Christian Cravo revela o feminino que habita nas paisagens mais selvagens e nas memórias mais cotidianas com a exposição “Anima”, na Galeria Multiarte. Com curadoria de Bené Fonteles, a mostra convida o público a mergulhar no invisível – e no próprio inconsciente
Sâmya Mesquita
samyamesquita@ootimista.com.br
A partir desta quinta-feira (7), a Galeria Multiarte se transforma em um território de encontros com o inconsciente. A exposição “Christian Cravo – Anima” apresenta 30 fotografias que fundem paisagens africanas com registros íntimos da família do artista, criando uma narrativa visual que oscila entre o monumental e o pessoal. Com curadoria de Bené Fonteles e lançamento de um catálogo homônimo, a mostra ainda oferece um bate-papo com o fotógrafo, oportunidade rara para entender os processos por trás de suas imagens tão carregadas de simbolismos.
O título da exposição remete a um conceito do psicoterapeuta suíço Carl Jung (1875-1961): Anima é o arquétipo feminino no inconsciente masculino – uma força que, segundo o psiquiatra, carrega intuição, sensibilidade e conexão com o essencial. “Tudo que Christian foi buscar em síntese na paisagem deserta africana e que se amálgama com as dunas marinhas nordestinas, vai estabelecer mais que um diálogo/colagem com os corpos íntimos dos que ama e é a sua própria família”, diz Bené Fonteles.
Já para o artista, essa dualidade não é apenas conceitual, mas profundamente vivida: “Fui criado num ambiente matriarcal, cercado por figuras femininas. E, como pai, essa estrutura se reproduz: sou pai de três meninas”, revela.
Do deserto ao lar

A série, exposta em sua totalidade pela primeira vez, é resultado de 12 anos de trabalho divididos entre expedições à África e registros domésticos. O que poderia parecer uma justaposição de temas díspares ganha unidade na maneira como Cravo manipula luz e sombra, criando uma linguagem que aproxima corpos e paisagens. “Acredito que se deve sempre haver um equilíbrio, ainda que instável, entre método e intuição”, reflete o fotógrafo.
Esse equilíbrio se traduz em imagens que transcendem o documental e invadem o campo simbólico. “Poucas vezes a fotografia no Brasil assume de forma tão extraordinária a fusão de imagens que vão além das analogias e buscas meramente estéticas”, observa Bené. Nas fotos de Christian, as curvas de um corpo feminino podem ecoar as dunas do Saara, enquanto a textura da pele se confunde com a aridez do deserto. O efeito é hipnótico e convida o espectador a uma leitura que vai além do visível, transportando-o às areias do deserto da própria mente.
Uma obra internacional
Filho de mãe dinamarquesa e pai brasileiro, Christian Cravo foi criado em Salvador, na Bahia. Começou suas experiências com a técnica fotográfica ainda muito jovem, aos 11 anos, enquanto morava na Dinamarca. Ao longo dos últimos 25 anos, teve seu trabalho exposto na Throckmorton Fine Art, em Nova York, na Billed Husets Galery, em Copenhague, e no Palais de Tokyo, em Paris. Recebeu prêmios do Mother Jones International Fund for Documentary Photography e da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), além de ter sido destinatário de uma bolsa de pesquisa da Fundação John Simon Guggenheim, em Nova York.
Esta não é a primeira vez que Christian Cravo exibe seu trabalho na capital cearense. Em 2018, o Museu da Fotografia de Fortaleza (MFF) recebeu uma mostra do artista, marcando a primeira exposição temporária da instituição fora do escopo de seu acervo permanente. “O público de Fortaleza ocupa um lugar de vanguarda no cenário artístico do Nordeste”, elogia o artista, que vê na cidade um espaço de diálogo fértil.
Max Perlingeiro, diretor da Galeria Multiarte, reforça a importância de trazer um nome consagrado para o circuito local. “É neste contexto que a Galeria Multiarte se sente honrada em trazer para Fortaleza a exposição deste notável fotógrafo consagrado que, ao longo dos últimos 20 anos, teve o seu trabalho reconhecido no Brasil e no Exterior”, afirma.
Mediações e encontros
Além da abertura com presença do artista, a exposição contará com uma programação especial aos sábados, incluindo mediações e encontros que aprofundam os temas abordados em Anima. E, para quem deseja levar um fragmento da exposição para casa, o catálogo homônimo, lançado no mesmo dia da abertura, reúne as imagens da mostra acompanhadas pelo texto crítico de Bené Fonteles.
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Exposição “Christian Cravo – Anima”
Abertura nesta quinta-feira (7), às 19h, com presença do artista
Na Galeria Multiarte. Rua Barbosa de Freitas, 1.727, Aldeota
Visitação pública até 27 de setembro de 2025. De segunda a sexta, das 10h às 19h, e aos sábados, das 10h às 16h
Informações pelo site galeriamultiarte.com.br e pelo Instagram @galeriamultiarte
Entrada gratuita