Eles estão no topo da lista dos alimentos benéficos, mas cientistas têm alertado sobre a crescente concentração de materiais tóxicos encontradas nos pescados. Felizmente, os benefícios seguem superando riscos e continuam fazendo deles uma excelente fonte de nutrição
Naara Vale
naaravale@ootimista.com.br
Fonte de gorduras boas, como o ômega 3, e de variadas vitaminas, os peixes são sempre vistos como uma excelente opção para uma dieta nutritiva e balanceada. Nas últimas décadas, no entanto, pesquisadores têm alertado tanto para a diminuição da população de peixes dentro de níveis biologicamente sustentáveis (de 90% em 1974 para 60% atualmente – dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura/ FAO), como para o crescente nível de materiais tóxicos encontrados nos pescados. E agora, comer peixe faz mal à saúde?
De acordo com a professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Oscarina Viana, pesquisadora do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), um pescado só trará riscos à saúde se o ambiente de origem estiver contaminado. “Temos uma variedade de contaminantes e poluentes que são despejados nos ambientes aquáticos: metais pesados, antibióticos, agrotóxicos e hormônios. Grande parte dessas substâncias carreada pelo descarte de esgotos domésticos e industriais, sem tratamento adequado”, explica.
Segundo ela, os riscos de contaminação ambiental por metais pesados, principalmente mercúrio, e outras toxinas são mais facilmente encontrados em regiões onde se tem presença de garimpos de ouro, bem como em locais com represamento de águas. “Nós [cearenses] temos uma costa aberta, sem represamento de água como acontece em baías e os peixes que compramos são capturamos em alto mar e, por isso, não sofrem influência do descarte de esgoto doméstico sem tratamento. Sob esses aspectos, eles são seguros, mas há de se ter cuidado com a condição sanitária também nos pontos de compra”, alerta a pesquisadora.
Benefícios superam
“Muitos estudos têm demonstrado que o consumo de pescado, desde que realizado de forma correta e equilibrada, oferece benefícios que superam os riscos, com exceção do consumo de alguns peixes, como, por exemplo, o tubarão e o peixe-espada, provenientes de áreas com altos níveis de contaminantes ambientais”, responde a nutricionista Lívia Campos.
Apesar dos alertas necessários – inclusive por questões de controle da poluição ambiental -, os pescados ainda são uma das melhores fontes de gorduras boas para o coração; de aminoácidos essenciais; de cálcio; e de vitaminas, como a B1, B2, B3, piridoxina e, especialmente, a B12, esta última importante na regulação do sistema nervoso, no metabolismo dos aminoácidos e ácidos nucleicos e essencial para a diminuição do nível de homocisteína, que se relaciona com doenças cardiovasculares.
O consumo de peixes é ainda um forte aliado no combate ao stress e à depressão, assim como ajuda no aumento da concentração e da memória, na maior proteção contra os processos vasculares inflamatórios e atua contra doenças mentais como, por exemplo, doença de Alzheimer. Diminuição do risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC) e a regulação do nível de açúcar no sangue também estão entre os benefícios proporcionados pelos pescados.
“Recomenda-se a ingestão de peixe gordo – como cavala, sardinha, salmão – duas a três vezes por semana, devido ao seu efeito protetor em relação às doenças cardiovasculares. Os estudos científicos apontam que o consumo de 85 gramas de peixe por dia é essencial para a redução do risco de doença cardiovascular. De qualquer modo, o consumo deve ser verificado de acordo com as especificidades de cada pessoa com o auxílio de um profissional nutricionista”, indica Lívia Campos, salientando que, para mulheres grávidas e crianças, o cuidado em relação à quantidade e o tipo de peixe a ser consumido deve ser redobrado.