Impactos, torções e a obstinação do gesto ganham uma linguagem artística na Galeria Leonardo Leal, em Fortaleza. O artista plástico Célio Gurgel inaugura, neste sábado (18), a exposição “AFERRAR”, explorando o embate dramático entre a força humana, a resistência da matéria e a complexidade da arte

Onivaldo Neto
onivaldo@ootimista.com.br

A sensibilidade do fazer artístico e a brutalidade do aço se equilibram numa delicada dança em “AFERRAR”, nova exposição do artista plástico Célio Gurgel. Abrigada na Galeria Leonardo Leal, no bairro Aldeota, em Fortaleza, a mostra tem estreia marcada para este sábado (18), das 10h às 13h. O público terá a oportunidade de conhecer cerca de vinte obras no trabalho, que dá continuidade ao legado e ao olhar ambicioso de Gurgel. Em entrevista ao Tapis Rouge, o cearense, nascido em Fortaleza, dividiu mais detalhes sobre a concepção da exposição, além de discorrer sobre os temas que a perpassam.

“A ideia de ‘AFERRAR’ não surgiu de um instante, mas de um acúmulo de memórias, tempo e matéria. O nome não vem de imediato — ele amadurece junto com o impacto do próprio fazer. É preciso viver o processo, observar as reações da matéria, entender o peso do gesto. Com o tempo, tudo se funde: técnica, experiência, percepção. O trabalho nasce quando a força se transforma em linguagem e o impacto deixa sua marca — não apenas no aço, mas também na memória”, reflete Celio.

Das obras expostas na rica apresentação, o artista escolhe destacar a série “Dois Momentos”, que reúne obras feitas com aço. O material utilizado nas peças em questão foi levado ao limite pelo artista, passando por torção e ruptura simultaneamente. “Nelas, o impacto se torna visível, como se o próprio instante da transformação ficasse suspenso no tempo. É nessa tensão entre o que resiste e o que cede que o conceito da mostra se revela com mais clareza”, revela.

Mensagem
Criado em um espaço-tempo quase intangível, no qual a realização artística e a transformação do aço são seus catalisadores, “AFERRAR” vai além da materialidade, alcançando o público como uma experiência sensorial — exatamente como deseja Celio. “Espero que o público sinta o impacto — não apenas o físico, mas aquele que reverbera por dentro. Que perceba, na matéria, a memória do gesto, o instante em que o tempo se dobra. ‘AFERRAR’ não busca impor uma mensagem, mas provocar uma experiência sensorial, quase silenciosa, onde cada um possa reconhecer suas próprias forças, rupturas e permanências. Se algo puder ser levado, que seja a lembrança de que toda resistência também é forma de transformação”, almeja.

Para além de um conjunto de obras que provoca e transforma o espectador, levando-o a uma reflexão sobre suas próprias rupturas e permanências, a exposição se afirma como um marco na trajetória de Celio Gurgel. Ponto de convergência entre passado e presente, onde técnica, gesto e reflexão se encontram, “AFERRAR” é ainda um reflexo direto do momento de maturidade e síntese dos percursos percorridos pelo artista, que já expôs em feiras e exposições de destaque, como a SP-Arte.

“Há continuidade nas matérias, nas forças e nas tensões que sempre explorei, mas há também um deslocamento — um olhar mais interno sobre o impacto e o tempo. Talvez não seja um ponto de virada, e sim um ponto de condensação: onde tudo o que foi experimentado até aqui se une e ganha nova densidade. É a matéria do passado sendo novamente atravessada pela energia do presente”, conclui.

serviço

Exposição “AFERRAR”
Abertura: sábado (18)
Na Galeria Leonardo Leal –
R. Visc. de Mauá, 1515 – Aldeota
Visitação das 10h às 13h.
Mais: @galerialeonardoleal