Ambientada no sertão nordestino, novela ‘No Rancho Fundo’ estreia nesta segunda-feira na Globo

Promessa das 18h, No Rancho Fundo estreia hoje, ambientada na Paraíba, aquecendo debate sobre os recortes feitos em produções audiovisuais que retratam o Nordeste. Trama traz o garimpo e os romances clichês da faixa como fios condutores  

Danielber Noronha 

danielber@ootimista.com.br

Do streaming à TV aberta, os estados nordestinos têm sido cada vez mais requisitados como cenário de produções audiovisuais, como mostra a novela No Rancho Fundo, que estreia hoje (15), na faixa das 18h, na TV Globo. Entretanto, o próprio folhetim, ao divulgar as primeiras imagens do elenco caracterizado, reacendeu um debate que tem ganhado cada vez mais força nas redes sociais: porque retratar o Nordeste sempre, ou quase sempre, pelo olhar da seca, da miséria e da ideia de um povo sem instrução, estereótipos que há tempos estigmatizam o povo nordestino?

Este é o segundo folhetim de autoria de Mauro Teixeira, que recorre ao agreste como pano de fundo em um curto espaço de tempo. A primeira foi Mar do Sertão (2022), que trazia entre os enredos, um agricultor que conversava com um burro e uma cidadezinha aplacada pela pobreza extrema. O que se coloca em questão, vale ressaltar, não é a capacidade dos realizadores e atores envolvidos – e nem poderia, pois Enrique Díaz brilhou na pele do matuto atrapalhado – e muito menos que essas situações não existam pelos confins dos estados nordestinos. O motivo de crítica aqui se deve à falta de profundidade na escolha de temáticas a serem abordadas.

A partir da própria trama de No Rancho Fundo, é possível perceber a presença de vários clichês, começando pela protagonista, Quinota (Larissa Bocchino), que acha estar apaixonada pelo galanteador Marcelo Gouveia (José Loreto). Ele, porém, desonra a moça e não quer saber de compromisso. É quando entra em cena a personagem de Andrea Beltrão, Zefa Leonel, mãe da mocinha, que quer obrigar o rapaz a casar com a filha para que ela não fique falada na cidade. É ou não uma história que sempre é usada para narrar o Nordeste?

A escolha do núcleo de dramaturgia em apostar em uma trama tão semelhante não é por acaso e pode ser explicada por vários fatores. O maior deles é o fracasso em audiência do remake de Elas Por Elas (2023), fazendo-os recorrer a uma espécie de spin-off de Mar do Sertão. A sucessora seria uma novela escrita por Lícia Manzo, responsável pelo sucesso A Vida da Gente (2011). Entretanto, a emissora enxergou pouco apelo popular na sinopse, fazendo com que a trama de Teixeira saltasse uma casa e ganhasse a vez.

O sucesso durante a exibição de Mar do Sertão foi tão satisfatório, que o autor decidiu resgatar vários personagens de lá na nova trama. Ao todo, 11 retornam, incluindo Sabá Bodó (Welder Rodrigues) e o Delegado Floro Borromeu (Leandro Daniel), além da vilã Deodora, defendida brilhantemente por Debora Bloch. Ela promete abalar as estruturas da fictícia cidade de Lapão da Beirada, na Paraíba, como nome responsável pelo Cabaré Voltagem.

A trama

Discussões à parte, No Rancho Fundo recorrerá ao bom e velho romance impossível como fio condutor, pois, apesar de achar que tinha algum sentimento por Marcelo, Quinota, ela vai se apaixonar mesmo é por Artur Ariosto (Túlio Starling), o melhor amigo do sujeito que com quem ela se deitou.

Uma disputa pelas terras onde eles residem acrescentam contornos à narrativa, pois a matriarca é convicta de que as terras pertencem ao seu cão e não à família de Primo Cícero (Haroldo Guimarães). No chão que resguarda minas consideradas sem valor para exploração, Zefa vai até o fundo da Gruta Azul e se depara com uma turmalina paraíba. O achado garante aos Leonel Limoeiro uma vida bilionária, com acesso a um universo luxuoso jamais visto, sequer sonhado. Do rancho a família passa a morar no movimentado Grande Hotel São Petersburgo. No contato com o poder, os valores pregados pela mãe aos filhos são postos em xeque e a pedra acaba atraindo olhares indesejados e perigosos.

O elenco, mesclado de rostos novos e veteranos, traz Alexandre Nero, Eduardo Moscovis, Valdineia Soriano, Thardelly Lima, Igor Fortunato, Andréa Bak, o fortalezense Igor Jansen, e, ainda, Clara Moneke, a irreverente “Katelícia” de Vai Na Fé (2023). Luisa Arraes é a vilã principal, enquanto Larissa Bocchino estreia como protagonista. Se a fusão de todos esses elementos será bem aceita como Mar do Sertão, o tempo dirá. Contudo, fica o apelo constante pela necessidade, já atrasada, de lançar novos olhos diante da vastidão cultural que pulsa em cada estado do Nordeste.

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No Rancho Fundo 
Nova novela das 18h da TV Globo estreia hoje (15)

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