A partir do relato de Fabiana Justus, conheça as causas da menopausa precoce, os efeitos e como amenizar sintomas

Aos 38 anos, Fabiana Justus revelou que está vivenciando uma menopausa precoce, induzida pelo tratamento contra o câncer. Para explicar o tema, Tapis Rouge traz especialistas que alertam para sintomas como fogachos, insônia e riscos à saúde, em uma conversa necessária sobre um tema ainda considerado por muitos um tabu

Sâmya Mesquita
samyamesquita@ootimista.com.br

Aos 38 anos, a influenciadora digital Fabiana Justus, filha do empresário Roberto Justus, usou as redes sociais esta semana para abrir o coração sobre uma realidade que muitas mulheres enfrentam em silêncio: a menopausa precoce, condição que surgiu como efeito colateral do tratamento contra a leucemia mieloide aguda.

“Durante os tratamentos, os médicos induzem a menopausa para tentar proteger os ovários. Atualmente, estou na menopausa precoce. Há 70% de chance de ser permanente, mas mantenho a esperança de que meu corpo volte ao normal depois de dois anos do transplante”, revelou. A história revisita uma questão de saúde pública pouco discutida: a menopausa antes dos 40 anos, que afeta cerca de 1% das mulheres e exige uma abordagem médica multidisciplinar.

Mas, afinal, o que caracteriza essa condição? De acordo com Leonardo Bezerra, ginecologista e especialista em saúde feminina, a menopausa precoce acontece quando “os ovários param de funcionar antes dos 40 anos, levando à queda drástica dos hormônios femininos, principalmente o estrogênio”. Ele explica que as causas podem ser variadas: “Fatores genéticos, doenças autoimunes, tratamentos como quimioterapia e radioterapia, ou até mesmo cirurgias que removem os ovários”. Sidney Pearce, ginecologista da Rede Oto, complementa: “Endometriose grave e múltiplas cirurgias ovarianas também podem acelerar essa falência, deixando a mulher vulnerável a uma série de complicações”.

Os sintomas vão muito além dos famosos “calores”. “Alterações de humor, insônia, secura vaginal, diminuição da libido e até mesmo dificuldade para manter o peso são sinais comuns”, afirma Bezerra. Pearce ressalta que, em alguns casos, os primeiros indícios podem ser sutis: “Muitas mulheres notam primeiro alterações no sono ou uma irritabilidade incomum antes mesmo de a menstruação desaparecer”. O problema, segundo os especialistas, é que a falta de estrogênio não afeta apenas o bem-estar imediato: ela aumenta o risco de doenças cardiovasculares, osteoporose e até declínio cognitivo precoce.

Cuidados específicos
No caso de Fabiana Justus, a menopausa foi induzida para proteger o sistema reprodutivo durante a quimioterapia. Ela optou por congelar óvulos antes do tratamento, uma decisão que Sidney Pearce considera fundamental: “A criopreservação de óvulos ou embriões é uma estratégia eficaz para mulheres que desejam preservar a fertilidade antes de tratamentos agressivos”. Ele explica que o procedimento é rápido e pode ser feito em cerca de 10 dias, mas muitas pacientes nem sabem que essa possibilidade existe.

Outro ponto crucial é a reposição hormonal que, quando bem indicada, pode aliviar sintomas e proteger a saúde óssea e cardiovascular. “Para mulheres sem contraindicações, como histórico de câncer de mama, a terapia hormonal é uma das melhores opções”, diz Leonardo Bezerra. No entanto, Sidney Pearce alerta que cada caso deve ser avaliado individualmente: “Pacientes com certos tipos de tumores podem precisar de alternativas não hormonais, como medicamentos para fogachos [ondas de calor] ou lubrificantes vaginais”.

Outro alerta dos especialistas é para as consequências da menopausa precoce ao longo dos anos. “O estrogênio tem efeito protetor sobre os ossos, o coração e até o cérebro. Sua falta aumenta o risco de osteoporose, infarto, AVC e até doenças neurodegenerativas”, atesta Pearce. Por isso, o acompanhamento médico deve ser contínuo. “Densitometria óssea, exames cardiológicos e avaliações hormonais periódicas são indispensáveis”, acrescenta Bezerra.

Estratégias
Embora nem sempre seja possível evitar a menopausa precoce, alguns hábitos podem ajudar a reduzir seus impactos. “Manter uma alimentação equilibrada, rica em cálcio e vitamina D, praticar exercícios regularmente e evitar cigarro e álcool em excesso são medidas fundamentais”, indica Leonardo Bezerra. Sidney Pearce complementa: “Alimentos ultraprocessados e conservantes podem agravar os desequilíbrios hormonais. Então uma dieta natural faz diferença”.

Além disso, o acompanhamento psicológico é essencial. “Muitas mulheres enfrentam crises de identidade, ansiedade e até depressão ao lidar com a menopausa prematura”, explicita Pearce. Já Fabiana Justus, que tem usado suas redes para falar abertamente sobre sua experiência, reforça a importância do apoio emocional: “Encaro com fé e informação. Acredito que tudo faz parte de um plano maior”.

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