Na trajetória por indicações ao Oscar, “O Agente Secreto” ganha pré-estreia no 35º Cine Ceará, nesta quarta-feira

“O Agente Secreto”, que estreia nos cinemas brasileiros em 6 de novembro, ganha pré-estreia na noite desta quarta-feira (24), durante a 35ª edição do Cine Ceará, no Cineteatro São Luiz. Ingressos serão distribuídos hoje (23)

Gabriel Amora
amoragabriel@ootimista.com.br

“O Agente Secreto”, novo filme de Kleber Mendonça Filho, terá sessão especial nesta quarta (24), na programação do 35º Cine Ceará, em Fortaleza. A exibição terá ingressos disponibilizados hoje (23), a partir das 14h, através da plataforma Sympla, gratuitamente. Agenda marca mais um momento importante na trajetória do longa, escolhido para representar o Brasil na disputa por uma indicação ao Oscar 2026, na categoria de Melhor Filme Internacional.

Estrelado por Wagner Moura, o filme se passa durante a Ditadura Militar, nos anos 1970, e acompanha um especialista em tecnologia com um passado nebuloso, que se refugia em Recife. Mas o que inicialmente parece um esconderijo seguro logo se revela um território permeado por tensão e vigilância. Com uma atmosfera de suspense precisa e elementos de thriller político, a produção teve estreia no Festival de Cannes, onde conquistou dois dos principais prêmios da mostra: Melhor Direção, para Kleber, e Melhor Ator, para Wagner.

Em maio, durante o Festival, tive a oportunidade de assistir à primeira exibição do filme, que terminou com cerca de 15 minutos de aplausos. Naquele momento, foi impossível não pensar na trajetória de Kleber: um cineasta nordestino, que, com paciência, coerência e profundo amor pela linguagem, chegou ao posto de um dos grandes nomes do cinema mundial.

Para entender a força de “O Agente Secreto”, é essencial olhar para a evolução da obra do pernambucano desde os primeiros trabalhos. Em “Vinil Verde” (2004), por exemplo, um curta de apenas 13 minutos, construído inteiramente em fotomontagem, ele já demonstrava domínio artesanal da narrativa, criando uma história simples, mas inquietante, com atmosfera densa e alguns sustos memoráveis. Em seguida, “Recife Frio” (2009) apresenta um falso documentário com toques de ficção científica, no qual uma súbita mudança climática em Recife serve de pano de fundo para críticas sociais agudas, como a cena em que o filho de uma família rica decide se mudar para o quarto da empregada, por ser “mais quente”, escancarando as heranças coloniais da cidade.

Já o primeiro longa-metragem de ficção, “O Som ao Redor” (2012), é uma poderosa radiografia das tensões sociais brasileiras, condensadas em uma única rua de classe média recifense. Claramente influenciado por John Carpenter, o filme já evidencia a habilidade de Kleber em transformar espaços urbanos em territórios de conflito. Carpenter, aliás, também inspira “Bacurau” (2019), co-dirigido com Juliano Dornelles, uma distopia brutal, política, violenta e melancólica sobre resistência coletiva no sertão nordestino.

Entre esses dois marcos, está “Aquarius” (2016), estrelado por Sônia Braga, um retrato sensível e corajoso sobre memória, pertencimento e luta contra a gentrificação. Já “Retratos Fantasmas” (2023), seu documentário mais recente, propõe uma reflexão pessoal e histórica sobre os cinemas de rua de Recife, conectando o desaparecimento desses espaços à própria formação do cineasta, quando o fim de uma era se tornou o começo de outra.

“O Agente Secreto” parece condensar todos esses temas: memória, resistência, crítica ao poder e valorização da experiência cinematográfica — e levá-los a um novo patamar. Não é apenas um longa político: é um filme sobre o próprio ato de continuar existindo, de continuar criando, mesmo (ou principalmente) sob opressão, mostrando, por fim, que a vida, especialmente se vivida dentro de uma sala de cinema, presta.

Vida longa a “O Agente Secreto”!

serviço

35° Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema
Até a 26 de setembro de 2025 em Fortaleza
Informações: www.cineceara.com. Instagram: @cineceara
Acesso gratuito

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