Chico Buarque celebra 80 anos; Músicos cearenses contam suas músicas preferidas e como o ídolo os inspira

Um dos maiores artistas da história da música brasileira, Chico Buarque celebra 80 anos de vida, memórias e grandes contribuições à arte nacional. Para celebrar a data, a convite do Tapis Rouge, artistas cearenses falam sobre o cantor e sua obra

Onivaldo Neto
onivaldo@ootimista.com.br

Não há como pôr em palavras ou mensurar em algumas frases o legado e vida de Francisco Buarque de Hollanda, ou como ficou conhecido, Chico Buarque. Essa tarefa só seria realizada com algum êxito em livros grossos, filmes longos, coletâneas de discos ou qualquer outro meio que suporte décadas de uma arte viva, contestadora e inconfundível. Representante de um Brasil intelectual, lírico, poético e crítico, o cantor, compositor, violonista, dramaturgo, escritor e ator, celebra hoje (19(, oito décadas de existência, que compõem um patrimônio imaterial eterno.

Filho do renomado historiador Sérgio Buarque de Holanda e da pianista Maria Amélia Cesário Alvim, Chico nasceu no Rio de Janeiro em 19 de junho de 1944, mas viveu boa parte de sua infância e juventude em São Paulo por causa do trabalho de seu pai. A música o permeou desde muito cedo e, com 15 anos, desatinou a compôr, escrevendo “Canção dos Olhos”. O estrelato também não demorou muito para chegar. Chico, aos 22 anos, saiu vitorioso na I Feira Nacional de Música Popular Brasileira com a música “A Banda”, que também deu voz aos anseios do povo brasileiro e se tornou um símbolo da luta contra a ditadura. Em sua carreira foi acumulando honrarias como o Grammys, Prêmios Jabuti, Prêmios da Música Brasileira, Prêmio Camões, Prêmios Shell, Troféu APCA, entre outros.

Com pouco mais de 60 anos de produção artística, Chico é inspiração para artistas que passaram, vão passar e que ainda passarão, de todos os lugares do Brasil e do mundo. Por isso,Tapis Rouge enaltece sua trajetória por meio da voz e do talento nativo aflorado em Fortaleza e no Ceará. Entrevistamos alguns cantores e cantoras da terrinha, que de alguma forma ou circunstância, tiveram ou têm a sua vida artística atravessada pelas palavras vivas de Chico Buarque e o que elas representam para eles.

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Marcos Lessa. (Foto: Divulgação)

Marcos Lessa

Também já tendo prestado homenagem à obra de Chico Buarque, realizando shows tributos ao artista, o cantor cearense Marcos Lessa faz do trabalho de Buarque uma régua que influencia sua carreira. “Chico foi um dos primeiros compositores da música brasileira que eu me dediquei bastante a ouvir. O que fez eu ter desde sempre um nível alto de exigência com música, porque Chico é pura poesia e quando se gosta de Chico Buarque não se canta qualquer coisa”, comenta o artista. Lessa elegeu “Choro Bandido”, parceria com Edu Lobo, como a sua música favorita do repertório de Chico. “Eu acho que ela traduz muito o que é o sentimento do cantor com a música. A canção tem uma alusão lindíssima à gênese da música e ao deus Baco, que fez com as tripas a primeira lira e a partir disso começou a música na mitologia grega”, comenta Lessa.

Giovana Bezerra

Apesar das músicas “Dueto” e “Tatuagem” serem muito importantes para a cantora cearense Giovanna Bezerra, é “João e Maria” sua composição favorita de Chico. “Me remete a uma lembrança pura de uma infância feliz. Ouvia muito essa canção, sempre ouvi. E, com o tempo, passei a entender de forma mais profunda seu significado. Me toca lá no fundo da alma, sabe?”, justifica a artista. A artista, que já realizou shows interpretando grandes clássicos do Chico, diz ainda que as canções do artista, repletas de metáforas, a incentivam a ser e fazer mais dentro da música, recomendando a canção “Vai Passar” para quem quer começar a ouvir Chico Buarque. “Uma verdadeira celebração da resistência e da esperança”, diz.

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Luiza Nobel. (Foto: Divulgação)

Luiza Nobel

“Olhos nos Olhos”. A música interpretada e escrita por Chico Buarque é a favorita da artista Fortalezense, Luiza Nobel. “ [A canção] fala de superar uma relação que não fazia bem para a pessoa que a vivia. Acho que sou bem passional. Meu coração me guia em todas as decisões e não me arrependo disso”, afirma Nobel, justificando sua escolha. Além de ser uma admiradora de Buarque, a cantora tem sua arte influenciada diretamente pela obra do artista carioca, e prepara-se para lançar sua nova música, “365 Dias”, inspirada na canção “Olhos nos Olhos” de Chico. “É uma música que renova que dá força para quem saiu recente de um relacionamento. [365 Dias] tem um refrão muito presente: São mais de 365 dias sem te ver, homens e mulheres me amaram mais e melhor que você”, revela Luiza.

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Nayra Costa. (Foto: Divulgação)

Nayra Costa

O lado crítico e provocador de Chico Buarque é a preferência de Nayra Costa, cantora cearense. Ela identifica essas qualidades na música “Geni e Zepelin”, um dos grandes sucessos de Chico. “Gosto dessa música porque tem um lado de crítica muito grande. Um lado que fala da não voz, da submissão sobre Geni. Infelizmente é ainda muito atual na vida das mulheres, trans e negros de nosso país. Gosto de músicas que te fazem refletir. Chico com suas letras é muito bom nisso”, declara. Além disso, destacando a versatilidade de Chico, a artista recomenda o samba “Apesar de Você”, “por ser um samba muito gostoso, principalmente bom de cantar junto, bem alto com seus amigos”, recomenda.

Makem

Conhecida por trazer em seu repertório grandes músicas da MPB (Música Popular Brasileira), a cantora Makem exalta na obra de Chico a face inebriante, misteriosa e sedutora que o cantor dava a algumas de suas composições, como “Folhetim”. “Essa é minha música favorita de Chico. Acho interessante como é construída essa personagem feminina astuta, cheia de encantos e formas de se conseguir o que deseja. Apenas com o seu poder de sedução. Uma ladra de almas de cabelos longos e olhar serpentino”, descreve a artista. A subversão de Chico também encanta a artista em “Deus Lhe Pague”: “uma música poderosa, com um olhar crítico cruelmente atual sobre a situação do povo brasileiro”, aponta Makem.

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Gabriel Aragão. (Foto: Divulgação)

Gabriel Aragão

O tempo fez com que diversas músicas de Chico tivessem ocupado o primeiro lugar do pódio do cantor e guitarrista da banda de rock cearense Selvagens à Procura de Lei, Gabriel Aragão. “O Cio da Terra”, “Deus Lhe Pague”, “Apesar de Você” e “Bastidores” já foram eleitas pelo artista como a sua preferida de Buarque, no entanto, atualmente, Gabriel escolheu “Meu Guri” para ocupar o topo da lista. “Meu Guri representa bem o Chico: samba com refrão em coro, letra em primeira pessoa com eu-lírico feminino. É uma aula de letra e música”, afirma o vocalista. Além da apreciação técnica, Gabriel já havia declarado que admira a capacidade de Chico de colocar-se em primeira pessoa nas suas músicas. “Acho que Cotidiano pode ser uma boa: bem-humorada, direta, samba do bom”, recomenda Aragão como ponto de partida para obra de Chico.

Chico Buarque e o Ceará

A relação de Chico Buarque com Fortaleza é longa e marcada por momentos memoráveis. Ao longo dos anos, Chico Buarque retornou diversas vezes a Fortaleza, já tendo se apresentado em diversos espaços culturais da capital, como o Theatro José de Alencar, Siará Hall e outros, sempre encantando o público com suas apresentações. Mais recentemente, no segundo semestre de 2022, o artista se apresentou no Centro de Eventos do Ceará com a turnê “Que tal um samba?”, com ingressos esgotados em poucas horas para as duas últimas apresentações que o artista realizou em solo fortalezense.

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