Um dos nomes de maior destaque no universo do storytelling, Luiz Telles é um verdadeiro arquiteto de narrativas. Em entrevista exclusiva ao Tapis Rouge, o profissional divide sua visão sobre a ferramenta de comunicação e outros assuntos, como impacto da tecnologia na imaginação e como a autenticidade se tornou o diferencial crucial na era da pasteurização digital
Onivaldo Neto
onivaldo@ootimista.com.br
Foi ainda muito jovem, ao reimaginar histórias em quadrinhos, que Luiz Telles começou a construir sua carreira no universo do storytelling. Atualmente chief story officer do A-LAB, diretor nacional de storytelling e inovação da Artplan e cofundador do The Long Game, o profissional é não apenas uma das grandes referências na área, mas também especialista em criar narrativas envolventes a partir das mais diversas ocasiões. Entre elas estão grandes eventos nacionais, como Lollapalooza, The Town e Rock in Rio, nos quais — liderando uma equipe com mais de 400 profissionais — ele entregou cerca de cinco mil conteúdos ao vivo, todos com alto valor narrativo. Em entrevista ao Tapis Rouge, Telles, que recentemente marcou presença em Fortaleza como palestrante do evento “Mundo Unifor”, compartilha visão sobre o potencial transformador do storytelling, explorando também contextos em que essa ferramenta de comunicação ganha ainda mais destaque.
O papel no digital
“Autoconhecimento e construção de confiança para expressão original”, esse é o papel essencial do storytelling para o especialista. Ainda segundo ele, para haver uma expressão autêntica dentro do cenário digital, é preciso identificar o que faz de uma pessoa ou marca tão singular. “Isso começa ao revisitar minha própria história pessoal. As histórias transformam de dentro pra fora e isso é percebido pela audiência e pelas pessoas”, diz. Para isso, ele indica a criação de conteúdos autorais, que desafiam o algoritmo e consolidam uma voz pessoal e única, sendo essas as tendências de formato cruciais para o futuro do storytelling. “(…) cada vez mais isso vem acontecendo em plataformas onde se estabelece claramente uma comunidade ao entorno daquele conteúdo. Acho que vamos ter um retorno de plataformas digitais proprietárias novamente, site, blogs e newsletters”, prevê.
Contudo, apesar do digital ser um campo fértil para o storytelling, viabilizando plataformas para a aplicação e veiculação da técnica, Telles aponta para uma questão delicada envolvendo a tecnologia. “Estamos terceirizando nossa relação com o mundo para os dispositivos e a tecnologia. E isso, juntamente com o uso das mesmas ferramentas de inteligência artificial, está gerando uma pasteurização da expressão e causando um retrocesso da nossa capacidade de imaginar”, pontua. Como solução para tal situação, Luiz Telles propõe “re-olhar” o mundo. “Começando pelos pequenos detalhes do dia a dia da nossa rotina. É estabelecer uma forma de capturar esses momentos para que possamos recuperar um pouco dessa sensação física que não pode ser reproduzida por modelos de linguagem. Um exercício que eu proponho a partir da minha experiência com meus cadernos de bolso, que servem para registrar o que acontece à minha volta”, detalha.
Mercado da influência
E é justamente essa busca por um olhar manual e genuíno que foge à uniformização digital e nos conduz diretamente de volta à autenticidade. De acordo com pesquisas, o Brasil lidera o ranking de países com mais influenciadores digitais – são quase 4 milhões. Dentro dessa saturação, onde quase todos são produtores de conteúdo, o storytelling se torna o diferencial crucial, como discorre Luiz. “O Storytelling ajuda criadores e influenciadores digitais a definirem sua própria história e, consequentemente, seus respectivos territórios de conteúdo. Ao falar com consistência, do seu próprio jeito, sobre coisas que estão conectadas com o perfil, a autoridade cresce de forma quase que natural”, aponta.
Futuro
Ao projetar como essa autenticidade se manifestará em um mundo cada vez mais tecnológico, Telles compartilha sua visão ousada para o futuro das narrativas: “Eu imagino um futuro onde produzir coisas malucas e ideias criativas seja cada vez mais viável, seja para alguma finalidade prática, seja pelo simples exercício de encantar e emocionar as pessoas. Eu imagino um futuro onde teremos narrativa personalizadas, como canais exclusivos que vão adaptar as histórias distribuídas nesses canais de acordo com o contexto onde estamos. Velocidade, roteiro, luz, som, tudo muito flexível e adaptável em tempo real, enquanto consumimos. E eu imagino um futuro onde esse excesso de interação com dispositivos gera uma busca por experiências milenares de contação de história em volta de fogueiras, físicas ou não, para que possamos nos reconectar com o mundo e com os outros”, conclui.






















