A documentarista Andrea Santana dá voz às comunidades ribeirinhas do Rio São Francisco no documentário Rio de Vozes, que estreia hoje (17) no Cinema do Dragão. Em bate-papo com O Otimista, ela dá detalhes sobre o processo de gravação
Danielber Noronha
danielber@ootimista.com.br
Muito se fala sobre como o Rio São Francisco pode beneficiar milhares de famílias em situação de escassez hídrica a partir da transposição da água do referido reservatório para outros estados, incluindo o Ceará. Contudo, o debate costuma escantear outros aspectos importantes, que vão desde o modo de vida das comunidades ribeirinhas que dependem diretamente do São Francisco à exploração excessiva da região. Buscando mudar este cenário, a arquiteta e urbanista de formação cearense Andrea Santana, também realizadora audiovisual, e o engenheiro de som francês Jean-Pierre Duret lançam o documentário Rio de Vozes.
Depois de rodar em festivais como o Les 26èmes Rencontres du cinéma documentaire, o 14º Atlantidoc – Festival International de Cine Documental Del Uruguay e o 30° CineCeará, onde ganhou o prêmio “Sustentabilidade”, a produção estreia hoje (17) no Cinema do Dragão. Será uma sessão ao dia e os horários podem ser conferidos através das redes sociais do equipamento. “O mais importante para nós realizadores é que o filme seja visto. É formidável quando a gente vê uma sala de cinema lotada e o prazer é ainda maior quando a gente sente que o filme foi bem acolhido pelo público, que eles entenderam intimamente quem são essas pessoas que filmamos e o que temos em comum”, reflete Andrea.
Memórias e lutas
A ideia de fazer um filme acompanhando os modos de vida das comunidades ribeirinhas, segundo ela, vem primeiro de uma razão sentimental. “Esse rio faz parte do meu imaginário de forma muito forte. Desde criança, aquela massa d’água no meio do sertão seco sempre me impressionou. Depois que encontrei Jean-Pierre, várias vezes beiramos o rio durante as filmagens de nossos filmes anteriores, e ele foi criando um afeto pelo rio também”, resgata. Outro combustível para os dois foi o fato de o rio estar muito degradado. Os motivos, aponta, vão desde a agricultura ao uso de produtos químicos como fertilizantes, que acabam poluindo as águas do “Velho Chico”.
Antes da pandemia da covid-19, a equipe percorreu um trecho de aproximadamente 500 km de extensão do rio, entre Belém do São Francisco (PE) e Barra (BA), ao longo de quatro meses, colhendo relatos e imagens que contam um pouco sobre os saberes, hábitos e as crenças dos povos que o circundam o rio. “São pessoas que lutam cotidianamente para continuar vivendo dignamente e num lugar que elas amam acima de tudo, apesar das dificuldades. O São Francisco é como um ‘membro da família’ para elas. Achamos que é importante que a realidade, o pensamento, as formas de resistência e de luta, a beleza interior e a força de vida dessas pessoas, sejam reconhecidos, tentando quebrar essa ideia estereotipada da pobreza”, provoca.

Parceria de vida
Rio de Vozes é o quinto fruto da parceria entre Andrea Santana e Jean-Pierre Duret. Os dois vivem juntos há mais de duas décadas. “Realizar filmes em dueto não é fácil. Se você olhar a lista de diretores que realizam filmes a dois, na maioria das vezes eles são irmãos, ou marido e mulher, ou pai e filho. Porque somente uma relação de amor e de intimidade é capaz de resistir à tensão que é a fabricação de um filme”, detalha. Andrea acrescenta também que o plano do casal para curto prazo é seguir divulgando o filme e promovendo debates sobre a temática em questão até que o documentário “possa seguir sua vida sozinho”. “Procuramos provocar um encontro entre eles [povos ribeirinhos] e o público, na esperança de que ele seja tocado e atente para o fato de que é responsabilidade de todos nós proteger, valorizar e considerar a cultura da nossa gente”, completa Andrea Santana.
Serviço
Rio de Vozes
Estreia hoje (17) no Cinema do Dragão
Sessões:
20h15: dias 17, 19 e 22
18h: dias 18, 20 e 23
Mais informações: @cinemadodragao