Em “Morra, Amor”, a diretora Lynne Ramsay entrega um retrato denso e hipnotizante da vida conjugal em sua nova obra, exibida em Cannes e no Festival do Rio, que chega aos cinemas brasileiros na próxima quinta-feira (27), com Jennifer Lawrence e Robert Pattinson nos papéis principais
Gabriel Amora
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Com “Morra, Amor”, a diretora Lynne Ramsay reafirma sua vocação para o cinema do incômodo, aquele que prefere evocar em vez de explicar e sugerir em vez de conduzir. Adaptado do romance homônimo de Ariana Harwicz, o filme se estrutura menos como narrativa e mais como experiência sensorial. O que importa não é o que acontece, mas o que se sente, não o enredo, mas o estado de perturbação que ele provoca.
A história acompanha Grace (Jennifer Lawrence), uma mulher grávida que se muda com o marido (Robert Pattinson) para uma casa no interior em busca de um recomeço. O isolamento, porém, não traz paz. Pelo contrário, intensifica o colapso emocional que já se insinuava. A floresta ao redor, o silêncio persistente e a casa marcada por um suicídio anterior reforçam a sensação de aprisionamento. Nada está fora do lugar, mas tudo parece desalinhado.
Nesse contexto, Lawrence constrói uma performance intensa e física. Grace não é apresentada como vítima nem como heroína, mas como um corpo em tensão prestes a romper. A maternidade iminente pesa sobre ela, e o convívio com o marido, presente, mas emocionalmente distante, revela uma intimidade sufocante. A presença masculina não é vilanesca, mas a indiferença machuca mais do que qualquer agressão explícita.
Ramsay conduz a narrativa a partir dos sentidos, fazendo do som um elemento decisivo. Ruídos cotidianos, como o zumbido de insetos, latidos insistentes ou o ranger de portas, ganham força simbólica. Eles não apenas compõem o ambiente, mas invadem a experiência do espectador, assim como a vida da protagonista, traduzindo o desgaste mental de Grace que cresce a cada plano.
A câmera também contribui para essa sensação de confinamento. Frequentemente, o corpo da personagem é enquadrado em lugares limitados, como se a casa e a floresta trabalhassem para reduzir sua presença. Cada ambiente parece menor do que o necessário, reforçando a impressão de que o espaço conspira contra qualquer tentativa de liberdade.
Por fim, “Morra, Amor” não oferece respostas. Não há reviravoltas nem redenção. O filme observa, com frieza formal quase cruel, como o amor pode adoecer, como a maternidade pode sufocar e como a indiferença pode ser tão violenta quanto qualquer palavra dita em grito.
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Filme “Morra, Amor”
Estreia nesta quinta-feira (27)
Duração: 1h 58min
Comédia, Drama, Suspense






















