Como representar um corpo subalternizado? Como derrubar as paredes das nossas inconsistências enquanto sociedade? São questões como estas que movem a realização do espetáculo “Gato Preto”, do Coletivo Trama de Gato. O público é convidado a enveredar por uma montagem cênica vertiginosa que une literatura, música e dramaturgia para refletir sobre as dimensões psíquicas, políticas e sociais da vida de um assassino.
A apresentação acontece no dia 3 de dezembro (quarta-feira), em única sessão às 19h30, no Theatro José de Alencar (capacidade: 100 lugares – público em cima do palco). Os ingressos – R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia) – encontram-se à venda pela plataforma Sympla (https://bileto.sympla.com.br/event/113278).
Baseado em um conto homônimo do escritor estadunidense Edgar Allan Poe, o espetáculo conta a história de um homem cuja vida é tomada pelo alcoolismo e pela violência. Quando em estado maníaco, o personagem, inicialmente um grande aficionado por animais, acaba por enredar-se numa trama vertiginosa com seu próprio gato, terminando por cegá-lo e enforcá-lo. Como se acompanhasse um programa de televisão, o público assiste então ao processo de degeneração psíquica dessa figura, condenada ela mesmo à morte no fim.
A história também tem como inspiração a canção Strange Fruit, da cantora Billie Holiday, considerada um hino de protesto contra o racismo nos Estados Unidos. Ao evocar imagens perturbadoras de corpos pendurados em árvores, a música escancara a violência contra pessoas negras, especialmente no sul do país. A partir da relação dessas referências culturais, o coletivo atualiza os signos que compõem essas narrativas de horror para o contexto brasileiro e reflete sobre a espetacularização do corpo negro na mídia.
Música e montagem
O solo é protagonizado por Zéis, músico e ator que também assina a direção musical e a trilha original. A atmosfera da encenação é composta por referências que vão do rock grunge ao jazz e blues, passando ainda pela música brasileira experimental. A miscelânea proposta pelo artista parte de sua pesquisa sobre a dimensão dramatúrgica da música e da relação que as texturas musicais fazem com outros elementos que compõem a cena.
“É pensar que a música pode ter, dentro do ambiente do teatro, uma dramaturgia própria que também dialoga com as outras dramaturgias da luz, do texto, da encenação. Então, a música aparece em alguns momentos como números musicais mesmo, mas às vezes ela aparece como ruído, uma composição sonora plástica”, define o artista.
Para o coletivo, são essas escolhas estéticas e mutualidades em cena que provocam os questionamentos propostos pelo espetáculo, ativando suas dimensões sociais e políticas. Montado como um programa de auditório, o espetáculo mobiliza o público a refletir sobre as camadas da representação de corpos dissidentes pela indústria cultural.
“O que buscamos é horizontalizar esses enunciadores do que se costuma chamar de encenação, seja a musicalidade, o figurino, a cenografia, a luz, a própria atuação, a coreografia, a gestualidade e o texto. Equalizar isso e fazer esses pontos de enunciação de um espetáculo confabularem entre si, até se contradizerem. A gente está tensionando a todo momento esses clichês midiáticos, para investigar quais são as potencialidades e as contradições disso. É um jogo aberto” explica Diego Landin, responsável pela encenação do espetáculo.
Serviço
Coletivo Trama de Gato apresenta: “Gato Preto”
Data: dia 3 de dezembro (quarta-feira), às 19h30
Local: Palco Principal do Theatro José de Alencar (Rua Liberato Barroso, 525, Centro)
Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia)
Vendas antecipadas: Sympla (https://bileto.sympla.com.br/event/113278?share_id=1-copiarlink)
Capacidade: 100 lugares
Duração: 90min
Classificação: 16 anos



















