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Co-criador da Galinha Pintadinha, Juliano Prado conta a origem da personagem e revela novos projetos

Diretor da Bromelia Produções e co-criador da Galinha Pintadinha, Juliano Prado detalha como surgiu a personagem e destaca importância de olhar com seriedade para o público infantil. Na entrevista, adianta novidades que estão por vir na marca que só se expande

Danielber Noronha
danielber@ootimista.com.br

Era para ser apenas um vídeo animado utilizado em uma apresentação institucional, criado por Marcos Luporini e Juliano Prado, com uma galinha azul. Ao ser colocado no YouTube, em 2006, porém, não demorou muito para os acessos alcançarem a casa das 500 mil visualizações. Tal feito – impressionante à época em que a internet ainda engatinhava no Brasil – resultou na criação da Galinha Pintadinha, uma personagem tipicamente brasileira, com fama internacional e colecionadora de uma legião de pequenos fãs há mais de 15 anos.

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Marcos Luporini e Juliano Prado (Foto: Divulgação/Miguel Moreira)

Foram muitos os motivos para o produto se tornar o fenômeno que é hoje, mas, a grande tacada, segundo Prado, foi justamente disponibilizar um conteúdo audiovisual gratuito na internet – prática não muito difundida até então. Tendo conseguido captar a atenção do público, o que se projetava ser um DVD de estreia com 2 mil cópias vendidas, ultrapassou a marca de 3,5 milhões de unidades comercializadas. “A Galinha é o primeiro personagem da vida do bebê. Sendo assim, nosso trabalho é contribuir positivamente para todo processo de desenvolvimento e educação deles”, destaca o diretor da Bromelia Produções e co-criador da personagem.

Presente no streaming, no teatro, em milhares de produtos licenciados, no Exterior e até detentora de uma parceria musical com Gilberto Gil, a Galinha deve ciscar em muitos outros lugares, se depender de seus idealizadores. “Estamos em fase de desenvolvimento e pré-produção do primeiro filme longa-metragem da Galinha Pintadinha, que será feito em animação 3D e ganhará as telonas de cinema pelo País. Novas collabs com artistas também estão sendo preparadas neste momento”, antecipa o diretor. Confira na íntegra a entrevista de Juliano Prado ao O Otimista e saiba detalhes do processo criativo por trás dos produtos da personagem e quais passos tomaram para fazer dela um fenômeno infantil visto poucas vezes na história do Brasil.

O Otimista – Quando e em qual contexto nasceu esta personagem tão querida que é a Galinha Pintadinha?

Juliano Prado – Ela surgiu por acaso. O Marcos Luporini trabalhava em estúdio como produtor com publicidade e teatro e tinha tempo livre, quando começou a trabalhar com algumas músicas, inicialmente, apenas pensando em gravá-las, sem muita pretensão. Pensava em algumas pessoas para acompanhar o projeto, então me procurou, sugerindo tentar produzir alguns videoclipes. Iniciamos o projeto, mas tivemos que parar e o único filme que ficou completo foi o da Galinha Pintadinha. Até que um dia, em que ambos precisavam comparecer a uma reunião, mas não conseguiram, subiram o vídeo da Galinha no YouTube. O mesmo que está no ar até hoje, e foi aí que tudo se originou. O certo era subir e apagar, mas não o fiz e, de repente, o vídeo estava com 500 mil views.  Esta quantidade já sinalizava uma ótima receptividade ao nosso material. Hoje, esse mesmo número de views é gerado em menos de duas horas. Como a distribuição digital em 2006 estava só no começo, tivemos que ir experimentando e aprendendo ao mesmo tempo sobre esta nova mídia. Por muitos anos, por exemplo, nenhuma produtora profissional colocava conteúdo gratuito no YouTube. Para eles, isso não fazia sentido, mas para nós foi o grande ‘pulo do gato’. Fomos os primeiros a explorar também o conceito de ‘multi-telas’, que ajudou a Galinha Pintadinha virar a estrela digital que é hoje.

 O Otimista – Após o lançamento, faziam ideia de que se tornaria um projeto tão exitoso e recebido desta maneira pelo público?

Juliano – Foi uma surpresa para nós, não esperávamos todo este sucesso. O vídeo Galinha Pintadinha era apenas um projeto quando o subimos no YouTube, para que ele fosse mostrado em uma reunião de executivos de um canal, mas não levantou muito interesse na reunião. Entretanto. o vídeo ficou no ar e acabou levantando o interesse de papais e mamães que nos pediam mais e mais animações musicais. Foi então que decidimos investir no projeto e seguimos em frente. A fama que a Galinha Pintadinha atingiu é inimaginável! Queríamos apenas produzir vídeos musicais bonitos e divertidos e fazer um DVD de desenho animado. Imaginávamos que venderíamos umas 2.000 cópias, no máximo. E vendemos mais de 3.5 milhões. É muito louco pensar que depois de 15 anos a Galinha já faz parte da cultura brasileira como um personagem do nosso imaginário e faz tanto sucesso com várias gerações de famílias. Hoje em dia já temos mães que no passado ouviam Galinha e estão apresentando para os filhos.   

 O Otimista – Tem um propósito ou missão que assumiram para si quando criaram este universo ou ao ver que estava tomando grandes proporções?

Juliano – O objetivo inicial, além de criar animações infantis, era fazer um resgate da nossa cultura brasileira, e, com isso, demos uma nova roupagem nas músicas que já existem do cancioneiro popular brasileiro. Assim, mantemos o cancioneiro sempre vivo e estamos apresentando as clássicas canções para as novas gerações. Esse trabalho de resgate proporciona um divertimento seguro para as crianças e elas aprendem enquanto brincam.

O Otimista – Sendo traduzida em vários idiomas, a Galinha Pintadinha desponta também como um sucesso fora do Brasil. Como é para você ver este trabalho rompendo fronteiras e alcançando outros públicos?

Juliano – Para nós é muito gratificante, pois estamos exportando a nossa cultura infantil e popular para outros países. É ótimo ver um personagem brasileiro ganhando espaço em outras culturas e fazendo tanto sucesso.

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Juliano e Marcos (Foto: Divulgação/Ricardo Dettmer)

 O Otimista – Recentemente, foi lançada uma música da personagem com Gilberto e Flor Gil, fazendo quase um crossover com o Sítio do Pica-Pau Amarelo. Pode detalhar os bastidores de uma iniciativa como esta, envolvendo artistas de peso, criando quase um multiverso da Galinha Pintadinha?

Juliano – A ideia foi motivada pela trend viral que movimentou o Instagram da neta do cantor, alcançando mais de 1,3 milhão de views. Ao lado de Flor Gil, Gilberto Gil apareceu dançando a música Galinha Pintadinha 3. Foi aí que surgiu a inspiração para uma parceria que já é sucesso, marcando um encontro de gerações. De um lado, Gil, avô, com 80 anos muito bem vividos, dedicados em grande parte à música brasileira, e sua neta Flor Gil, que demonstra um talento musical incrível, seguindo os passos da família. Do outro, temos a Galinha Pintadinha, a personagem favorita das pequenas gerações há 15 anos. A gravação da nova versão desse sucesso aconteceu em outubro de 2022, em um estúdio carioca. A canção de trabalho, Sítio do Picapau Amarelo, foi tema de abertura da série homônima, que marcou várias gerações entre os anos 1970 e 2000, quando o seu último remake estreou na TV Globo.

O Otimista – Com o passar dos anos, as programações infantis foram perdendo espaço nos canais de TV aberta, estando mais restritas aos canais por assinatura. Você acredita que isso pode ter ajudado a popularizar a Galinha Pintadinha como um produto acessível a este público?

Juliano – Penso ser um fenômeno complexo de se analisar, mas, com certeza, a democratização de acesso que a internet trouxe contribuiu para a Galinha chegar em mais lugares. Eu diria que não foram só as TVs por assinatura, mas os streamings mudaram bastante a regra do jogo. Foi uma grande mudança no mercado em relação a como consumimos e assistimos as nossas séries e filmes favoritos. Foi um modelo de negócio que causou diversas mudanças de comportamento no público e fez com que outros players do mercado se movimentassem em direção a essa operação. É interessante porque não sabemos ainda como vai ser, mas vemos um movimento intenso nesta época com os streamings. Mesmo assim, acreditamos que outras formas de acesso e de distribuição ainda vão existir, contribuindo para a existência de uma mídia híbrida com diversas telas disponíveis. Essa, inclusive, é a nossa estratégia. Além do YouTube, estamos distribuídos em praticamente todas as telas, de TVs pagas a aberta, streamings, apps, assistentes de voz como a Alexa, o que contribui para que estejamos disponíveis para os pais e crianças em sua plataforma favorita.

O Otimista – Hoje, uma pauta muito em alta é a da inclusão e a importância desse debate acontecer desde a infância. De que maneira trabalham para isso estar presente também nos produtos da Galinha?

Juliano – O conteúdo da Galinha Pintadinha, que é 100% brasileiro, respeita e estimula a inclusão na infância, passando valores simples, mas introduzindo conceitos amplos. Além disso, poderíamos dizer que todo o universo da Popó é lúdico, educativo e divertido.  Temos muito cuidado e preocupação ao preparar os nossos vídeos porque estamos cientes de que a Galinha é o primeiro personagem da vida do bebê e que ela e toda sua turma são importantes na formação dos pequenos. Sendo assim, nosso trabalho é contribuir positivamente para todo processo de desenvolvimento e educação deles.

O Otimista – Outra questão muito discutida é o acesso a telas durante a primeira infância e de como isso pode ser prejudicial na formação de algumas crianças. Temem que algumas crianças acabem se prendendo demais ao desenho?

Juliano – Para as crianças pequenas, os pais têm que dosar o tempo que os filhos passam assistindo TV ou vendo vídeos. Na correria do dia a dia sabemos que é difícil, mas na dose certa a Galinha Pintadinha só traz coisas positivas.

O Otimista – Ainda no esteio dos assuntos que têm tomado o debate público, muito se fala sobre a cultura da violência que pode ser propagada por alguns games e/ou desenhos. A Galinha vem na contramão disso, com temáticas lúdicas e divertidas. Como decidem quais assuntos entrarão nos projetos da personagem?

Juliano – Nós acreditamos na união de educação com entretenimento, mas não de uma forma marcadamente didática. A criança canta, dança e se diverte e, através disso, acaba aprendendo números, letras, ritmos, formas, além de incorporar valores saudáveis. Tudo isto sem precisar levar sermão.

O Otimista – A Galinha virou espetáculo de teatro, série animada, aplicativo e até balão gigante para passeio. Quais os desafios de gerir tudo isso? Tem ideia de quantas pessoas trabalham direta ou indiretamente na execução de tantos projetos?

Juliano – De fato, temos várias áreas diversas para dar conta, mas eu diria que são desafios normais de gestão de uma operação. Contamos na Bromelia Produções, a produtora da Galinha Pintadinha, com mais ou menos 20 pessoas em nosso time que cuidam de todos os produtos e áreas de negócios da personagem. Fora nosso time direto, temos diversos parceiros e empresas que nos auxiliam no dia a dia e em áreas estratégicas, como a Redibra, nossa agência de licenciamento.

O Otimista – Por fim, com um catálogo tão extenso, ainda tem outros projetos que querem desenvolver com o selo da Galinha? O que projetam para o futuro dessa personagem tão inusitada e querida do público?

Juliano – A Galinha não para e estamos sempre preparando novidades. Em fevereiro deste ano tivemos o lançamento do tão aguardado álbum 5 da Galinha Pintadinha na Netflix, algo que os pais nos pedem há tempos e já é um sucesso. Estamos também em fase de desenvolvimento e pré-produção do primeiro filme longa-metragem da Galinha Pintadinha que será feito em animação 3D e ganhará as telonas de cinema pelo País. Também, este ano, as crianças vão ganhar novos videoclipes dançantes com os hits da Galinha. Novas collabs com artistas estão sendo preparadas neste momento. Ou seja, a Galinha sempre pensa em seu público e como oferecer novas experiências. A criatividade segue sempre a todo vapor.

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