Marcos Lessa detalha construção do novo álbum, “Tudo pela Música”, onde homenageia Ba Freyre

O cantor cearense Marcos Lessa mergulha no universo de Ba Freyre em “Tudo pela Música”, o sexto álbum da carreira. Com arranjos de Cainã Cavalcante e participações de grandes nomes, o disco revisita a vasta e plural obra do compositor paraibano radicado no Ceará, celebrando melodias, ritmos e sentimentos que marcaram a MPB

Sâmya Mesquita
samyamesquita@ootimista.com.br

Se tem algo que Marcos Lessa sabe fazer é mergulhar de corpo e alma nas histórias que canta. Agora, o cantor cearense se lança em mais uma imersão profundo: desta vez nas águas de Ba Freyre. O resultado é “Tudo pela Música”, álbum que presta tributo ao compositor paraibano radicado no Ceará. “Foi uma seleção bem difícil. Ba deixou mais de 500 músicas e transitava por muitos estilos: MPB, samba, forró, boleros lindíssimos, música religiosa, sertanejo, rastapé…”, diz Lessa em entrevista exclusiva ao Tapis Rouge. “Escolhemos dez canções para contemplar essa diversidade, passando por bolero, MPB e samba, mas foi difícil chegar a esse número”.

Ba Freyre, ou José Zilmar de Queiroga Freire, dedicou mais de 50 anos de carreira à incansável divulgação da música nordestina. Conhecido como “menestrel brasileiro em Israel”, chegou a viver por três décadas na Terra Santa até falecer, em 2021, em Telavive. Após a partida, foi homenageado em shows e até batizou um palco no restaurante Illa Mare, em Fortaleza, onde Marcos costuma se apresentar com o Samba do Lessa. Para o cantor, a conexão com Zuellington Freyre, irmão de Ba e produtor executivo do disco, foi determinante. “O Zueli é um grande presente na minha vida como artista. Ele não descansou enquanto não viu essa joia sair da gaveta. É o grande realizador desse projeto”, afirma.

O disco, sexto da carreira de Lessa, conta com arranjos de Cainã Cavalcante e participações de Thiago Almeida, Amanda Santi e Nonato Lima, além de um time de músicos de ponta como Vinicius Matos, Hoto Jr., Netinho de Sá, Danilo Sinna, Jessé Sadoc e Rafael Rocha. A faixa-título é um samba vibrante que narra a trajetória nômade de Ba. A abertura, “Acender”, já deixa claro o tom do álbum: metais bem trabalhados e interpretações cheias de vigor. “Eu sou fruto das minhas referências musicais. Cresci ouvindo compositores que valorizam melodias bonitas, harmonias ricas e letras impecáveis. Gonzaguinha, Evaldo Gouveia, Ba… todos falam de amor e sentimento com originalidade. É o que considero o belo na arte, e que se encaixa muito bem na minha voz”, detalha o artista.

A espontaneidade é marca registrada do cantor – e foi justamente isso que impressionou Roberto Menescal, que já havia produzido o disco “Deslizando na Canção” (2019) e o comparou a Elis Regina e Emílio Santiago, por gravar todas as vozes de um álbum em um único dia. “Quem sou eu para estar nessa comparação? Mas acho que é porque eu mergulho mesmo no repertório. Quando chego ao estúdio, as canções já estão na minha carne. As músicas do Ba são difíceis, vão do grave ao agudo e têm muito ritmo e fala. Foi o trabalho mais complexo que já gravei”, conta. “E o segredo é amar e ser espontâneo. Isso deixa uma identidade única.”

Entre os destaques, ‘Talvez’, dueto com Amanda Santi, aposta de Marcos como a grande voz feminina da música brasileira. “Mesmo se eu não a conhecesse, eu diria isso. Antes de ser minha amiga, sou fã dela. Acho que Ba, quando compôs essa música, pensou num dueto, e o nome dela foi o primeiro que me veio”, diz. Já ‘Pra Cada Gesto Seu’ ganha intimismo com o acordeom de Nonato Lima, que, segundo Lessa, é o maior sanfoneiro do Brasil. “Foi ideia do Cainã Cavalcante e eu achei fantástica. Nonato é um gênio e uma honra no projeto”.

Para além do estúdio, os planos são amplos. “Considero esse disco um faixa azul da música brasileira. Todas as canções poderiam ter sido lançadas nos anos áureos da MPB. Tenho o dever de fazer esse projeto ser conhecido e que o nome do Ba nunca seja esquecido”, afirma. Para ele, Ba Freyre está na primeira linha da MPB: “Igualo o Ba a Caetano, Chico, Gil, Gonzaguinha, Ivan Lins, Fagner. Primeiro o Ceará precisa saber disso, depois o Nordeste e, enfim, o Brasil”.

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Álbum “Tudo pela Música (As Canções de Ba Freyre)”, de Marcos Lessa
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