O fotógrafo paulista Bob Wolfenson estará em Fortaleza, neste sábado (30), para falar sobre a sua trajetória de 50 anos na fotografia e a exposição “Retratos”, em cartaz no Museu da Fotografia de Fortaleza
Naara Vale
naaravale@ootimista.com.br
Uma passeada pelos retratos de Bob Wolfenson e a sensação é de que os retratados querem dizer algo para o expectador. O olhar expressivo e o semblante firme, porém tranquilo, comuns a quase todos os personagens, soam como uma assinatura do retratista. Em 50 anos de fotografia, Bob Wolfenson conseguiu imprimir aos seus trabalhos uma marca pessoal tão singular que, ao olhar para um retrato, de imediato o “jeito Bob de fotografar” se sobressai.
Uma pequena mostra desse olhar singular pode ser conferida na exposição “Bob Wolfenson: Retratos”, que está em cartaz no Museu da Fotografia de Fortaleza. Neste sábado (30), às 14h30, o fotógrafo estará no local para conversar com o público, num bate-papo em que ele fala da sua carreira, de trabalhos e de fotografia de um modo geral.
Preparada em 2018, a exposição “Retratos” reúne mais de 150 fotografias que marcaram a trajetória profissional de Bob como retratista. “Essas fotos são só um lado do meu trabalho que é o retrato, mas são os que me acompanham mais. Ela é a culminância desses anos todos em que eu pude encontrar essas pessoas. O retrato é um encontro”, define Bob Wolfenson ao O Otimista.
Entre os retratados estão nomes como Sônia Braga, Caio Fernando Abreu, Hélio Oiticica, Fernanda Montenegro, Caetano Veloso, Taís Araújo, Marília Gabriela, Laerte, Lula, Fernando Henrique Cardoso, Eduardo Suplicy, Pelé, Ronaldo e muitos outros. “Partimos de uma seleção inicial de mais de mil fotografias até chegarmos ao conjunto que apresentamos aqui na exposição. Foi um trabalho árduo, mas extremamente prazeroso”, comenta o curador.
Olhar de Bob
Na fotografia desde os 16 anos, quando começou a trabalhar na Editora Abril, Bob Wolfenson circula com a mesma singularidade entre a fotografia publicitária – em especial para o mercado de moda -, os nus e os retratos. Suas lentes captaram desde figuras emblemáticas que vivem da imagem, como Gisele Bündchen, até os mais tímidos pensadores, compositores, políticos e esportistas.
Em comum, a impressão de estarem todos muito à vontade diante da câmera. “O que eu percebo dessas fotos é que elas têm uma tônica. Independente de quem está retratado, há um modo de ser retratado, há uma estética, um fio condutor, apesar de serem pessoas muito díspares”, diz o fotógrafo.
Sobre a tal “captação da alma do retratado”, Bob rejeita. “Alguma verdade existe ali naquele momento, algum tipo de verdade que não é absoluta. Não acredito que o fotógrafo tem o poder de captar a alma das pessoas, acho uma invencionice até para dar uma valorizada na fotografia. Os encontros são muito breves para que eu consiga captar a alma de alguém”, reflete.
A capacidade de conseguir bons retratos de pessoas com as mais diferentes personalidades, Bob atribui ao seu jeito extrovertido e à cooperação e confiança do retratado. “Sou um retratista mesmo sem a câmera, tenho essa facilidade de entrada. Tem também a confiança de quem está sendo retratado. Retrato se faz de cooperação, confiança e entrega e, em geral, tenho isso das pessoas que fotografo”, resume.
Pergunta do Leitor
Iana Soares, fotógrafa – Em um Brasil de tantas violências e acirramentos, qual a contribuição que a fotografia (e principalmente o retrato) pode dar para fortalecer a empatia e o diálogo entre diferentes?
Bob Wolfenson– Acho que o Retrato é afirmação de um encontro entre pessoas. Ele é o resultado de uma cooperação entre fotografado e fotógrafo. Um ato humanista que vai de encontro à brutalidade que se instalou neste país.
SERVIÇO:
Exposição “Bob Wolfenson: Retratos”
Palestra com o fotógrafo neste sábado (30/11), às 14h30
Gratuito, inscrições em sympla.com.br
Museu da Fotografia Fortaleza (r. Frederico Borges, 545)
Visitação gratuita, de terça-feira a domingo, de 12h às 17h
Mais informações: (85) 3017-3661