Vaquinha virtual quer salvar o Teatro da Praia

Grandes nomes do segmento já passaram pelo palco do Teatro da Praia que, mais uma vez, corre o risco de encerrar suas atividades. Uma vaquinha virtual está sendo realizada para salvar o equipamento 

Texto: Naara Vale
naaravale@gmail.com
Foto: Edimar Soares

Em um deteriorado galpão do início do Século XX, construído em uma antiga zona portuária da cidade de Fortaleza, teve início um sonho. O ano era 1993. O sonhador era o ator e diretor de teatro Carri Costa. De passagem pela Praia de Iracema, ele se deparou com um armazém fechado, onde uma placa pendurada no portão dizia: aluga-se. Negociação vai e vem, contrato fechado. Ali seria a nova casa da Cia. Cearense de Molecagem.

Após reformas e mais reformas, no dia 20 de abril de 1996, nascia o Teatro da Praia, inaugurado oficialmente com a estreia do espetáculo “A Comédia da Vida Rasgada”. Dois anos depois, mudou-se para pertinho, na rua José Avelino – 662, onde reside (e resiste) há 21 anos. “O Teatro foi pensado por uma ótica muito democrática, foi pensado para a cidade. Quando a gente chegou na Praia de Iracema, não tinha Dragão, não tinha essa estrutura montada”, lembra Carri Costa.

Inicialmente pensado para ser a sede da Cia. Cearense de Molecagem, o Teatro da Praia tornou-se casa e vitrine para dezenas de companhias, atores e atrizes do Ceará. Nomes como Silvero Pereira, Genro Camilo, Cia. Gafieira e Ceronha Pontes tiveram o início de suas trajetórias marcado pelo palco do local. Muitos deles fizeram suas primeiras apresentações no Festival de Esquetes, promovido pelo Teatro da Praia durante duas décadas (última edição foi em 2016). “A gente é um espaço de fruição do teatro cearense. Durante 20 anos fizemos o ‘Festival de Esquetes’. Muitas companhias de teatro surgiram a partir dele, foi um espaço de experimentação para muitos grupos”, orgulha-se o diretor, que segue à frente da Cia. Cearense de Molecagem, hoje com 11 componentes.

Para a atriz e coordenadora do curso de Licenciatura em Teatro do Instituto Federal do Ceará (IFCE – Fortaleza), Fran Teixeira, “o Teatro da Praia é um dos espaços mais importantes da cidade”. Segundo ela, além de abrigar diversos processos criativos, é um teatro independente, mantido pela energia e determinação do próprio Carri Costa. “O Teatro da Praia é como um patrimônio do teatro de grupo, do teatro experimental, está na história de uma quantidade imensa de artistas, muitos que começaram a se apresentar ali”, aponta Fran Teixeira.

Resistência

Mais que um simples espaço cênico, o Teatro da Praia é considerado um símbolo de resistência das artes no Ceará. O espaço já foi Ponto de Cultura (política pública que servia para replicar artes e saberes localmente), sede de festivais de teatro, de shows musicais, experimentos e exposições. Tudo isso às custas de uma constante luta de Carri para manter as contas em dia sem o financiamento público. Os custos mensais chegam a R$ 7 mil por mês, os quais são pagos através de verbas conquistadas por projetos que vão além da bilheteria do Teatro.

Há 27 anos nessa peleja, neste ano, a luta de Carri está maior. Os donos do galpão receberam uma proposta de compra de uma construtora pelo valor R$ 900 mil, quantia que agora Carri tenta levantar através de uma vaquinha virtual https://www.vakinha.com.br/vaquinha/o-teatro-da-praia-nao-pode-fechar). Segundo ele, a ideia é também abrir um diálogo com o Governo do Estado para solucionar o problema e conseguir manter o Teatro da Praia no local.

“Não passa pela minha cabeça perder o espaço. É legal que a gente tenha o entendimento do que isso representa para Fortaleza, para o teatro da cidade. E o valor histórico? Até quando a arte vai ter que abrir mão das coisas por causa da especulação imobiliária? Até quando esse segmento vai ser suprimido, ser pormenorizado? A gente tem que lutar”, diz o diretor.

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