O artista plástico Wilson Neto abre uma série de matérias que vão abordar a produção de profissionais das artes plásticas em tempos de combate ao novo coronavírus
Emanuel Furtado
emanuelfurtado@ootimista.com.br
Nas suas mais diferentes linguagens, muitos artistas cearenses estão aproveitando este período de isolamento social para provocar a criatividade e a produção. Nas artes plásticas não está sendo diferente. Para apresentar ao leitor as novidades que estão sendo desenvolvidas por alguns deles durante a pandemia, O Otimista criou a série Arte em Isolamento, que tem início hoje e segue pelas próximas três quintas-feiras. O primeiro a abrir os segredos do ateliê, o Porta Amarela, foi Wilson Neto.
Em meio ao amadurecimento da produção de uma série de “pinturas vermelhas”, ainda sem nomes e definição, o artista plástico tem utilizando um pequeno caderno como diário, sem a pretensão de registrar o dia. Com a feitura de desenhos e com o tempo, Wilson conta que começou a chama-lo de “Caderno de Quarentena”.
“Eu não registro como texto. O diário é gráfico, extremamente pictórico. Os desenhos são de reflexões sobre o dia-a-dia, ideias que eu quero trabalhar mais tarde em outras telas. São projetos que eu já trabalhei e revisito. São obras afins”, explica ele, que está recluso em casa com a mulher e o filho.
O artista plástico revela que entre as suas obras revisitadas estão algumas séries de pinturas: uma sobre mulheres, outra sobre homens e uma recente, que intitulou “Frenofilia”. Segundo ele, essa última surge dado o seu interesse pelo tema memória e por cabeças humanas “em diferentes circunstâncias, fugindo dessa proporção anatômica e realista. Então eu a revisito bastante no ‘Caderno da Quarentena’”.
Sobre de onde vem a inspiração para a realização das obras de arte, Wilson conta ela surge de diferentes fontes. “Geralmente o artista está atento ao seu cotidiano. Então uma música, um filme, uma conversa ou algo que ele vê na rua, pode despertar para toda uma poética”, explica. “Então o meu interesse atual é no que eu estou trabalhando mais (Caderno da Quarentena). Ele é como uma catarse de uma pessoa que está confinada, restrita, isolada e a única coisa que ela pode escrever é um caderno. Como eu não sou escritor, eu desenho”, complementa o artista.
RENASCENÇA
Nascido em Fortaleza e morador de um dos tradicionais sítios do bairro Maraponga no início da década de 1980, Wilson Neto logo cedo mudou-se para Sobral, aos seis anos, onde viveu por cerca de duas décadas. Por lá, começou a trabalhar com arte, quando foi convidado para expor seus desenhos.
“Participei da renascença sobralense, por assim dizer, quando a cultura aqui em Fortaleza andava bastante desestimulada e para baixo. Um pouco antes de 2000, com o aparecimento da restauração do Teatro (São João), da Casa de Cultura e do Salão de Arte, a cidade passou a ter muitos movimentos importantes”, lembra. Nessa época, ele foi premiado no município.
De volta à capital cearense, já casado e encarando a arte como uma possibilidade mais séria, Wilson Neto seguiu com o que gostava de trabalhar. “Não tenho o plano B para a minha carreira. Realmente é a arte. De 2000 para cá venho trabalhando anualmente uma exposição individual daqui e do exterior”.
Além de dar aulas para pessoas que “querem aprender a desenhar, pintar à sua maneira, não de uma maneira mais clássica, rígida e acadêmica”, ele participa de um projeto coletivo e mantém atividades e contatos com outros artistas. Em breve voltará à região da Floresta Amazônica para novos projetos.
QUANRENTENA
“Tenho certeza que, se não fossem os artistas, músicos, cineastas e escritores, essa quarentena seria muito mais difícil. Não teríamos as artes em todas as vertentes para nos alimentar. Vamos ser otimistas em relação aos mesmos e tentar fazer a diferença para o outro”.
HÉLIO RÔLA
“No Ceará, o artista mais genial é o Hélio Rôla. Acho que é o mais despretensioso com a própria carreia, mais genial nas suas abordagens pictóricas e nos temas que escolhe e também o mais ignorado. Nós temos artistas que são supervalorizados pelo grande público, mas que são farsas. Então, na minha opinião, aqui no Ceará ele é o artista mais incrível que existe. Está vivo, criando como nunca, tem posts diários hilários e muito bons”



























