Exclusivo: Fabiana Karla e Tânia Bondezan falam da peça “Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada”, em cartaz no Cine São Luiz

Com humor ácido e crítica social, “Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada” está em cartaz no Cineteatro São Luiz. Em cena, as atrizes Fabiana Karla e Tânia Bondezan conduzem a trama que conquistou o público por abordar de forma leve e irreverente temas profundos e reais. Ao Tapis Rouge, as protagonistas falam revelam detalhes da montagem

Onivaldo Neto

onivaldo@ootimista.com.br

As atrizes e comediantes Fabiana Karla e Tania Bondezan desembarcaram em Fortaleza para apresentar curta temporada da comédia “Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada”. Dos autores uruguaios Fernando Schmidt e Christian Ibarzabal, a peça estreou na capital cearense nesta sexta-feira, 20, no Cineteatro São Luiz e segue com mais duas sessões no equipamento – no sábado, 21, e domingo, 22. Dirigida por Odilon Wagner, o espetáculo também traz no elenco os atores Tadeu Tosta e Rafael Alvim, que junto das protagonistas, divertem o público com uma história acerca de temas como etarismo no mundo do trabalho e insegurança laboral. Em entrevista exclusiva ao Tapis Rouge, Fabiana e Tânia contam mais detalhes sobre a montagem e suas personagens.

“A peça é um prato cheio pra quem gosta de um humor inteligente, afiado, que te faz rir e ao mesmo tempo pensar. É aquele tipo de espetáculo que brinca com o absurdo da vida real. Você se pega rindo e, de repente, refletindo: ‘Ei, isso aqui é cômico, mas é sério também, viu?’. É uma comédia com aquele toque ácido, que só melhora com o tempo”, discorre Fabiana. “Eu acho que a melhor definição do espetáculo é que ele é uma comédia clássica, uma comédia de costumes. Nada contra, mas a piada não é feita por ela mesma. O que é engraçado na peça são as situações e as situações são hilariantes”, completa Tânia.

Humor com crítica

Em cena, é apresentada a história de Glória e Lúcia, personagens de Fabiana e Tânia, que trabalham cuidando de uma idosa sérvia chamada Radojka. A rotina corria de forma tranquila até que um dia Radojka acaba falecendo em um acidente doméstico trágico. A partir daí, uma série de infortúnios e situações inesperadas começam a surgir no caminho das protagonistas, que cômica e tragicamente bolam diferentes planos a fim de não serem demitidas. Por meio de um humor ácido, a obra discute temas sociais relevantes como o desemprego em certa idade, ganância, impunidade e o rompimento do limite da moralidade.

Sobre o desafio de fazer humor com temas sociais delicados como os que são abordados pela peça, Fabiana discorre: “O maior desafio é o respeito. Porque quando a gente escolhe tratar temas sensíveis com humor, a linha é fina. A gente precisa rir com, e não rir de. O humor precisa ser ponte, não muro. E essa peça consegue isso com maestria. Eu, como atriz e cidadã, me sinto desafiada e também muito grata por poder levar ao palco essa reflexão através do riso. Porque o riso, quando vem com verdade, transforma”, diz.

Tendo estreado em 2016, em Montevidéu, no Uruguai, a peça impacta não só culturalmente, mas também socialmente, como salienta a atriz Fabiana Karla. “A arte tem essa função social linda, de abrir conversas que às vezes a gente não sabe nem por onde começar. O teatro é esse lugar onde o espectador se vê, se reconhece, se incomoda, se emociona. E quando a gente leva essas questões para cena, a gente está dizendo: ‘Ei, isso aqui importa. Isso aqui precisa ser olhado com mais carinho, mais atenção.’ Cultura é lugar de memória, de crítica e de esperança”, pontua.

Tânia Bondezan faz coro à companheira de cena e complementa a fala da colega reforçando o papel transformador e político que o teatro e a comédia possuem. “(…) como se você colocasse uma lente de aumento em cima do cotidiano e aí você consegue analisar e enxergar coisas que acontecem na sociedade de uma maneira geral ou na sua vida. É nisso! Eu acho que a comédia tem um papel primordial, o humor tem um papel primordial. Ele faz a gente pensar sobre as mazelas da sociedade”, expõe.

Reflexão

O combo comédia e crítica social resultaram em sucesso de público e crítica para a peça. Reproduzido no Chile, Argentina, Espanha, Colômbia, Peru, México, Costa Rica, República Dominicana, Porto Rico, EUA e Panamá, o espetáculo possui em seu currículo os prêmios Estrella de Mar (2022), Carlos (2023) e ACE Awards (2023), na Argentina, e Bravo (2023), no México. Esse reconhecimento internacional reforça a potência da proposta cênica da peça e corrobora com a percepção acolhida do público, como indica Fabiana Karla.

“Acho que o público sai com a sensação de que o riso também pode ser um instrumento de crítica social, de empatia e de denúncia. Que por trás de cada gargalhada tem um olhar mais atento sobre as relações humanas, sobre o abandono, sobre o envelhecer, sobre a precariedade das relações de trabalho. A mensagem é clara: não basta rir, é preciso entender o que está por trás do riso”, reflete a atriz. “(…) em primeiro lugar, [o público] se diverte imensamente e sai pensando no limite da ética, até onde você iria para conseguir o que você quer”, completa Tânia.

Possibilidades futuras

Partiu do próprio dramaturgo Fernando Schmidt a vontade de realizar “Radojka” no Brasil. Originalmente, quando estreou no País, em março de 2024, a peça contava com Tânia Bondezan e Marisa Orth nos papéis principais. Tânia, que também assina produção do espetáculo ao lado do diretor Odilon, permaneceu no papel, enquanto Marisa deu lugar a Fabiana Karla na atual temporada. Até então, a história da peça ganhou o mundo apenas dentro dos limites do tablado, mas, se depender da vontade das protagonistas, outras plataformas também podem ser contempladas.

“Eu acho que essa história tem fôlego pra ganhar novos formatos, sim. Ela tem ritmo, personagens potentes e um enredo que renderia uma ótima minissérie ou até um longa. E olha… o humor ácido, quando bem adaptado pro audiovisual, fica ainda mais saboroso. Seria um prazer dar vida a essa personagem em outras linguagens”, almeja Fabiana. “Radojka no cinema, na televisão e em um seriado seria perfeita. Uma comédia montada, acho que mais para o cinema até, porque ela tem começo, meio e fim muito definidos”, conclui Bondezan.

serviço

Espetáculo “Radojka  –  Uma  Comédia  Friamente  Calculada”

21 e 22 de junho – sábado às 17h e domingo às 18h

Cineteatro São Luiz (R. Major Facundo, 500 – Centro)

Ingressos entre R$25 e R$ 120,00

Vendas: online pelo Sympla, no site radojka.art.br/ e na bilheteria do cineteatro

Classificação: 12 anos

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