InícioImóveisAndré Montenegro: “quem investir em inovação na construção vai ter grandes resultados”

André Montenegro: “quem investir em inovação na construção vai ter grandes resultados”

O empresário André Montenegro é um entusiasta da inovação. Presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Ceará (Sinduscon-CE), ele vê ainda mais oportunidades em seu setor. “Quem investir em inovação na construção, por menor que ela seja, vai ter grandes resultados”, afirma. “A gente constrói da mesma forma que a gente construía há 200 anos”.

O caminho a ser percorrido é longo, mas ele decidiu dar os primeiros passos. O investimento foi em pré-fabricação: as unidades são feitas na indústria e apenas montadas no canteiro de obras. A capacidade de produção é de até 30 casas por dia. A tecnologia também pode ser usada para edifícios de até 18 andares, com o primeiro a ser erguido em Maranguape.

Mais velocidade, menos custos. A qualidade, diz André, também está garantida com o controle total da produção. Assim, nasceu um novo negócio. Além de atender a sua própria incorporadora – a Morefácil – a produção da Olé Casas também é vendida a outras empresas. Em busca de um mercado mais robusto, ele também criou a Próspero, que fará pré-fabricados no Interior de São Paulo.

Inovação também é pauta no Sinduscon-CE, que realiza nos próximos dias 19 e 20 o InovaConstruir Experience. “Serão dois dias para discutir a engenharia, que é a nossa essência”, diz o presidente, que destaca a presença de cases nacionais e internacionais. Ainda na agenda de setembro, de 26 a 29, a entidade realiza seu feirão de imóveis no shopping RioMar. Ele diz que será um dos maiores da Cidade e avisa: “quem estiver esperando momento melhor para comprar imóvel não vai encontrar”.

Apontando boas perspectivas, André Montenegro fala sobre mercado, tecnologia, política e sucessão. Confira.

André Montenegro
André Montenegro

Você levanta a bandeira da inovação na construção no discurso e na prática. Como está o seu negócio de pré-fabricação?

Uma tendência da construção civil é a pré-fabricação. Com isso você deixa de gerar resíduos, a obra fica mais previsível, se torna uma montagem. Com isso você tem lucros melhores, você consegue velocidade melhor e qualidade mais lata. É uma tendência mundial. E aqui nós começamos com uma tecnologia chamada Olé Casas, para atender principalmente ao Minha Casa Minha Vida, mas essas paredes servem para qualquer obra. No ano passado, nós também introduzimos parede de concreto pré-fabricada, com a qual podemos fazer prédios de até 15, 18 andares.  Estamos fazendo o primeiro em Maranguape, é um sucesso absoluto. Com esse sucesso, nós abrimos também uma empresa em São Paulo, em Indaiatuba. A nossa empresa se chama Próspero, especialista em pré-fabricação para o mercado imobiliário. Nós fabricamos muro, parede para casas, apartamentos e realmente estamos tendo sucesso porque é uma tecnologia inovadora que traz a diminuição de custos.

Essa tecnologia é usada em suas obras, mas também fornece?

Nós tanto fabricamos para a nossa incorporadora, que é a Morefácil, como também fabricamos para outros parceiros. Nossa intenção com essa fábrica é isso, por isso procuramos um mercado maior, que é o Interior de São Paulo.

O quanto essa tecnologia pode baratear a construção?

Dependendo da quantidade. Quanto maior o número de unidades, mais baixa o custo, vai de 5% a 30%. A fábrica pode ser facilmente ampliada. Consigo montar uma fábrica em 15 dias no máximo, também posso ampliá-la numa velocidade grande. Existe uma fábrica em Juazeiro do Norte e Crato em que eu faço 30 casas por dia, como tenho fábricas em que faço duas casas por dia.

Que outras tecnologias devem impactar o mercado da Construção Civil?

A gente tem impacto grande na parte de gestão, com ferramentas que conseguem quantificar um projeto de engenharia de forma muito incisiva. Você consegue compartilhar os projetos para não ter erro na obra. Nós temos uma tecnologia chamada BIM, de desenho e de gerenciamento, que traz ganho de produtividade, reduz erros na obra. Tem várias outras, estrutura metálica, drywall. A construção tem um caminho muito grande para nós. Sempre digo nas minhas palestras que quem investir em inovação na Construção Civil, por menor que ela seja, vai ter grandes resultados porque a gente constrói da mesma forma que a gente construía há 200 anos.

Qual a abertura do setor no Ceará para essas inovações?

As pessoas têm o costume de ficar na zona de conforto. Então não é fácil você implementar uma inovação, principalmente quando ela envolve grandes custos. É uma mudança de paradigma. Quando você trabalha com pré-fabricação, você vai trabalhar mais planejamento e menos obra. Muda totalmente seus conceitos. A obra é uma montagem do que foi feito na fábrica. Então as pessoas têm um certo receio, mas quando veem o nosso resultado elas querem vir para o nosso lado.

Como isso chega ao consumidor?

É aquela filosofia da indústria moderna de fazer mais com menos. Quando a gente pré-fabrica a gente realmente tem condição de fazer mais por menos e a tendência é baratear o imóvel para o consumidor final e a qualidade também. Uma coisa é você ter o controle na fábrica, cada parede, rastreabilidade, resistência. Outra coisa é você ter a forma como fazemos há 200 anos, construindo tijolinho a tijolinho, que não tem esse controle tão grande. Então ganha na qualidade e no preço.

Como está o mercado imobiliário no Ceará?

Nossa crise ainda persiste, mas a gente está vendo que vai melhorar. A Caixa, os bancos estão com uma nova linha de financiamento reajustada pelo IPCA, onde há barateamento dos juros e com isso vai permitir que mais pessoas tenham acesso ao empréstimo. Ou seja, aquela prestação que era R$ 2 mil vai ficar R$ 1,5 mil. Barateou de 30% a 50%. A gente acha que com essa medida, agora no segundo semestre, tenha um reaquecimento, embora pequeno. E vai melhorar a partir do primeiro semestre do próximo ano, principalmente para desovar nossos estoques. Temos um estoque de 6 mil unidades em estoque, já foi bem maior, 11, 12 mil unidades.

As empresas voltarão a lançar?

As empresas estão voltando a se estocar de projetos, ou seja, estão tirando alvarás e deixando em prateleira, se preparando para melhora do mercado.

Qual o perfil desses projetos em prateleira?

A gente está vendo que o que vende bastante é Minha Casa Minha Vida, nas faixas 1,5, 2 e 3, que são imóveis de até R$ 200 mil, que reflete o que é a nossa população. 95% do déficit habitacional brasileiro está em quem ganha de um a cinco salários mínimos. Então são esses imóveis a que essas pessoas têm acesso. Também, com ajuda do programa Minha Casa Minha Vida com subsídio e juros mais baixos. Então 2/3 dos lançamentos, dos imóveis vendidos no Brasil nesses dois últimos anos são do Minha Casa Minha Vida.

E como está a faixa 1, em que a contratação é feita pelo Governo?

O faixa 1, em que a construtora é uma contratada da Caixa Econômica ou Banco do Brasil e vai recebendo o seu dinheiro mês a mês depois das medições. Esse programa está sofrendo muito com a descontinuidade dos pagamentos. Tivemos uma descontinuidade no primeiro trimestre, o Governo deixou de pagar uns dois, três meses, as construtoras sofreram demais. O Governo colocou em dia, mas agora já voltou a atrasar e já está havendo paralisação das obras. Isso é muito grave. Aqui no Ceará, devemos ter na próxima semana três mil funcionários demitidos. Isso é muito triste, num momento em que precisamos tanto gerar emprego.

O Sinduscon vai realizar um feirão neste mês. Como será?

Ano passado, nós fizemos o nosso primeiro feirão. Tivemos um feirão da Caixa no primeiro semestre e fizemos um feirão do Sinduscon no segundo semestre. Nós fomos procurados pela Caixa neste mês para quem realizássemos um feirão em que ela entraria com patrocínio máster porque ela não vai realizar um feirão dela. Então nós estamos organizando um feirão para os dias 26, 27, 28 e 29 de setembro, que acontecerá no estacionamento do shopping RioMar. Esse feirão vai ter o patrocínio da Caixa, o apelo grande de financiamento com essa nova forma. Estamos esperando um grande fluxo de clientes para esse feirão. Acreditamos que vai ser um grande sucesso.  É o grande momento para o comprador adquirir o seu imóvel porque o mercado está muito ofertado, as empresas estão fazendo grandes ofertas, os juros estão baixos, os bancos têm recursos. Quem estiver esperando momento melhor para comprar imóvel não vai encontrar.

Quantas empresas vão estar no Feirão?

Teremos 50 estandes de venda. É um feirão grande. Queremos colocar o maior número de empresas dentro desse feirão, vamos fazer um grande feirão de imóveis em Fortaleza, talvez um dos maiores.

Outra agenda deste mês é o InovaConstruir. Que novidades serão trazidas para o evento?

O InovaConstruir Experience é o maior evento de inovação do nosso país no que tange a engenharia. Já é a quarta edição, esse ano está muito movimentado, serão dois dias para discutir a engenharia, que é a nossa essência. A gente traz cases de inovação nacionais e internacionais só em construção. O carro chefe desse nosso evento vai ser a palestra de uma empresa holandesa que fez as ilhas palmeiras de Dubai. Temos também a ampliação da fábrica da Airbus em Hamburgo, que é uma empresa alemã. Além disso é um excelente networking porque nós temos empresários do Brasil todo, academia, estudantes. Como foi nas outras três edições, esperamos que seja um grande sucesso.

Vocês realizaram, também em setembro, um seminário jurídico. Qual a principal pauta do setor nesta seara?

Temos várias pautas, primeiro uma importantíssima que foram os distratos. Os distratos vieram como um câncer para a construção, não bastou a crise. Existia uma jurispurduência de que tínhamos que devolver o dinheiro para cliente imediatamente. Isso não é possível porque muito dos recursos foram empregados em cimento, cerâmica, estava aplicado. Isso criava um desequilíbrio econômico-financeiro no próprio prédio. Conseguimos uma lei, que está sendo divulgada, como é sua aplicação. O grande problema é a insegurança jurídica do nosso negócio. Às vezes você tira um alvará e chega um procurador e questiona aquele alvará. A gente tem que criar segurança jurídica, são bilhões investidos, são anos de trabalho, de estudo.

O setor da construção tem uma relação muito próxima com os municípios. Fortaleza passou por muitas mudanças em pouco tempo, em processos, leis etc. Como está o ambiente de negócios para o setor hoje em Fortaleza?

Antes mesmo de o prefeito Roberto Cláudio assumir, nós trouxemos para cá os candidatos e mostramos nossos anseios. Um dos grandes era a demora na aprovação dos alvarás, que levava um ano, dois anos. Graças a competência da secretária Águeda Muniz (Urbanismo e Meio Ambiente) e vontade política do prefeito, hoje você tira alvará imediatamente, online. Isso é um grande ganho, é um exemplo para o Brasil. O que precisamos conversar ainda são os cartórios de registro de imóveis. Por exemplo, no meu caso, eu consigo construir uma casa em cinco dias e o cartório me pede 30 dias para escrever uma linha que diz “nesse terreno foi construída uma casa de tantos metros quadrados”. Então tem alguma coisa errada, tempo é dinheiro. Temos que juntos, os notários, construir uma forma melhor de processar isso. Os empréstimos também demoram 30, 60, 90 dias. A gente tem que aprovar um empréstimo como aprova empréstimo para comprar carro. Se você entrar numa concessionária de veículo, seu empréstimo sai na mesma hora. Por que uma casa tem que demorar 60 dias? A gente tem que vencer algumas batalhas burocráticas para tornar o nosso negócio mais viável.

Como é a interlocução da Construção Civil com o Governo Federal? Qual a avaliação de vocês sobre ele?

Existem boas intenções. A liberdade econômica é pauta nossa, vivemos num país capitalista, queremos tirar entraves burocráticos, que a gente sabe que são muito pesados. Esse governo tem essa pauta positiva. Realmente o País não está passando por um momento fácil, a gente até entende. Nós temos um diálogo com a Cbic em Brasília. O diálogo é bom, mas está demorando um pouco. As pautas macroeconômicas demoraram um pouco. A previdência demorou, mas vai ser aprovada, a reforma tributária também está em pauta, além de outras reformas. A inércia é muito grande para a gente quebrar.

Vocês estão otimistas?

Temos boas perspectivas. A pauta é positiva, mas temos um longo caminho para percorrer. A gente vive numa democracia, vive de negociação, isso é importante. Tem que ter um pouco de paciência. O problema é que nós pegamos uma crise muito alongada. Se pegou uma herança maldita.

Você conclui o seu segundo mandato no comando do Sinduscon-CE neste ano. Como você avalia a evolução da entidade nesses anos?

A gente democratizou muito o Sinduscon, com uma estrutura executiva muito interessante. Procuramos prestar um serviço para os associados, atuamos em várias frentes, abrimos vários caminhos, procuramos ser proativos em vez de reativos. Hoje compartilhamos boa relação com o poder público. Faço questão de dizer: somos políticos apartidários. Somos a favor de propostas boas e proposta ruim vamos criticar. Dentro disso, procuramos desenvolver boas relações. Abrimos diálogo com as concessionárias Cagece, Enel… com os cartórios, com a Prefeitura, com o Legislativo, com os bancos, temos boa atuação na Cbic. Estamos deixando uma administração bem compartilhada, onde todos falam, todos têm direitos, as decisões são democratizas. E prestação de serviço, prestamos serviços bastante interessantes para os nossos associados.

Você atravessou, como presidente, um momento crucial que foi o fim da obrigatoriedade da contribuição sindical. Como o Sinduscon passou por esse período?

Com prestação de serviço. Nos preparamos para não ter esse recurso, para mostrar ao empresário que vale a pena ele ser associado ao Sinduscon e contribuir com a entidade. Temos também bom relacionamento com os fornecedores, procurando patrocínio, captação de recurso.

Qual a sua expectativa para a gestão do Patriolino Dias como presidente do Sinduscon?

Aqui nós elegemos um grande empresário, que é o Patriolino (Dias), um amigo, já era nosso vice-presidente, conhece bem o Sindicato. É um jovem empresário competente, está empolgado, está querendo fazer um bom trabalho e tem o apoio da Diretoria. Ele foi aclamado, isso é importante. O Sindicato permanece o mesmo, vai melhorar muito mais do que a gestão anterior porque a gente espera que com a união de todos ele dê continuidade a esse trabalho.

Você vai assumir como vice-presidente na Fiec. Quais são as expectativas para lá?

A Diretoria fez um trabalho interessante, a Fiec reconheceu e estou indo para lá como vice-presidente. Vamos tentar contribuir com o Ricardo Cavalcante para fazermos uma gestão interessante na Fiec. As expectativas são as melhores possíveis. O presidente Beto Studart deu uma saneada e entregou para o Ricardo uma Fiec toda estruturada, saneada financeiramente. O Ricardo é um cara que já estava na administração, conhece bem a Fiec, tem bom trânsito com todos os presidentes de sindicato. Acreditamos que será uma boa gestão.

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