Exposição “Turbilhão” estreia no MIS com fotografias de artistas brasileiros encontradas em raro acervo na França

Guardadas por décadas em uma instituição francesa, fotografias brasileiras dos anos 1950 e 1960 finalmente encontram seu público no Ceará. O Museu da Imagem e do Som inaugura, nesta quinta-feira (4), a exposição “Turbilhão”, que integra a Temporada França-Brasil 2025 e revela um capítulo pouco conhecido da história da fotografia nacional

Sâmya Mesquita
samyamesquita@ootimista.com.br

Se o passado costuma revelar surpresas, no Museu da Imagem e do Som do Ceará (MIS) o encontro com a história ganha a grandiosidade de uma descoberta cinematográfica. Nesta quinta-feira (4), o equipamento abre ao público “Turbilhão”, exposição que reúne fotografias brasileiras das décadas de 1950 e 1960 que, até pouco tempo atrás, estavam guardadas — e praticamente esquecidas — em uma instituição francesa. Achadas pelo pesquisador brasileiro Lucas Menezes, durante investigação acadêmica. Agora essas imagens ressurgem como um convite ao encantamento e à revisão do que se conhece sobre a fotografia nacional.

Instalada no +2 do Anexo do MIS, a mostra integra a Temporada França-Brasil 2025 e apresenta 47 fotografias de 30 autores que marcaram a modernização do olhar fotográfico no pós-guerra. A descoberta do acervo é resultado direto da pesquisa de doutorado de Lucas Menezes, responsável também pela curadoria da mostra. “Encontrei essas imagens na Sociedade Francesa de Fotografia, em 2008. Elas estavam marcadas apenas como fotografias do Brasil, sem maiores informações, e aquilo me intrigou”, resgata Menezes, lembrando o primeiro contato com o material. A partir de então, ele iniciou um processo de investigação que durou anos. “Essa exposição é o resultado de uma pesquisa de quase 20 anos, dedicada a entender quem eram esses fotógrafos, que imagens eram essas e por que elas estavam na França”, afirma.

Fotografia coletiva

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(Foto: Brendon Campos/Divulgação)

Entre os autores presentes na mostra, destacam-se nomes fundamentais da fotografia brasileira moderna, como Chico Albuquerque, Geraldo de Barros, Thomaz Farkas, Nelson Korjanski, Gaspar Gasparian, Eduardo Salvatore, José Yalenti, Marcel Giró e José Oiticica Filho. A variedade de estilos e referências reflete o ambiente vibrante dos fotoclubes, espaço de encontro entre amadores e profissionais que buscavam firmar a fotografia como expressão artística. Menezes ressalta esse caráter coletivo: “São obras criadas por fotógrafos que vinham de diferentes regiões do Brasil, mas também por imigrantes e filhos de imigrantes europeus e japoneses, todos contribuindo para uma convergência estética única”, destaca o curador.

O experimentalismo também marca a coleção, que reúne cenas do cotidiano, paisagens rurais e urbanas, abstrações e fotografias modernistas que dialogam com técnicas variadas de tomada e ampliação. Para Menezes, essa riqueza revela o papel das trocas internacionais na formação dos fotógrafos brasileiros. “Havia um movimento intenso, quase um turbilhão de influências, entre Brasil e Europa. Essas imagens testemunham isso”, atesta.

Ecossistema artístico
Além das fotografias, a exposição apresenta reproduções de revistas, livros, catálogos e manuscritos que ajudam a reconstruir o contexto da época. Esses materiais evidenciam ciclos de circulação e recepção das obras, tanto no Brasil quanto no Exterior. Para o curador, revelar esse contexto é tão importante quanto exibir as imagens em si. “Quis mostrar não apenas as fotografias, mas o ecossistema que as sustentava — as publicações, as trocas, as exposições que fizeram essas obras existirem em diálogo com o mundo”, detalha o pesquisador.

Ao trazer a mostra ao MIS, Lucas Menezes comemora o fato de finalmente devolver o acervo ao público brasileiro. “É uma alegria apresentar esse material no Ceará. Depois de tantos anos de pesquisa, ver essas obras retornarem e ganharem novos sentidos é muito significativo”, afirma. Para ele, a exposição marca não apenas uma recuperação histórica, mas um gesto simbólico de reconexão: “Compartilhar esse patrimônio com o público é uma forma de reinserir essas imagens na nossa memória cultural”, celebra.

“Turbilhão” busca provocar o visitante a revisitar um capítulo essencial, e até então pouco conhecido, da fotografia brasileira moderna. O público cearense é convidado a reconstruir trajetórias, redescobrir artistas e se deixar envolver por um verdadeiro turbilhão de memórias, influências e descobertas.

serviço

Exposição “Turbilhão”
Abertura nesta quinta-feira (4), às 16h
No Museu da Imagem e do Som do Ceará (MIS) (Av. Barão de Studart, 410 – Meireles. Andar +2 do Anexo)
Classificação indicativa livre
Acesso gratuito

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