Antes unânime entre os alimentos indispensáveis para a saúde, hoje o leite está no rol dos possíveis vilões. Afinal, ele faz bem ou mal à saúde após a idade adulta?
Naara Vale
naaravale@ootimista.com.br
Como mamíferos que somos, nascemos e nos alimentamos do leite materno ou de fórmulas lácteas que substituem o alimento natural. Passamos a infância ouvindo que leite é forte e bom para os ossos. Há algum tempo, no entanto, o leite entrou para a lista dos alimentos permeados de mitos. Além das alergias e intolerâncias cada vez mais recorrentes em crianças e adultos, processos inflamatórios e doenças graves têm sido atribuídas ao alimento. Mas afinal, o leite é mesmo um vilão na nutrição?
Segundo a nutricionista Raquel Teixeira, professora do curso de Nutrição da Unifametro, a recente má fama do leite deu-se pela popularização de conhecimentos acerca de distúrbios metabólicos atribuídos ao leite, (como intolerância a lactose, galactosemia, alergia, dentre outras) e pela maior facilidade de diagnóstico de tais distúrbios.
“Uma parte importante da população mundial é intolerante a lactose, contudo, isso se dá principalmente entre orientais que não conseguem, por questões de ordem genética/metabólica, processar o leite em sua digestão. Além disso, é importante saber que todas as pessoas, em maior ou menor grau, diminuem a sua capacidade de digerir a lactose com o aumento da idade, o que, de fato, pode repercutir em seu bem-estar”, explica a nutricionista.
Beber ou não beber?
Um dos questionamentos recentes acerca do leite é o sobre o poder inflamatório do alimento. De acordo com Raquel Teixeira, os processos inflamatórios podem ter gatilhos múltiplos e, poucas vezes, correlacionados exclusivamente a um fator ou a um alimento. “É possível que o leite desencadeie sozinho respostas inflamatórias em um sujeito, mas é preciso que o mesmo esteja em uma condição especial de saúde vulnerabilizada, seja de forma transitória ou crônica, como alergia ao leite, por exemplo”, explica a docente.
Como exemplo, ela aponta as disbioses, que são alterações da flora intestinal causadas por múltiplos fatores, mas, sobretudo, pela má alimentação rica em aditivos industriais maléficos à saúde. “O indivíduo torna seu corpo sensível a certas substâncias e, talvez, algumas delas presentes no leite. Dessa forma, o leite não gerou o processo inflamatório, podendo, no máximo, intensificar uma disfunção preexistente”, esclarece.
Outro mito em torno do leite é o de que adulto não precisa tomá-lo, pois os humanos seriam os únicos mamíferos a beber leite na fase adulta. De fato, ninguém é obrigado a beber leite, mas, se considerarmos que um adulto precisa de, no mínimo, 1g de cálcio por dia e que isso pode ser encontrado em cerca de 250 ml de leite, a bebida já ganha muitos pontos.
Benefícios
O leite entra naquela lista de alimentos completos, capazes até de substituir uma refeição. “O leite traz consigo diversos nutrientes essenciais à vida, tais como carboidratos (fonte imediata de energia), aminoácidos (blocos construtores do corpo e base para produção de proteínas e enzimas), gorduras (reserva de energia e fundamentais para composição das membras das células e formação de hormônios), vitaminas, sais minerais (que são importantes ativadores enzimáticos e constituintes de estruturas do corpo, como o Cálcio que entra na composição de ossos e dentes), além de conter água para hidratação”, aponta a professora.
Dessa forma, acredita a profissional, o leite é recomendável a todas as pessoas, exceto aquelas que possuam algum distúrbio metabólico, cujo o malefício pelo seu não processamento digestivo ou porque desencadearia uma reação alérgica ou adversa, não compensaria os seus múltiplos benefícios nutricionais. Ou quando contraindicado por avaliação médica. “A alimentação natural e balanceada, constituída por todos os grupos alimentares (incluindo o leite e seus derivados desnatados), é ainda a orientação mais segura para uma vida saudável”, conclui.