Exclusivo: Sérgio Machado fala do documentário “3 Obás de Xangô”, que resgata a amizade de Jorge Amado, Dorival Caymmi e Carybé

Dirigido por Sérgio Machado, “3 Obás de Xangô” mergulha na amizade duradoura entre Jorge Amado, Dorival Caymmi e Carybé, figuras-chave na formação do imaginário da baianidade. Em entrevista ao Tapis Rouge, o diretor explica por que esse legado cultural continua relevante até hoje

Gabriel Amora 

amoragabriel@ootimista.com.br

“3 Obás de Xangô”, dirigido por Sérgio Machado, é um mergulho na Bahia que vai muito além da geografia, explorando afetos, memórias e tradições culturais. O cineasta, responsável pelo aclamado “Cidade Baixa”, define este documentário como “o mais pessoal” de sua carreira, por reunir elementos de sua própria história de vida e da formação cultural que o acompanhou desde a infância.

O filme, que conta com sessões no Cinema do Dragão do Mar, em Fortaleza, acompanha a amizade duradoura entre Jorge Amado, Dorival Caymmi e Carybé, artistas que ajudaram a moldar o imaginário da baianidade, cujas obras ainda influenciam gerações. Para eles, a força de suas criações estava em registrar o cotidiano: a resistência do povo do candomblé, a presença marcante das mulheres e a onipresença do mar. Os livros de Amado, as músicas de Caymmi e as pinturas e esculturas de Carybé consolidaram uma maneira singular de viver e perceber a Bahia, criando um legado cultural que permanece vivo.

Machado, em entrevista exclusiva ao Tapis Rouge, conta que seu vínculo pessoal com essas histórias tornou o projeto ainda mais significativo: “Minha mãe era militante na luta contra a intolerância religiosa. Sempre fui muito próximo a ela e cresci frequentando terreiros. Muitos personagens desses espaços passaram pela minha casa e entraram na minha vida”. Essa experiência pessoal acabou se refletindo no olhar do diretor sobre o documentário, que une narrativa histórica e memória afetiva.

O projeto começou a partir da ideia de trabalhar com cartas trocadas entre os artistas, mas Machado decidiu inserir sua própria perspectiva: “Quis mostrar como essa história se conecta com a minha vida, incluindo elementos do candomblé e da minha família, para chegar a um projeto que fosse realmente meu”. O diretor também destaca a riqueza do material que compôs a base do documentário: “Tínhamos uma quantidade absurda de conteúdo. Quando João Moreira Salles soube que eu faria o documentário — ele que já havia feito um sobre Jorge Amado —, me entregou horas e horas de entrevistas. Além disso, vasculhamos arquivos pelo mundo com imagens de candomblé, muita coisa linda que eu queria abordar. Era tanto material que quase virou uma série, um episódio para cada um, mas logo voltamos ao formato de documentário”.

Ainda à reportagem, Machado revela detalhes sobre seu próximo projeto: “Meu próximo filme será um suspense chamado ‘Eternamente Sua’. Perceba que falo de temas semelhantes, mas o que me motiva é que cada projeto seja diferente do anterior, para experimentar novos ambientes. Tenho paixão por narrar histórias e transito entre documentário e ficção. Meus filmes de ficção muitas vezes parecem documentários, porque trabalho nessa interseção. E o foco feminino é algo que sempre trago: meus protagonistas giram em torno de mulheres centrais, fortes, como em ‘3 Obás’, inspirado pela Bahia feminina”. (Por Gabriel Amora)

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