Os projetos “Territórios da Leitura” e “Ventos do Saber” estão transformando 20 bibliotecas escolares do Ceará e Rio Grande do Norte em verdadeiros oásis de imaginação. Até setembro, 12 mil estudantes ganharão espaços que trocam a poeira das estantes por acervos e equipamentos renovados

Sâmya Mesquita
samyamesquita@ootimista.com.br

Imagine um lugar onde cadeiras coloridas convivem com pufes aconchegantes, TVs exibem contos fantásticos e os livros são a porta de entrada para a imaginação voar sem limites. Esse cenário saiu da ficção e ganhou vida em 20 escolas públicas do Ceará e Rio Grande do Norte, graças aos projetos “Territórios da Leitura” e “Ventos do Saber”, que, até setembro, inauguram bibliotecas revitalizadas para 12 mil estudantes. A missão é trocar a poeira das estantes pelo brilho nos olhos de quem descobre o prazer da leitura.

Em meio a um Brasil onde 49% dos estudantes não frequentam bibliotecas, os projetos surgem como trincheiras contra a desistência literária. “A leitura, especialmente a literária, é ferramenta de emancipação social. Ela ensina a decifrar não só palavras, mas o mundo”, afirma Emídio Sanderson, diretor da Invento Produções Culturais. Com investimento de R$ 1,2 milhão via Lei Rouanet, as novas bibliotecas – equipadas com acervo de 200 livros, jogos educativos e tecnologia – pretendem ser antídotos para um dado cruel: mais da metade das escolas brasileiras não têm sequer uma sala de leitura, quanto mais um espaço com empréstimo de livros.

A escolha das escolas segue um roteiro estratégico. “Nossos patrocinadores indicam comunidades vulneráveis próximas a suas unidades fabris, e nós avaliamos desde a receptividade da equipe até a estrutura física”, explica Sanderson. Em Quixadá, onde a primeira biblioteca foi entregue no último dia 19 de maio, a Escola Padre Vicente Gonçalves ganhou não apenas paredes repaginadas, mas um ecossistema de incentivo: “Oferecemos 32 horas de consultoria para professores, porque biblioteca viva é aquela que vira refúgio e não depósito”.

Nesta terça-feira (3), será entregue mais uma unidade, desta vez no município de Santa Quitéria.

O segredo para fisgar os jovens, segundo o gestor, está no afeto. “Contação de histórias não é aula disfarçada, é um abraço em forma de palavras”. Ele ainda ressalta um dado do Instituto Pró-Livro, que indica que figuras femininas da família são as maiores incentivadoras da leitura; mas quando essa rede falha, a escola assume o papel. “Uma criança que ouve Chapeuzinho Vermelho com entusiasmo vai associar livros a prazer, não a obrigação”, defende.

Para garantir vida longa aos espaços, o projeto assina termos de doação com prefeituras e monitora as bibliotecas por seis meses. Das 27 já entregues desde 2020, nenhuma foi desativada – um feito atribuído ao design irresistivelmente aconchegante. “Quando você coloca móveis coloridos e ar-condicionado num lugar que antes era esquecido, a comunidade passa a cuidar como tesouro”, ri Sanderson. Em São Gonçalo do Amarante, a Gertrudes Prata Lima, escola beneficiada pelo “Ventos do Saber” no último dia 23 de maio, já prepara clubes de leitura com os novos computadores.

Enquanto o Ceará celebra sua 6ª edição, o Rio Grande do Norte estreia no mapa em setembro, com quatro bibliotecas. “Isso mostra como as parcerias entre iniciativa privada e poder público podem virar políticas permanentes”, reflete o diretor. Os projetos ainda oferecem seminários gratuitos em junho e agosto, porque, no fim, toda revolução começa com uma página virada.

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BIBLIOTECAS ENTREGUES:

Quixadá (Escola Padre Vicente Gonçalves de Albuquerque) e Russas (Escola Raimundo Pelópidas de Araújo;
Iguatu (Escola João Paulino de Arruda);
Brejo Santo (Escola Historiador Padre Antônio Gomes de Araújo);
São Gonçalo do Amarante (Escola Gertrudes Prata Lima);
Maracanaú (EMEIEF Profª Maria do Socorro Viana Freitas e na EMEF José Belisário de Sousa);