Com pré-estreia em Fortaleza nesta quinta, “O Último” Azul transforma fábula em resistência contra o apagamento dos que vivem mais

“O Último Azul”, vencedor do Urso de Prata no último Festival de Berlim e agora candidato a uma vaga no Oscar, ganha pré-estreia nesta quarta-feira (27), no Cinema do Dragão. Tapis Rouge apresenta as impressões do longa que traz Rodrigo Santoro no elenco

Gabriel Amora
amoragabriel@ootimista.com.br

Assistir “O Último Azul” nos faz refletir sobre a trajetória de Gabriel Mascaro, cineasta pernambucano que, a cada novo filme, se firma como uma das vozes mais consistentes do nosso cinema. O longa, vencedor do Urso de Prata, no Festival de Berlim, estabelece um diálogo direto com “Divino Amor” (2019), também conduzido por Mascaro. Em ambos os filmes, o diretor cria distopias brasileiras que refletem problemas contemporâneos: enquanto o longa de 2019 explora o fanatismo religioso, “O Último Azul” investiga o autoritarismo etarista.

O público fortalezense poderá conferir o filme protagonizado por Denise Weinberg e Rodrigo Santoro na pré-estreia que ocorre hoje (27), às 19 horas, no Cinema do Dragão, com presença do cineasta Gabriel Mascaro para um bate-papo após a exibição.

Na história, em nome de um suposto “bem coletivo”, idosos são obrigados pelo governo a abandonar a vida em sociedade e se recolocar em colônias afastadas. Essa premissa, logo de cara, evidencia a comparação e mudança de tom adotada pelo diretor, que, ao contrário do trabalho anterior, em que a ironia e a sátira fragilizavam a jornada, opta por uma abordagem mais séria.

É nesse contexto que conhecemos Tereza, interpretada por Denise Weinberg. Moradora de uma cidade amazônica, ela descobre que será levada por uma carroça que transporta, em jaulas, pessoas com mais de 75 anos. Diante dessa perspectiva, inicia sua fuga para o desconhecido, que parece preferível a ser descartada. Consequentemente, a atuação de Weinberg se torna o núcleo emocional do filme: inteligente e contida, ela evita o melodrama e transmite resistência através de gestos e olhares, transformando um papel que poderia ser apenas simbólico em um retrato humano e concreto. É emocionante ver o amadurecimento da personagem, que, diante de um futuro incerto, aprende não apenas sobre si mesma, mas também sobre o Brasil.

Que país é este?
No meio disso tudo, a região Norte ganha corpo na tela por meio da fotografia de Guillermo Garza, que segue o amadurecimento da protagonista, explorando a paisagem natural com precisão e construindo imagens de grande impacto visual. Paralelo a isso, a trilha sonora, misteriosa e envolvente, reforça a imersão na experiência da heroína. Um dos momentos de maior sintonia acontece no primeiro ato, quando ela interage com o personagem de Rodrigo Santoro. Fruto de diálogos improvisados, a atuação de ambos, aliada à composição visual e sonora, transforma a cena em um drama psicodélico e original.

“O Último Azul” é um filme sobre resistência ao apagamento. Sobre recusar narrativas impostas, reivindicar memória e confrontar o esquecimento que o poder insiste em impor. Ao transformar essa fábula em cinema denúncia, Mascaro demonstra por que o Brasil continua produzindo obras de relevância internacional, capazes de provocar e emocionar de forma que muitos blockbusters comerciais não alcançam.

serviço

Pré-estreia de “O Último Azul” em Fortaleza
Nesta quarta-feira (27), às 19h
No Cinema do Dragão (R. Dragão do Mar, 81 – Praia de Iracema)

 

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