PUBLIEDITORIAL – A delicada e simbólica renda de bilro de Aquiraz, produzida há séculos no litoral cearense, conquistou um reconhecimento histórico. O Ceará alcança agora sua sexta Indicação Geográfica (IG), reafirmando o compromisso do estado com a valorização de suas tradições e a competitividade dos pequenos negócios. Esta já é a 142ª IG brasileira e a 17ª certificação de artesanato do país, na espécie Indicação de Procedência (IP). A chancela, concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), garante proteção territorial, autenticidade e valorização de um legado que atravessa gerações e se reafirma como motor de desenvolvimento econômico e cultural. Essa conquista é resultado de um trabalho contínuo de fortalecimento dos territórios conduzido pelo Sebrae.
O caminho percorrido até a certificação foi uma jornada minuciosa. Segundo Pedro Silva, articulador do Sebrae na Região Metropolitana, o processo começou há quatro anos, em 2021, quando a instituição buscou identificar produtos do território que pudessem ser referenciados por sua relevância cultural, histórica e econômica. “Naquele momento buscamos, dentro da Região Metropolitana, produtos que pudessem ser reconhecidos pela Indicação de Procedência territorial. Era importante que tivessem uma história, referência cultural e fossem produzidos há muito tempo em determinada região”, explica.
Amplamente difundida no município de Aquiraz, a renda de bilro é uma atividade histórica e muito valorizada tanto pelo mercado quanto por quem visita a cidade. “É uma atividade que precisava de luz, valorização e proteção, por ser conduzida preferencialmente por mulheres que mantêm viva essa tradição”, ressalta o articulador.
A tradição, o mar e o bilro
A história da renda de bilro começou por volta do século XVII e é considerada uma herança lusitana, trazida por mulheres portuguesas. A arte atravessa gerações e ainda hoje se mantém como fonte de sustento e símbolo cultural do município de Aquiraz, a 30 km de Fortaleza. Enquanto os homens se dedicam à pesca no mar, as mulheres tramam fios sobre almofadas recheadas de serragem e algodão, utilizando pequenos instrumentos de madeira, os chamados bilros, que batem em compasso e desenham formas delicadas. O som dos bilros ecoa nas casas e nas ruas, marcando a passagem do tempo e o fortalecimento da memória coletiva.
Ao lado da pesca, a renda de bilro constitui uma das principais fontes de renda do município. Estudos do Sebrae indicam que produtos com certificação de Indicação Geográfica podem alcançar valorização de até 300% no mercado, aumentando a renda das famílias e dando mais competitividade aos pequenos negócios locais.
A Indicação Geográfica, além de proteger o território produtor, também abre portas para a diferenciação em mercados nacionais e internacionais, garantindo autenticidade e identidade cultural ao produto artesanal.