Nos dez anos da morte de Gabriel García Márquez, escritores cearenses reverenciam sua influência

Da Colômbia ao Ceará
ABRE
Dez anos após sua partida, Gabriel García Márquez continua sendo uma fonte de inspiração. Tapis Rouge entrevistou escritores cearenses de diversas gerações que foram tocados pelo Prêmio Nobel de 1982. Saiba também onde assistir filmes adaptados ou inspirados em obras de Gabo

Sâmya Mesquita


samya@ootimista.com.br

Segundo o teórico da linguagem Mikhail Bakhtin, o homem se constitui, na relação com os outros, pela linguagem. Por isso, ao ler um livro, sempre dialogamos com aquele texto. E especialmente os escritores, que também são leitores, acabam por beber de outras fontes, mesmo que inconscientemente. E que fonte é mais inesgotável que o colombiano Gabriel García Márquez, escritor que venceu o Prêmio Nobel de 1982? Gabo (1927-2014) ajudou a popularizar o Realismo Mágico, vertente literária que mistura o misticismo das crenças latinas à realidade social em um caldeirão metafórico. Mas sua obra é tão complexa que permitiu que diversas outras mentes se inspirem em sua estética e criem também seus próprios universos — algumas dessas mentes, inclusive, cearenses!

A professora Socorro Acioli é uma dessas almas criativas. A Cabeça do Santo (2014), por exemplo, foi um livro gestado em uma oficina com o próprio colombiano. Assim como nos livros do mestre, que mostram as questões políticas da América Hispânica, a jornalista busca trazer para suas obras a brasilidade — e por que não cearensidade — que a permeia como sujeito. “A maior influência dele no meu trabalho foi me ensinar o compromisso que cada um tem com o seu lugar. A consciência da responsabilidade que tenho como escritora brasileira, sobretudo porque já estou sendo publicada em outros países e idiomas”, diz a também jornalista, que no ano passado lançou Oração para Desaparecer. “Sou brasileira e tenho que cuidar bem desse privilégio, dessa honra, dessa herança cultural. Ele (Gabo) me ensinou a acreditar nos sonhos. Isso é o que me impulsiona”.

García Márquez não influencia apenas através da similaridade, mas também pela diferença. Tércia Montenegro é um exemplo claro. Tendo lido o autor ainda na pré-adolescência, pode-se dizer que o Realismo Mágico daquele universo influenciou o Neorrealismo da autora de Turismo para Cegos (2015): “Quando eu tinha 12 anos, eu me espantei muito com o fato de que ele pudesse fazer qualquer coisa no texto. Então a literatura fantástica me abriu a perspectiva da grande invenção que é a ficção. A ficção pode qualquer coisa, a ficção pode ousar, né? Por narrativas extravagantes, narrativas insólitas, imprevistas. E, sem dúvidas, Gabriel García Márquez, nessa fase da minha vida, foi uma libertação”.

Uma nova geração

Mesmo incorporando elementos da realidade, Gabo não deixa de escrever uma fantasia que, como diz Tércia, “imitadores não alcançam”. E quando se fala em fantasia, temos toda uma nova geração de escritores! Para Lara T. Vainstok, autora do romance independente Castelo de Areia (2022), García Márquez é mais que uma referência literária. “Felizmente eu tive muito contato com ele e com artistas latinos. E por ele tratar de Realismo Mágico, que é um campo que eu amo muito, é inspiração, realmente. É um tipo de autor que dá vontade de ler tudo que escreveu, tudo tudo tudo! Só para ter um pouco da magia que ele passa na escrita”.

Best-seller na Amazon Brasil com Castle High: O Retorno da Espada (2022), Jonas Aquino não vê limites nos diálogos que a literatura cearense pode alcançar, seja bebendo do Realismo Mágico, seja incorporando elementos da fantasia europeia, seja explorando o que é da nossa mística. “Gabriel García Márquez deu o nome para uma estrada que eu, aos 22 anos, percorreria, com bruxos nordestinos e magias à base de trovas brasileiras”.

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