Celebrando 50 anos de carreira, José Guedes abre exposição “Memória e Resistência”, neste sábado, no Mauc

Entre memórias pessoais e reflexões coletivas, José Guedes revisita meio século de trajetória artística na exposição “Memória e Resistência”, que abre neste sábado (23), no Museu de Arte da UFC. A mostra reúne pinturas, objetos e instalações em vertentes conceituais, convidando o público a interagir como coautor das obras

Sâmya Mesquita
samyamesquita@ootimista.com.br

Quem entrar no Museu de Arte da UFC (Mauc) neste sábado (23), das 9h às 13h, não vai encontrar apenas pinturas, objetos e instalações emolduradas pelo silêncio reverente típico das exposições tradicionais. O convite feito por José Guedes para a mostra “Memória e Resistência” é outro: estar disposto a pensar, criar, se inquietar e até se tornar coautor das obras. A abertura integra a programação especial do Mauc Aberto.

Com mais de cinquenta anos de carreira, o artista cearense apresenta ao público fortalezense um recorte de vertentes conceituais pouco exploradas localmente em sua trajetória. Segundo o curador Roberto Galvão, a proposta é “retirar o visitante da posição de simples e passivo observador, desafiando-o a pensar, remexer os seus próprios conceitos e, como um parceiro do artista, sonhar outras obras, criar, complementar ou expandir o trabalho que analisa”. A escolha da palavra “resistência” no título da mostra dá pistas de que a experiência vai além da contemplação estética.

Para Guedes, essa interação é essencial. “Mais do que tentar provocar um prazer estético — algo preponderante na minha pintura — essa mostra se utiliza, quase na sua totalidade, de materiais do cotidiano, que são reconfigurados sem que a questão estética seja excluída. Isso exige do espectador uma reflexão sobre questões abertas, o que pode levá-lo a conclusões pessoais com a mesma importância e legitimidade das ideias que me levaram a produzir as obras. Isso torna o espectador um coautor”, detalha o artista ao Tapis Rouge.

O título da exposição remete a memórias pessoais atravessadas por contextos políticos e históricos. “As minhas memórias estão impregnadas de questões políticas. As perseguições que a minha família sofreu na ditadura militar produziram marcas indeléveis em mim. Não como revolta, mas como consciência e motivação para trabalhar, tentando contribuir para que o mundo venha a se tornar melhor. Isso é facilmente identificável no contexto da minha produção”, diz Guedes.

Legado em construção
Nascido em Fortaleza em 1958, José Guedes conquistou seu primeiro prêmio no Salão dos Novos de 1973, aos 15 anos, marcando o início de uma trajetória que extrapolou a criação individual. Sua atuação como gestor cultural à frente da Casa de Cultura Raimundo Cela e do Museu de Arte Contemporânea do Dragão do Mar foi determinante para a cena artística cearense. “Eu diria que o meu capital sociocultural, minhas interlocuções nacionais e internacionais, foram imprescindíveis para as minhas gestões. As relações que construí como artista, a confiança conquistada nesses mais de 50 anos, contribuíram muito para a quantidade significativa de eventos que conseguimos trazer e formatar, colocando Fortaleza até no circuito internacional”, afirma.

Seja no Brasil ou fora dele, o artista percebe uma recepção atenta à sua obra: “Sinto que o meu trabalho é bem compreendido”. Hoje, suas obras integram acervos de instituições como o Museu de Arte Moderna de São Paulo, o Museu de Arte da UFC, o Museum of Latin American Art, na Califórnia, o Institut Valencià d’Art Modern (IVAM), em Valência, e o Neuhoff Gallery, em Nova York; entre outras coleções no Brasil e no mundo.

Além da arte
A realização de atividades paralelas durante a abertura, integrando a programação do Mauc Aberto, como a sessão de desenho com modelo vivo e ação educativa sobre doenças tropicais, reflete o caráter universitário do equipamento cultural. “Esse diálogo é imprescindível. Principalmente por se tratar de um museu universitário”, observa.

No momento em que Fortaleza se movimenta para consolidar-se como um polo cultural, Guedes reconhece a importância de ocupar espaços institucionais com debates atuais. “A realização dessa mostra foi motivada, principalmente, por essa ambiência. E o Mauc, entre outras instituições públicas e privadas, tem papel fundamental na formação de um público. Esses equipamentos, que outrora consolidavam apenas o já consagrado, têm promovido aberturas para novos artistas e novas ideias. Por isso, pra mim, está sendo bastante estimulante ter a chance de discutir, junto com esse público, as questões suscitadas nessa exposição”, diz.

Com “Memória e Resistência”, José Guedes propõe não apenas a revisão de uma carreira longeva, mas também um exercício de imaginação crítica diante de um mundo em constante transformação. A mostra fica em cartaz até 26 de setembro de 2025.

serviço

Exposição “Memória e Resistência”
Sábado (23), das 9h às 13h
Museu de Arte da UFC (Mauc). Av. da Universidade, 2854 – Benfica
Mais: @museudeartedaufc no Instagram

 

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