Um dos ícones de Fortaleza, que completa hoje 295 anos, a Praia de Iracema tem vestido seus muros de cores, numa grande galeria a céu aberto desenhada por diferentes artistas. O bairro já conta com mais de 100 murais e a ideia é expandir esse colorido para mais espaços da capital
Naara Vale
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Fotos: Edimar Soares
Amores, dores, alegrias, formas de resistir e de existir, de protestar e de lembrar, ou simplesmente uma forma de colorir e divertir. As cores, desenhos e mensagens que alimentam os murais da Praia de Iracema são diversas. Artístico e boêmio por vocação, o bairro tem se tornado uma galeria a céu aberto, onde mais de 100 murais de artistas nacionais e internacionais convidam os moradores e visitantes a demorarem seus olhares e a passearem pelas ruas, vielas e calçadão do bairro, sentindo e vivenciando esse pedacinho de Fortaleza mais de perto. A arte urbana que se espalha pela Praia de Iracema é um ato de amor não só ao bairro, mas também a Fortaleza, que hoje completa 295 anos.
A sensação de quem passeia pelo bairro é de que os murais coloridos têm feito a vida do local pulsar com mais intensidade e com mais orgulho para os seus moradores. “Os moradores pedem e disponibilizam seus muros. A Praia de Iracema vira esse local de arte a céu aberto, de aconchego, de trazer as pessoas e convidá-las a andar, a fazer selfies, fotografias, de convidar pessoas de outros locais da cidade para vir conhecer a Praia de Iracema”, diz Paola Braga, diretora do Instituto Cultural Iracema.
Em 2020, a organização lançou um edital público selecionando 21 propostas de intervenção em arte urbana (com foco na linguagem do graffiti e muralismo) para colorir espaços da Praia de Iracema. Segundo Paola, a ideia é expandir essas ações para outros bairros da cidade. “A arte urbana tem uma força muito grande, principalmente, no sentimento de pertença da cidade. As pessoas precisam sentir que a cidade é delas para que elas possam cuidar melhor. Além disso, elas divulgam o artista, sua arte e, através da sua arte, o artista pode passar várias mensagens”, pontua a diretora.
Nascido e criado no Poço da Draga, comunidade localizada na Praia de Iracema, o geógrafo Sérgio Rocha, 36, diz que as pinturas têm ajudado a reocupar os espaços do bairro e colaborado para dar uma sensação de mais segurança ao local. “A gente percebe que a pessoas preferiam a rua Almirante Barroso e evitavam a Tabajaras porque tinha aquele cinza nos muros que remete a um lugar inóspito, inseguro. Hoje não. As cores, de forma espontânea, promovem a sensação de segurança, ao mesmo tempo que coíbem os grupos escusos de realizar atividades como assaltos, porque, quando um lugar tem uso e proposta estética, os grupos tendem a não atuar ali”, destaca o morador, referindo-se à rua dos Tabajaras, onde estão vários dos murais.
Mais cor para a cidade
O que se vê ganhar força na Praia de Iracema é uma das propostas do Festival Concreto, que desde 2016 faz intervenções de arte urbana em diversos espaços de Fortaleza, inclusive, na Praia de Iracema. Para o artista visual Narcélio Grud, diretor do Festival Concreto, a importância da ocupação de Fortaleza com trabalhos artísticos é por “deixar uma cidade mais sensível, usar a cidade como lugar de exposição onde essas obras ficam expostas gratuitamente e 24 horas por dia”.
“Ter a arte na rua é uma forma de sensibilizar e humanizar. Cada vez mais estamos vendo, com a atual situação de covid e polaridade política, o quanto a gente precisa estar mais sensível com o outro, estar mais aberto. Tenho total certeza de que a arte tem esse poder de tocar. E quando a arte é urbana, ela ainda vem com o caráter mais democrático, mais direto, mais poético”, define Grud.