Lino Villaventura encerra SPFW celebrando 50 anos de carreira

Lino Villaventura transformou o encerramento da 60ª edição do São Paulo Fashion Week em uma celebração poética de seus 50 anos de carreira. Fiel à teatralidade e ao rigor artesanal que marcam sua obra, o estilista radicado no Ceará apresentou um desfile que uniu memória e experimentação, reafirmando sua posição como um dos grandes nomes da moda brasileira

Por Sâmya Mesquita

samyamesquita@ootimista.com.br

Lino Villaventura encerrou a 60ª edição do São Paulo Fashion Week com um espetáculo à altura de seus 50 anos de trajetória. O estilista, um dos nomes mais emblemáticos da moda brasileira, transformou a passarela do Pavilhão das Culturas Brasileiras, em São Paulo, em um mosaico vivo de formas, texturas e memórias: uma verdadeira colagem visual de meio século de criação.

O primeiro look já anunciou o tom do que estaria por vir: um macacão masculino inteiramente coberto por colagens de tecidos nervurados, coloridos e estampados, que chegava a cobrir o rosto do modelo. Era a síntese do universo villaventuriano — teatral, artesanal e até futurista. A partir daí, looks masculinos e femininos se alternaram entre o urbano e o festivo, desfilados em performances coreografadas, com poses dramáticas para os fotógrafos.

Entre os destaques, nomes como Vivi Orth, Pathy Dejesus e Sérgio Marone cruzaram a passarela em produções que iam do experimental ao escultural, reafirmando o olhar de Lino sobre o corpo como território de expressão. Cada peça parecia narrar um fragmento de sua história: das nervuras e volumes arredondados aos bordados exuberantes e ao uso ousado de tecidos e cores. O desfile coroou não apenas o fim da edição número 60 do evento, mas também uma carreira que se confunde com a própria história do SPFW: Villaventura participou de todas as 60 edições da semana de moda desde a criação do evento.

Raízes além do Ceará
Ao longo dessas três décadas de São Paulo Fashion Week, o estilista paraense radicado em Fortaleza colecionou momentos antológicos. Já levou modelos com lentes de contato brancas, encenou um beijo entre duas mulheres, apresentou maquiagens teatrais e desfiles performáticos que desafiaram a fronteira entre moda e arte.

A trajetória de Lino começou em Belém do Pará, onde ainda jovem costurava roupas para sair com os amigos. O que era passatempo tornou-se destino e, ao mudar-se para Fortaleza, ele consolidou uma identidade marcada pela experimentação e pela força da cultura artesanal. Ao lado de Inez Villaventura, fundou em 1982 a marca que levaria seu sobrenome — e, mais tarde, o colocaria entre os criadores mais inventivos da moda brasileira. “Sou paraense, mas foi no Ceará que meu trabalho ganhou corpo. Sempre busquei uma estética com alma, que respeitasse o feito à mão”, conta.

Sua primeira grande consagração veio em 1996, na estreia do Morumbi Fashion Brasil — evento que daria origem ao SPFW. Desde então, Lino nunca deixou de surpreender o público com desfiles que mais parecem performances visuais, misturando moda, teatro e artes plásticas. De lá para cá, ainda fez o figurino dourado para Ney Matogrosso, criado para o show Bloco na Rua com aplicações que pesam três quilos, e o vestido usado por Taís Araújo no Festival de Cannes em 2024, com drapeados que simulam escamas de peixe. Aos 74 anos, ele ainda desenha com as mãos: dispensa croquis e moldes prontos, preferindo manipular diretamente o tecido, guiado pela intuição.

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