Em cartaz nos cinemas nacionais, saiba o que esperar de “O Esquema Fenício”, novo longa do cineasta Wes Anderson 

Exibido no Festival de Cannes e já em cartaz nas telonas brasileiras, O Esquema Fenício é o mais recente trabalho do cineasta Wes Anderson, que se reinventa e traz um novo frescor para a própria forma de fazer cinema

Gabriel Amora
amoragabriel@ootimista.com.br

Quando Wes Anderson despontou no cenário cinematográfico nos anos 1990, ao lado de nomes como Quentin Tarantino, David Fincher e Paul Thomas Anderson, a novidade era o máximo. Suas narrativas familiares, envoltas por trilhas sonoras peculiares, enquadramentos milimetricamente compostos e elencos carismáticos, conquistaram rapidamente o público e crítica. Mas, com o tempo, o excesso acabou obscurecendo a substância. O que antes era inovação passou a soar como fórmula repetida.

Seus temas centrais – perdas, reconciliações, afetos profundos e primeiras experiências amorosas – continuam a pulsar em seus roteiros, mas o estilo, tão marcante, começou a dar sinais de desgaste. O resultado? Filmes belos, sim, mas previsíveis e menos impactantes do que antes.

É nesse preocupante cenário que recebemos O Esquema Fenício, revelado ao mundo em estreia no último Festival de Cannes, com exibição já nos cinemas, incluindo praças brasileiras. Admito que a expectativa era baixa, mas bastaram os minutos iniciais para perceber uma mudança de tom, dado que, pela primeira vez, o cineasta misturou humor com violência explícita. Logo antes dos créditos de abertura, uma explosão corporal – no sentido literal – dá o tom de um grotesco estilizado, quase animado, que surpreende e até desconcerta os admiradores mais devotos da carreira.

Com esse ingrediente, o filme se apresenta, no fundo, como uma espécie de experimento de Wes Anderson com o universo dos filmes de ação – ou, ao menos, uma paródia refinada desse território até então inexplorado por ele. Consequentemente, o cineasta adota uma paleta menos vibrante, reduz o melodrama, flerta com um humor de conotação mais sexual e revisita seus famosos enquadramentos simétricos, agora com propósitos diferentes dos que marcaram a fase inicial de atuação dele.

A nova aventura
A trama acompanha Zsa Zsa Korda, interpretado pelo sempre magnético Benicio del Toro, um magnata global que manipula soviéticos e americanos ao bel-prazer. Quando percebe que há uma fila crescente de pessoas querendo vê-lo morto, decide reencontrar a filha – uma jovem prestes a fazer votos como freira, vivida por Mia Threapleton – para lhe deixar toda a herança. Ela, por sua vez, repudia tudo o que ele representa.

A premissa é instável, quase improvável, mas funciona dentro do universo andersoniano, onde a busca por perdão e reconexão familiar está ad infinitum. Na jornada, rostos já conhecidos do diretor retornam. São eles: Tom Hanks, Scarlett Johansson, Benedict Cumberbatch, Bryan Cranston, Jeffrey Wright, Mathieu Amalric e Richard Ayoade. Em um ponto escondido da narrativa (sem spoilers!), está Bill Murray, o colaborador mais frequente do diretor.

Entretanto, quem realmente se destaca é Michael Cera, na primeira colaboração com Wes. Interpretando Bjorn, um tutor que acaba promovido a assistente, Cera exibe um timing cômico afiadíssimo, totalmente alinhado ao roteiro do cineasta. O personagem, encantado pela personagem de Mia, é um dos grandes acertos da narrativa. Há muitas cenas envolvendo os dois que vão te fazer se apaixonar também.

Por fim, O Esquema Fenício é pura vibração. Parece que Wes Anderson, esgotado da própria fórmula, decidiu buscar um novo fôlego criativo – e, nesse movimento, entregou o projeto mais instigante em muito tempo. Quase como uma coletânea dos grandes momentos da carreira reunidos em um único longa, o filme representa uma síntese inventiva e revigorada do estilo estabelecido por ele. É, sem dúvida, o trabalho mais relevante do diretor em dez anos – e só isso já merece ser celebrado.

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serviço

Filme O Esquema Fenício
Em exibição nos cinemas brasileiros
Duração: 1h41
Classificação indicativa 14 anos

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