Exclusivo: Lino Villaventura celebra exposição no Museu da Fotografia Fortaleza: “Fotos muito fortes”

Moda e fotografia se unem no Museu da Fotografia Fortaleza a partir da próxima quarta-feira (16) com a exposição “Lino Villaventura”, que celebra quatro décadas do estilista paraense de alma cearense. Com 23 looks icônicos e registros de 12 fotógrafos de renome, mostra mergulha no melhor da moda através de tecidos, da ousadia e da identidade que exalam das criações do homenageado

Sâmya Mesquita
samyamesquita@ootimista.com.br

Se moda é arte, Lino Villaventura usa tesouras, tecidos e muita ousadia para construir um acervo artístico único. Tanto é que o estilista responsável por transformar o vestir em experiência estética ganha uma exposição que coloca tais criações no lugar que sempre mereceram estar: as paredes de um museu. A partir da próxima quarta-feira (16), o Museu da Fotografia Fortaleza (MFF) recebe a mostra “Lino Villaventura”, com 23 looks que percorrem quatro décadas de carreira e um conjunto de imagens assinadas por 12 fotógrafos, de Bob Wolfenson a Gentil Barreira. A curadoria de Denise Mattar e o design de montagem de Guilherme Isnard garantem que a visita seja uma imersão não só no trabalho de Lino, mas também nas tendências que atravessaram a moda ao longo dos anos.

A exposição chega ao segundo andar do MFF como coroação de uma trajetória que começou em 1975, quando Lino costurou sua primeira peça no Pará, e se consolidou em Fortaleza, cidade que escolheu para viver e onde abriu sua primeira loja, em 1982. “Sou paraense e tenho uma bagagem muito forte da Amazônia. Mas foi em Fortaleza que eu comecei meu trabalho. E foi muito forte o incentivo que a cultura do Ceará me deu. A originalidade e a identidade são muito importantes, principalmente quando você mostra o trabalho em outros países”, reflete o estilista que conquistou o Brasil desde a primeira edição da São Paulo Fashion Week e ganhou o mundo com desfiles em Amsterdã e Osaka nos anos 1980.

Fotografia como coautoria
A mostra conta a história de vida de Lino pelas lentes de importantes fotógrafos, são eles: Bob Wolfenson, Cecilia São Thiago, César Dutra, Cris Vidal, Debby Gram, Fernanda Calfat, Gentil Barreira, Hick Duarte, Miro, Patricia Devoraes, Rogério Cavalcanti e Tripolli. Destacam-se registros raros como as lentes de Gentil Barreira capturando seus primeiros desfiles nos anos 1980 e as experimentações visuais de Rogério Cavalcanti, que transforma falhas técnicas em poesia.

Para Lino, a exposição é um reconhecimento da fotografia como coautora de seu trabalho. “Quando comecei, eu mesmo fazia fotografias, de forma muito doméstica. Eu gosto de fotografar. E os fotógrafos gostam muito de registrar o meu trabalho: tenho uma relação muito carinhosa com eles. Mas nesta exposição, acredito que tenha algumas fotos muito fortes”, diz o estilista em entrevista exclusiva ao Tapis Rouge.

Denise Mattar, curadora com experiência em exposições como “Pierre Cardin”, revela o critério por trás da seleção: “Foi bem difícil selecionar entre tantas fotos e fotógrafos extraordinários, mas a proposta foi estabelecer um diálogo entre as imagens e os looks”. Ela destaca a evolução técnica visível no acervo: desde o preto e branco analógico de Tripolli até os efeitos digitais de Patricia Devoraes – e como cada fotógrafo interpretou a volumetria característica de Lino. Miro, por exemplo, criou atmosferas oníricas para as roupas, enquanto Fernanda Calfat trouxe a precisão editorial das passarelas de Nova York.

Figurinos icônicos

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(Foto: Hick Duarte/Divulgação)

Os visitantes ainda encontrarão um verdadeiro museu de vestíveis. Entre as 23 peças expostas, três merecem atenção especial: o vestido inaugural, de 1982 e feito com seda pintada à mão, mostra os primeiros traços do estilo escultural de Lino; o figurino dourado para Ney Matogrosso, criado para o show Bloco na Rua, com aplicações que pesam três quilos; e o vestido usado por Taís Araújo no Festival de Cannes em 2024, com drapeados que simulam escamas de peixe. A curadoria ainda inclui um traje interativo: uma assembleia de retalhos que os visitantes podem manipular.

O paradoxo de tradição e vanguarda que define a obra de Lino ganha vida na exposição. Num mesmo espaço, vê-se bordados manuais inspirados no carnaval e vestidos feitos com nylon refletivo. “Sempre pensei na identidade da marca desde a primeira peça. O original é você fazer aquilo que você acredita, que você tem coragem de mostrar. E o artesanato é inspirador: respeito demais a maneira que a cultura é enraizada. Utilizo, mas procuro usar esse incentivo do que é feito à mão no meu trabalho”, explica o estilista.

Aos 74 anos, Lino segue desafiando normas e impactando as novas gerações de estilistas: sua última coleção no SPFW trouxe tecidos biodegradáveis, por exemplo. “Apesar de carregarem um alto grau de experimentação, suas criações dialogam com o desejo de vestir-se com personalidade e emoção”, completa Denise.

serviço

Exposição “Lino Villaventura”

Abertura na quarta-feira (16) às 19 horas. Visitação a partir de quinta-feira (17)
Museu da Fotografia Fortaleza. Rua Frederico Borges, 545, Varjota
Horários: de terça a domingo, das 12h às 17h. Entrada gratuita
Mais: @museudafotografiafortaleza no Instagram

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