Entrevista: Alexandre Herchcovitch fala sobre o atual momento da moda e de sua trajetória

Em Fortaleza para concretizar parceria com a Santana Textiles, o estilista Alexandre Herchcovitch conversou com O Otimista e falou da parceria, do atual momento da moda e da sua trajetória

Texto: Naara Vale
naaravale@ootimista.com.br
Foto: Beatriz Bley

Se tivéssemos que definir em uma única palavra os quase 30 anos de carreira de Alexandre Herchcovitch, ela certamente seria versatilidade. Há tempos, a definição como estilista deixou de caber ao paulistano de 49 anos que aprendeu a costurar dentro de casa com a mãe, ainda adolescente. Como ele mesmo se define, Herchcovitch hoje é um designer que faz moda, ou não.

Sua trajetória contabiliza desde a criação de produtos para grandes magazines, inúmeros desfiles na São Paulo Fashion Week e em Nova York, abertura de loja no Japão até a assinatura de peças exclusivas para grandes personalidades internacionais. Lady Gaga, por exemplo, é uma das que vira e mexe aparece com um look do estilista brasileiro. A versatilidade de Herchcovitch, entretanto, se estende também à criação de peças para além das roupas. Produtos de decoração de casa, telas de celulares e até isqueiros já ganharam o design dele. Hoje, além da colaboração com diversas marcas, ele cria peças para À La Garçonne, marca criada pelo marido Fábio Souza.

O trânsito entre os diversos mundos faz de Herchcovitch um grande homem de negócios, que sabe utilizar seu conhecimento de matéria-prima, criatividade e a vontade de inovar em produtos para tecer parcerias com as mais diferentes empresas. Essa foi uma das características que impulsionou a mais recente delas, com a Santana Textiles, uma das maiores indústrias têxteis do Brasil. “Como ele tem conhecimento de base, sabe que o que está criando pode ser feito. Na moda tem a questão lúdica, mas a gente nunca pode esquecer que o que está sendo criado, precisa ser feito. O que eu mais admiro nele é a capacidade de mesclar tudo”, diz Antonio Manzarra, diretor comercial da Santana Textiles.

Em Fortaleza para conhecer as instalações da nova parceira e definir os novos projetos com a Santana, Herchcovitch conversou, com exclusividade, com O Otimista. Na entrevista, ele falou sobre o atual momento da moda, sua trajetória e das ideias que estão surgindo com a gigante do denim, matéria-prima que, para ele, é a mais versátil e democrática que existe. “A Santana eu conheço há muito tempo, mas o que me atraiu a trabalhar com eles é que eles prezam muito pela qualidade e tudo o que eu faço, eu coloco o máximo de qualidade que consigo. Isso me deu o start de continuar conversando e dando ideias para eles”, conta o designer.

O Otimista – A pandemia mudou a sua forma de ver e fazer moda?

Herchcovitch – A metodologia não mudou, mas a gente está tendo que observar muito o que o cliente está querendo nesse momento em que ele não pode sair de casa para comprar e tem que comprar online. Quais são as necessidades mais emergenciais dele que estava vivendo basicamente dentro de casa? Então, isso faz com que a gente repense a questão de conforto, de durabilidade das peças. É um novo jeito de consumir que as pessoas estão vivendo.

O Otimista – Você disse acreditar que o consumidor pós-pandemia vai buscar mais qualidade do que quantidade. Esse novo perfil de consumo deve permanecer mesmo quando a pandemia passar?

Herchcovitch – Espero que as pessoas realmente repensem essa questão do consumo e eu já vinha percebendo uma atração das pessoas por consumir produtos que durem mais no guarda-roupa, o que foi uma resposta ao fast-fashion. No fast-fashion, as pessoas enlouquecidamente iam comprando semanalmente um monte de coisa que, às vezes, não tinha tanta qualidade e tinha um design mais marcante, que a pessoa enjoava rápido. Vejo as pessoas hoje querendo comprar um design mais atemporal. Com a pandemia, isso vai dar uma acentuada.

O Otimista – A gente fala muito no futuro, especulando as mudanças que virão, mas o que você já vê de mudança na moda neste momento? As marcas já mudaram seu modo de fazer moda?

Herchcovitch – As marcas estão respondendo muito rapidamente a essa questão. Elas estão observando muito como o consumo está acontecendo. Acho que a maior mudança aí é que, de fato, o consumo online se firmou de uma forma muito contundente no nosso dia a dia. Você vê que tem muita gente que nunca consumia online e a primeira vez foi agora na pandemia, tanto alimentos quanto roupas, coisas para casa, tudo o que se pode imaginar. Acho que isso foi a grande mudança do consumo e das marcas, que empenharam mais tempo, energia e tecnologia para aperfeiçoar essa compra online e não perderem a venda. Foi um momento bom até para as marcas pequenas que não teriam dinheiro para abrir uma loja.

O Otimista – Como você se define enquanto estilista/criador?

Herchcovitch – Na verdade, eu sou um designer que faço moda. Posso também não fazer moda. Eu trabalho muito também em juntar empresas para fazer negócios. Meu trabalho deu uma evoluída para outros ramos conforme a experiência que eu adquiri em 30 anos. Então, tem empresas que trabalho só fomentando produtos de licenciamento para ela, outras que eu trabalho desenhando roupa, outras, produto, tecido… Sempre fui aberto a oportunidades que não fossem somente desenhar roupas e, sim, criar outros produtos. Eu já tive vários produtos para casa, outras ramificações que não eram roupa.

O Otimista – Uma das suas parcerias mais recentes é com a Santana Textiles. Como será essa união de forças?

Herchcovitch – Temos feito rodadas de conversas com clientes e também em alguns eventos que a Santana participa. O denim pra mim é a matéria-prima mais democrática que existe, todo mundo tem mais de uma calça jeans no guarda-roupa, então é uma matéria prima democrática que tem tudo a ver comigo.

O Otimista – O que você levou em consideração ao firmar essa parceria?

Herchcovitch – A Santana eu conheço há muito tempo, mas o que me atraiu a trabalhar com eles é que eles prezam muito pela qualidade e tudo o que eu faço, eu coloco o máximo de qualidade que consigo. Isso me deu o start de continuar conversando e dando ideias para eles. Tudo o que eles lançam já está aprovado e é de extrema qualidade, então acho que é isso que me puxa para ficar aqui.

 

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