“Às vezes, o cotidiano nos faz penetrar num looping de marasmo que nos impossibilita de ver a beleza do que nos rodeia. Especialmente nos últimos tempos, percebemos que a Arte pode nos tirar dessa zona cinzenta e nos impulsionar à felicidade. E que cidade é mais pulsante e feliz que Fortaleza? Nossa capital, que acolhe e convida espíritos criativos, vai além de um pólo de desenvolvimento empresarial no Nordeste: é um caldeirão de efervescência artística.
Fortaleza é muito mais que minha terra natal: é fonte de inspiração e terreno fértil para as próximas etapas da minha vida, seja como cantora ou como mãe. E sob o teto histórico do Teatro São José — que traz, em sua essência, a democracia do acesso à cultura —, posso dizer que ser artista aqui é sinônimo de construir possibilidades.
Por muito tempo, os artistas sentiram necessidade de sair daqui, da cidade, para sermos reconhecidos em outros lugares. Mas acho que, hoje, não só com os incentivos, mas também com as mídias sociais, as pessoas conseguem se manter aqui em Fortaleza e espalhar o seu trabalho para o resto do mundo. Porque o que não falta aqui é a gente talentosa. E eu tenho muito orgulho dos talentos que a gente tem aqui.
Ao longo dos últimos anos, surgiram muitas oportunidades maravilhosas na minha vida relacionadas à música. Tive a oportunidade de fazer o Réveillon de Fortaleza (em 2021), com uma gravação feita aqui no Teatro São José; de fazer o meu primeiro show aberto ao público, o Mulheres do Brasil no ano passado… As conexões que faço com as pessoas daqui, e com outros artistas que viraram grandes amigos, torna tudo ainda mais especial.
“João, que já mudou a minha vida de artista, me move em direção a um futuro ainda mais promissor — assim como o da própria cidade”
Apresentando-me em pontos especiais da cidade, tenho memórias felizes nesses espaços, essenciais na minha formação como sujeito e artista. Inclusive estou em um deles agora, o Teatro São José; de frente para outro, a Biblioteca Estadual do Ceará. Também amo a Rua dos Tabajaras: acho que é uma rua que tem muitos talentos diferentes, tanto da culinária quanto do estilismo. Temos o Teatro RioMar Fortaleza, que tem uma megaestrutura e não deixa a desejar em questão de qualidade. O Theatro José de Alencar, onde comecei aos cinco anos dançando balé, sapateado, hip hop e tudo que você puder imaginar. E o Cine São Luiz, que é histórico. Meu avô tinha uma sapataria perto do São Luiz há muitos anos. Ele não é mais vivo, mas lembro que sempre admirei aquele espaço e sempre fiquei encantada. E também já cantei lá.
Neste ano, o meu maior projeto é o João, que está chegando no mês que vem. Na verdade, é o maior projeto da minha vida. Mas ele me deu muita força para acreditar que sou capaz de fazer muitas coisas incríveis. Além do João, quero lançar as minhas músicas autorais já nesse primeiro semestre, se Deus quiser.
Também quero fazer uma turnê pelo Nordeste, no final do ano, e desenvolver um outro projeto que envolve outros artistas, amigos muito queridos daqui. Mas nenhum desses planos deixa de lado a importância da cidade para o meu próprio fazer artístico. Tenho muitas ideias e muita vontade de fazer acontecer projetos lindos aqui para a nossa cidade, porque eu acho que a nossa cidade merece, né? Fortaleza merece esses projetos, não só comigo, mas também com outros artistas.
João, que já mudou a minha vida de artista, me move em direção a um futuro ainda mais promissor — assim como o da própria cidade. Espero uma Fortaleza com muitos espaços livres para que ele possa ser quem ele é, com o máximo de templo longe de telas. Eu vou fazer questão de levá-lo para todos os lugares que representam Fortaleza. E essa geração que está vindo, a Alpha, vem para justamente revolucionar e ocupar esses espaços. Estou muito ansiosa para vê-los se preocupando com essas mudanças”.
*Giovana Bezerra é mulher, artista, mãe e, antes de tudo, fortalezense
Em depoimento à jornalista Sâmya Mesquita
