Projeto Ateliê do Brincar leva murais e brinquedos-escultura para escolas do Ceará, unindo arte e aprendizagem 

Colorir muros, instalar brinquedos-escultura e inspirar novas formas de ensinar: essa é a proposta do Ateliê do Brincar. Em São Gonçalo do Amarante, Pacajus e Tururu, mais de 2,2 mil crianças vivenciam a transformação de suas escolas em espaços de aprendizado, afeto e arte

Sâmya Mesquita
samyamesquita@ootimista.com.br

Em tempos em que se discute cada vez mais a importância do brincar na educação infantil, um projeto cearense vem transformando creches e pré-escolas em verdadeiros espaços de encantamento. O Ateliê do Brincar chegou à 3ª edição levando murais artísticos e brinquedos-escultura para mais de 2,2 mil crianças em seis centros de educação infantil em três municípios do Ceará: São Gonçalo do Amarante, Pacajus e Tururu. Mais do que embelezar, a iniciativa aposta na arte e na ludicidade como caminhos essenciais para o desenvolvimento infantil.

A proposta reúne nomes importantes da cena cultural local. Os murais são assinados por Rafael Limaverde, artista que transita entre o design, a xilogravura e a ilustração de livros infantis, enquanto os brinquedos-escultura têm a marca de Dim Brinquedim, criador de peças que se movem, giram e convidam ao toque. Para além das obras, oficinas artísticas com crianças e consultorias voltadas ao corpo docente completam a experiência, garantindo que a transformação estética também reverbere na prática pedagógica.

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Emídio Sanderson aponta o caráter formativo da ação na educação
das crianças (Fotos: Allan diniz/Divulgação)

Segundo Emídio Sanderson, diretor da Invento Produções Culturais, a maturidade alcançada em três edições ajudou o projeto a se adaptar melhor às realidades locais. “O projeto amadureceu muito, tanto no seu desenho pedagógico quanto na proposta artística. Hoje, conseguimos alinhar nossas ações de forma mais sensível à realidade de cada instituição atendida. Cada centro de educação infantil possui uma dinâmica própria e um cotidiano singular. Respeitar esse contexto é essencial para que o projeto seja bem acolhido pela comunidade e para que as artes possam, de fato, se integrar ao cotidiano de creches e pré-escolas”, diz Sanderson.

Os espaços
A seleção das escolas é fruto de articulações que começam com os patrocinadores e passam pelas secretarias municipais de Educação. Depois, visitas técnicas avaliam não apenas a infraestrutura, mas também o interesse das equipes escolares em abraçar a proposta. “Apesar de não ser critério, normalmente atendemos comunidades com média ou alta vulnerabilidade social. Mas o mais importante é garantir que o projeto tenha real efetividade, respeitando a abertura das escolas em receber as atividades”, explica o diretor.

Os resultados, segundo ele, aparecem de imediato. “O impacto mais visível é o embelezamento dos espaços, que gera encantamento nas crianças, educadores e familiares. Trata-se de uma experiência estética transformadora, muitas vezes inédita para as comunidades atendidas. Nossas pesquisas mostram que há quase unanimidade entre educadores e familiares quanto à percepção de que as atividades contribuem significativamente para a formação das crianças. Mais de 90% dos professores dizem que pretendem aplicar em seu cotidiano o conhecimento adquirido nas formações”, afirma.

Da arte produzida
No campo artístico, Rafael Limaverde destaca a importância de escutar os pequenos. Os murais, afinal, nascem dos traços que eles mesmos desenham. “Tudo começa a partir de uma oficina de desenho livre. A ideia é deixar que as crianças tragam, por meio do desenho, as paisagens, os bichos, as pessoas e tudo o que faz parte do seu cotidiano. Com base nessas referências, criamos um painel coletivo em forma de paisagem, onde cada contribuição imagética encontra lugar nesse grande cenário afetivo”, diz o artista. Para ele, esse processo de autoria compartilhada reforça a dimensão pedagógica da arte: “As crianças se sentem participantes efetivas do processo de embelezamento e ressignificação da escola”.

Dim Brinquedim, responsável pelas esculturas lúdicas, ressalta que o projeto vai além da entrega de equipamentos. “Não se trata apenas de doar um objeto para a escola, mas de envolver toda a comunidade na ludicidade. A brincadeira instiga a imaginação, estimula a criatividade, amplia a percepção e ajuda na aprendizagem. Mas o mais importante é que, na brincadeira, se é feliz — e a felicidade é o que fortalece”, defende. Ele também celebra a sintonia entre as criações: “O que mais me surpreendeu foi a harmonia entre o meu trabalho e as pinturas do Rafael. Ficou tudo muito lindo! As crianças e os professores ficaram felizes, e eu também”, completa.

Nesta edição, o projeto passou pelo CEI Maria Lenir (Pacajus), pelos CEDI Tia Fausta e Daniel Correia Carvalho (São Gonçalo do Amarante) e pelas creches Tesouro da Casa de Deus II e Maria Aldenir Pires Chaves, além da Escola Cecília Siqueira (Tururu). A agenda também inclui um seminário virtual gratuito, de 27 a 31 de outubro, com cinco webinars no YouTube da Invento Produções Culturais, reunindo especialistas nacionais para discutir a relação entre arte e brincar na educação infantil.

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