Aos 83 anos, Gilberto Gil transforma a experiência de vida em espetáculo ao cantar a turnê de despedida “Tempo Rei”, que traz a Fortaleza, em dois shows, neste fim de semana. Ao Tapis Rouge, fãs falam da expectativa para as apresentações, enquanto especialista destaca importância simbólica da presença ativa de Gil nos palcos
Sâmya Mesquita
samyamesquita@ootimista.com.br
Há algo em Fortaleza que parece conversar com a arte de Gilberto Gil: o vento que sopra do mar, o calor das ruas, o carinho de um público que o acolhe há décadas. A Capital, que já testemunhou tantos capítulos de uma trajetória de sucesso, recebe o ícone da MPB neste fim de semana para duas apresentações da turnê “Tempo Rei” – a despedida dele dos grandes palcos. O show deste sábado (15) já está esgotado, enquanto ainda restam poucos ingressos para o domingo (16), à venda no site eventim.com.br.
O tempo como espetáculo
A turnê percorre dez capitais brasileiras, celebrando seis décadas de carreira de um dos maiores nomes da música mundial. No palco, um vórtex de LED suspenso se torna o centro da narrativa visual: um símbolo da passagem e da circularidade do tempo, tema que Gil sempre abordou com lirismo. A cenografia e a direção artística de Rafael Dragaud, somadas à direção musical de Bem Gil e José Gil, dão forma a uma celebração imersiva e sensorial da entidade que o cantor mais canta e filosofa: o tempo. E, para Gil, o tempo é o agora.
Mais do que um show de despedida, “Tempo Rei” é um encontro entre gerações. O cantor baiano está acompanhado de filhos, netos e amigos de estrada: Bem Gil, José Gil, João Gil e Nara Gil, além de músicos como Mestrinho, Leonardo Reis e Diogo Gomes. A espontaneidade também se manifesta nas participações especiais, mantidas em segredo até o momento do show. Em outras cidades, nomes como Chico Buarque, Anitta, Caetano Veloso, Marisa Monte e Liniker subiram ao palco, representando a força criativa da música brasileira que se reinventa com o tempo.
Despedida
O impacto emocional dessa turnê é sentido em cada cidade por onde passa — e Fortaleza não é exceção. O psicólogo Denilson Dimas, de Tauá, viajará mais de 300 quilômetros só para assistir ao espetáculo. “A música dele faz parte da trilha sonora da minha vida: me lembra dos amores, das festividades e da minha infância, assistindo ao Sítio do Pica-Pau Amarelo. Saber que é a turnê de despedida torna tudo mais urgente e emocionante”, diz ao Tapis Rouge. Já o redator publicitário Daniel Moreira compartilha que é um privilégio ver uma entidade como Gil pela última vez nos palcos. “Ele é um dos artistas mais influentes e fecundos do mundo, e o setlist dessa turnê é um tributo à sua obra. Vamos cantar juntos como quem agradece por viver no mesmo tempo que ele”, afirma.
Para a consultora de gastronomia Vanessa Santos, que associa a figura de Gil a algo quase espiritual, o artista simboliza vitalidade e sabedoria. “Gilberto Gil é um orixá. Fui ao show de reggae dele há muitos anos e me impressionei com a quantidade de jovens cantando suas músicas. Ele já era grisalho, mas cheio de energia. Olhei e pensei: isso é envelhecer bem. Ser respeitado e amado por todas as gerações”, conta.
Envelhecer no palco
Aos 83 anos, Gil continua desafiando os estereótipos do envelhecimento. A energia no palco, somada à lucidez e ao vigor criativo, se torna um exemplo de longevidade ativa. Renata Marinho Pereira, especialista em Gerontologia e diretora adjunta da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), explica: “A rotina intensa de shows de Gilberto Gil é um exemplo marcante de envelhecimento ativo e bem-sucedido. Ele ressignifica essa fase da vida, mostrando que pode ser um período de engajamento, criatividade e propósito”.
A presença do cantor nos palcos também dialoga com o recente tema do Enem: “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”. Segundo Renata, a vitalidade de Gil e os desafios estruturais do envelhecimento no Brasil revelam um importante contraste. “Enquanto o Enem discute os obstáculos da velhice no País, Gil nos mostra um ideal possível: envelhecer com dignidade, visibilidade e alegria. Seu exemplo inspira e simboliza o que chamamos de envelhecimento produtivo e pleno”, analisa.
A médica destaca ainda que artistas como Gil não apenas inspiram, mas redefinem o imaginário coletivo sobre o envelhecer: “Ele nos convida a repensar a velhice, não como um declínio, mas como uma fase de contínua contribuição e plenitude. É uma mensagem urgente para a sociedade brasileira”.
Um legado atemporal
Ao subir ao palco do Centro de Formação Olímpica, Gilberto Gil não apenas canta sucessos como “Drão” e “Andar com Fé”: ele transforma o tempo em arte. Em cada acorde, há gratidão de uma multidão; em cada verso, um aceno para o futuro da música. “Tempo Rei” é, antes de tudo, uma despedida que celebra o presente. Um lembrete de que viver é seguir cantando, mesmo quando o tempo pede uma pausa.
serviço
Gilberto Gil: Turnê “Tempo Rei”
Neste sábado (15) e
domingo (16), às 19h
No Centro de Formação Olímpica (CFO).
Av. Alberto Craveiro, s/n
Ingressos a partir de R$ 125, à venda em eventim.com.br/giltemporei






















