Ao lado de Reynaldo Gianecchini, Grazi Massafera protagoniza filme Uma Família Feliz, suspense já disponível nos cinemas brasileiros, que desmistifica o ideal de família perfeita e toca em feridas profundas presentes na sociedade
Danielber Noronha
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Grazi Massafera foi responsável por entregar um dos maiores personagens da história recente da teledramaturgia brasileira, com a visceral Larissa, de Verdades Secretas (2015), uma modelo em decadência, que se deixa levar pelo submundo das drogas. Desde então, havia quase um clamor geral da audiência para ela receber outro personagem de carga dramática semelhante. Lá se foram quase dez anos, mas este momento finalmente chegou e se apresenta como um deleite para quem aguardava ansiosamente por tal oportunidade. Trata-se do longa-metragem Uma Família Feliz, disponível nos cinemas brasileiros a partir desta semana.
No suspense, Grazi encarna Eva, primeiro papel de destaque da atriz nas telonas. A mulher dá à luz o primeiro filho e precisa se desdobrar com as questões do puerpério, enquanto tenta conciliar com a criação das duas enteadas, fruto do primeiro casamento do marido, Vicente (Reynaldo Gianecchini), e ainda precisa lidar com os afazeres domésticos e as demandas do trabalho.
A dinâmica da família, que parece ter saído de um comercial de margarina, é abruptamente interrompida quando as gêmeas Sara e Angela aparecem com machucados misteriosos, episódios estes que também passam a acometer o bebê recém-nascido. É quando todas as suspeitas recaem sobre Eva e a personagem entra em desespero profundo, sem saber se teria sido mesmo capaz de machucar as crianças que tanto ama ou se o marido estaria por trás dos eventos de violência para culpá-la e afastá-la dos filhos.
É nos momentos de maior desespero da protagonista, que Grazi aproveita para mostrar a lição de casa que aprendeu em anos de estudos e trabalhos anteriores em telenovelas. O olhar angustiante, os trejeitos de quem está com a mente confusa e a tensão no modo de falar transportam o espectador para dentro daquela casa que parece estar abarrotada de segredos, frustrações e cobranças.
Gianecchini também cumpre muito bem o papel de dar vida a um homem que, da porta para fora parece íntegro, mas que exala machismo e preconceitos entre quatro paredes, comportamento já imprimido muito bem por ele com o missionário Matias, na segunda temporada da série brasileira Bom dia, Verônica (2020), produção original Netflix, com autoria de Raphael Montes.
Inclusive, o também escritor e roteirista é responsável pela argumentação, roteirização e assistência de direção em Uma Família Feliz, obra que já ganhou até um livro recém-lançado e também idealizado por Montes. A construção da narrativa feita por ele e materializada através da direção de José Eduardo Belmonte faz o público se questionar a todo momento quem é o responsável pelas lesões deixadas na criança: a mãe sobrecarregada, o pai ou a vizinha intrometida?
Uma das marcas mais presentes nas obras de Raphael Montes são os plot twists inesperados, recurso que também se apresenta de forma bastante eficiente neste filme, surpreendendo quem imagina saber qual seria o caminho adotado para o final da obra. O desfecho, inclusive, surpreende positivamente e arremata a história de forma crível, atual, dialogando fortemente com obras estrangeiras do gênero. Sem mais delongas, vale a pena ir aos cinemas para assistir e exaltar a potência que é o cinema nacional.
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Assista ao trailer:
Serviço
Uma Família Feliz
Com Grazi Massafera e Reynaldo Gianecchini
Filme em cartaz nos cinemas
Duração: 110 min