Explorando a ancestralidade, espetáculo “AZIRA’I” ganha o palco do Cineteatro São Luiz no fim de semana

Memórias, ancestralidade e cura se entrelaçam no espetáculo “AZIRA’I”, musical que entra em cartaz no Cineteatro São Luiz neste fim de semana. Trabalho mergulha nas lembranças da atriz e diretora maranhense e em sua relação com a mãe, Azira’i. Em entrevista ao Tapis Rouge, protagonista divide detalhes sobre a montagem

Onivaldo Neto
onivaldo@ootimista.com.br

Memórias carregadas de sentimentos de uma filha com sua mãe são a força motriz de “AZIRA’I”, musical solo autobiográfico que chega a Fortaleza, no Cineteatro São Luiz, para apresentações nesta sexta-feira, 7, e sábado, 8, às 19h. Estrelado e co-escrito por Zahy Tentehar, em parceria com Duda Rios, o espetáculo mergulha fundo na relação da atriz e sua mãe, Azira’i — a primeira mulher pajé da reserva indígena de Cana Brava, no Maranhão, onde ambas nasceram. Destaque em festival de teatro na França, a montagem — dirigida por Denise Stutz e Duda Rios  — é vencedora de dois Prêmios Shell, principal honraria do teatro nacional.

De forma exclusiva ao Tapis Rouge, Zahy revela mais detalhes acerca da produção, na qual ela descreve como um “espetáculo atual, tecnológico e político”. “São as minhas memórias, em primeiro plano, com a minha mãe. Fala da relação de duas mulheres, como mãe e filha. Fala também sobre a reprodução dos padrões que a gente adquire na infância e também da quebra desses padrões. É um espetáculo que também aborda o aculturamento dos povos indígenas, contando especialmente a história dessa família, que é uma família em muitas das famílias do nosso Nordeste, do nosso País… dos povos indígenas”, define a protagonista.

Preparação

Submergir em suas próprias lembranças para realizar o espetáculo foi, e continua sendo, uma tarefa delicada para a protagonista. “Eu entendo que para mim [mergulhar nessas memórias] é o meu maior desafio todos os dias e toda vez que eu faço. Não tem como outra atriz fazer isso. Somente eu posso fazer isso. Também me traz ali uma carga de responsabilidade muito grande”, expressa. Contudo, também surge uma nova maturidade com cada interpretação dessas recordações em cena, segundo a artista. “Traz um nível de entendimento da situação, de me colocar fora também. Para eu não me envolver tanto como a Zahy, mas também entregar isso com dignidade que precisa”, relata.

Essa relação entre memória e expressão artística também se manifesta na peça através da música — elemento essencial da narrativa de “AZIRA’I”, que está intrinsecamente ligado à sua história familiar e tradição: “Desde a minha adolescência eu sempre vi minha mãe cantando. Então, eu sempre tive ali contato muito direto com a música. Não tive nenhuma preparação especial, mas logo no início quando a gente entendeu que seria o musical, eu tive algumas aulas com uma fono. Ela trouxe algumas ferramentas, me ensinou algumas coisas, tipo aquecimento. Isso me fortaleceu o que eu já tinha, porque são canções autorais, criadas para o espetáculo e tem outras que são cantos tradicionais, passados de gerações para gerações”, conta

Espetáculo político

Como parte da proposta da montagem, Zahy alterna cenas em português e em Zeeng, língua indígena originária. Essa escolha, segundo a atriz, além de um ato artístico, é também uma atitude política e estratégica. “É também comunicar para as pessoas que para que elas possam ter a oportunidade de ouvir a sonoridade de uma língua indígena. E também delas se questionarem porque elas não entendem essa língua indígena. Tem um momento que eu deixo a plateia cantando sozinha e elas se percebem falando essa língua originária”, pontua.

Essa defesa da língua materna no palco encontra eco ainda na principal mensagem que a montagem pode proporcionar ao público, conforme a atriz. O espetáculo também comunica que são muitas as linguagens e que nós temos a nossa própria linguagem teatral, e que ela precisa ser vista. E que as pessoas também precisam olhar para isso com carinho e atenção e cuidar disso. É a nossa cultura, completa.

serviço

Espetáculo “Azira’i – Um musical de memórias”
Dias 7 e 8 de novembro (sexta e sábado), às 19h.
No Cineteatro São Luiz (Rua Major Facundo, 500 – Centro. Fortaleza, Ceará).
Duração: 90 minutos
Ingressos: R$ 100 (inteira), R$ 50 (meia), R$ 42 (Ingresso promocional) e R$ 40 (funcionários Petrobrás, mediante apresentação do crachá funcional), nas bilheterias físicas do Cineteatro São Luiz ou no site Sympla.

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