos investimentos para fazer toda expectativa ganhar cores e formas na vida real. O primeiro passo é indicado por Wolney e passa pela educação. “Um país que não tem investimento forte em educação vai demorar muito mais para se desenvolver e esse é um trabalho fundamental que precisa de pelo menos 20 anos de governos sérios e comprometidos com a pauta”, justifica. Afunilando mais para sua área de atuação, o audiovisual, o diretor do Cine Ceará aproxima também o cenário para o âmbito estadual, que vive um momento semelhante de transição na esfera política: “É fundamental investir no fomento. Temos uma estrutura de equipamentos culturais de fazer inveja a vários estados brasileiros. O Museu da Imagem e do Som [MIS], a Estação das Artes, o Centro Cultural do Cariri e os cinemas que teremos no Interior do Estado são um exemplo disso.” “O ideal seria criar um Mecenato Estadual do Audiovisual”, propõe.
No olhar de Janne Ruth, também Coordenadora do Fórum e dos grupos de dança do Ceará, é preciso investir cada vez mais em capital humano. “Precisamos ter olheiros na cultura, assim como ocorre com o futebol, pegando crianças a partir de nove anos de idade, que já se identificam em alguma área, para investir e evitar que aquele talento morra na praia. É preciso exportar o que temos de melhor para o resto do mundo e isso só se faz com investimento de verdade”, completa a professora e coreógrafa.