A partir da desconstrução da bandeira do Brasil, o artista plástico Cadeh Juaçaba propõe ao público reflexões sobre o atual momento político e social na exposição “Panóplia Paradoxo”, que entra em cartaz neste sábado (10)
Naara Vale
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Símbolos nos comunicam, nos impõem regras, nos orientam caminhos, nos dão informações que, no piloto automático, não nos damos conta dos detalhes de informações que eles carregam através de suas letras, formas, cores e desenhos. Sob o olhar do artista plástico cearense Cadeh Juaçaba, no entanto, nada disso passa despercebido. Há três anos, ele dedica sua pesquisa aos símbolos e signos da pátria. A partir deste sábado (10), mais um resultado desses estudos poderá ser visto na exposição “Panóplia Paradoxo”, que entra em cartaz Galeria Leonardo Leal, em Fortaleza.
A mostra individual reúne trabalhos recentes do artista e traz 26 obras construídas nas diferentes linguagens com as quais trabalha: pintura, escultura, fotografia e desenho. O ponto de partida para todas elas é a bandeira do Brasil, da qual é tirada a paleta de cores que predomina em todas as obras. O tom das cores, entretanto, traz um certo desgaste, representando as bandeiras brasileiras que deixaram de aparecer apenas na Copa do Mundo e estão desbotando sob sol e chuva nas janelas de Fortaleza.
Segundo Cadeh, a ideia de trabalhar os símbolos e brasões tem muito da sua formação em Publicidade e Propaganda. Tem também uma certa influência das coleções feitas pelo pai, mas, principalmente, vem do incômodo causado por ver símbolos de identidade da república democrática brasileira voltarem a ser atrelados a questões político-partidárias. “Vejo nessa exposição a possibilidade de mostrar em Fortaleza um trabalho que reflete o tempo em que vivemos, explorando questões relevantes, a nossa atividade política e social,” explica o artista plástico.
A proposta não é falar de política diretamente – nem mesmo a bandeira do Brasil é utilizada de forma explícita -, mas os sinais como a utilização de trechos do poema “Navio Negreiro”, de Castro Alves, deixam claro que o artista quer se colocar e propor ao seu público reflexões nesse campo. “A gente está passando por um momento no Brasil em que, principalmente como artista, não posso deixar de ter opinião e de levar isso ao meu público. Ela [a exposição] não necessariamente é panfletária. Ela é potente na proposta de você reconhecer o símbolo e observar que esses símbolos estão sendo sequestrados”, diz Cadeh.
“Panóplia Paradoxo” dá sequência à proposta iniciada pelo artista plástico no seu trabalho “Eles Não Sabem as Armas que Têm”, de 2019, com a qual fez a sua estreia em solo internacional, levando a exposição para Lisboa. “Elas não têm um discurso uno, mas é uma continuação orgânica do meu processo de pesquisa, agora abordando um símbolo bem mais universal que é a bandeira do Brasil”, lembra.
Outra característica da exposição é a ausência de um texto curatorial para abrir mais possibilidades à interpretação do espectador. “Escolhi não ter um texto curatorial para não guiar o olhar ou a ficção que as pessoas podem criar. As obras têm muita ficção, muito absurdo, por mais que seja uma exposição elegante”, explica Cadeh.
Dicionário:
Por “Panóplia”, entende-se a composição ou coleção de bandeiras e mastros, seguindo a desconstrução formal e conceitual do que está posto como simbólico nas obras da exposição.
Serviço:
Exposição individual “Panóplia Paradoxo”, de Cadeh Juaçaba
Quando: de 10 de julho a 10 de agosto de 2021
Onde: Galeria Leonardo Leal (rua Visconde de Mauá, 1515 – Aldeota)
Mais informações: 3111.5378