Vermelho Monet, dirigido pelo cearense Halder Gomes, chega aos cinemas esta semana. Ao Tapis Rouge, o cineasta celebra o reconhecimento do longa em festivais e convida o público que o conhece pelas comédias a embarcar no drama
Danielber Noronha
danielber@ootimista.com.br
Halder Gomes carrega o humor nas veias, colecionando um número invejável de sucessos cinematográficos no gênero. Conhecido por obras como Cine Holliúdy e Os Parças, o cearense rejeita o título de diretor que “só faz comédia” e mergulhou com força total no drama para filmar o longa-metragem Vermelho Monet, estreia de peso da semana, que entra em cartaz oficialmente nesta quinta-feira (9).
Apesar de mudar o estilo, Gomes diz permanecer em seu mundo particular, uma vez que o filme tem como pano de fundo o universo da pintura, outra grande paixão nutrida por ele ao longo da vida. “Por se tratar de algo que estudei muito, diria que foi muito prazeroso transitar de gênero. Está tudo na mesma pessoa”, pontua.

Ao longo de 135 minutos, Halder Gomes convida o público a pensar sobre a arte e as nuances adquiridas por ela quando transformada em mercadoria. Essas provocações são lançadas a partir do protagonista, Johannes Van Almeida, interpretado pelo brilhante Chico Diaz, um pintor pouco aceito no mercado e com perda gradativa da visão. Em meio à decadência pessoal e profissional, ele encontra na atriz Florence Lizz (Samantha Müller) a inspiração para o que pode se tornar a maior obra da carreira. A narrativa ganha camadas com a chegada de Antoinette Lefèvre (Maria Fernanda Cândido), uma marchand influente que tem o poder de transformar quadros em obras de arte requisitadas.
Em partes, conforme conta o próprio realizador em entrevista ao Tapis Rouge, Vermelho Monet se estabelece como um dos filmes mais desafiadores já feitos por ele, muito embora reconheça todos os desafios também presentes numa comédia, por mais despretensiosa que possa parecer ao espectador, como ocorre na hora de filmar sequências de ação e lutas. “Isso sempre foi e será um desafio físico maior. No entanto, o maior desafio de Vermelho Monet foi transpor para a tela uma visão muito particular e autoral do filme à sua estética barroca e o universo expressionista dos personagens, que são densos, profundos, conflituosos e viscerais em seus anseios particulares diante da arte”, diferencia o diretor.
Ainda segundo ele, o tempo foi um bom aliado do projeto, que teve também o apoio de muitas mãos na feitura, incluindo Carina Sanginitto, diretora de fotografia, e Juliana Ribeiro, nome responsável pela direção de arte. Gomes relata que foi preciso “pintar” com luz cada cena de um jeito meticulosamente calculado, com intuito de firmar uma identidade visual forte.
Outro desafio à parte, mas encarado com precisão pelo cineasta, foi dirigir pratas da atuação como Chico Diaz e Maria Fernanda Cândido. No projeto, ele diz ter se colocado como um “regente que rege o concerto sem partitura”, sendo necessário estar muito preparado, imerso na história e no universo proposto. “São atores que se aprofundam e se apropriam de seus personagens de forma muito intensa. Uma vez que esse conhecimento está afiado, a troca é potente e a entrega do resultado surpreendente.
Êxitos e futuro
Exibido em 15 festivais no Brasil e no Exterior, Vermelho Monet já acumula mais de dez prêmios e deve angariar muitos mais. Neste mês, por exemplo, estará sendo exibido na cidade portuguesa de Porto. Halder Gomes define como “encorajador” e “instigante” o debate proposto na obra e ele espera também que o público raiz de suas comédias permita-se passar por tal experiência. “Filmes não podem passar incólumes, e poder ter vivido essa experiência em vários países aumenta o desejo de entregá-lo ao público em geral. Adoraria ver os fãs dos meus filmes de comédia experimentar este outro universo. Faço aqui o convite”, reforça.
O enredo apresentado pelo diretor ainda nem está disponível nas praças de cinema, mas ele adianta que novos frutos seguindo por este mesmo viés devem ganhar a luz do sol futuramente, tendo ele planejada uma trilogia. “Não é uma obra derivada, e sim outro universo para abordar outros campos da arte. A intenção é unir outros países, desta vez Holanda e Brasil, a uma história de amor que traz em sua paleta predominante o azul”, que continua: “Quero fazer uma imersão no fascinante e revelador mundo das restaurações de obras clássicas. Considero uma trilogia das telas”, arremata.
Mais
Assista ao trailer:
Serviço
Vermelho Monet
Filme estreia nesta quinta-feira (9) nos cinemas brasileiros
Classificação indicativa: 14 anos
Duração: 135 min