Reverenciando Adoniran Barbosa, longa-metragem Saudosa Maloca ganha pré-estreia no Cineteatro São Luiz. Diretor do filme, Pedro Serrano, e um dos protagonistas, o ator Gero Camilo, falam ao Tapis Rouge sobre o legado do ícone do samba e a atemporalidade de sua obra
Danielber Noronha
danielber@ootimista.com.br
Falecido há mais de 40 anos, o paulistano Adoniran Barbosa deixou uma obra que reflete uma São Paulo já não existente. Entretanto, os problemas narrados por eles estão cristalizados na sociedade e não restringem-se apenas à maior metrópole do Brasil. Considerado por muitos o pai do samba paulista, ele ganha vida nos cinemas nacionais a partir da interpretação do ator Paulo Miklos, com o longa-metragem Saudosa Maloca, um dos maiores hinos escritos pelo cantor e compositor. O filme ganhará uma sessão especial hoje (19), no Cineteatro São Luiz, a partir das 19 horas. Além de Miklos, estarão presentes o ator Gero Camilo e o realizador da obra, Pedro Serrano, que conduzirão um bate-papo ao fim da exibição. Os ingressos a preços populares estão à venda no Sympla Bileto.
O cineasta é fã ardoroso do mestre Adoniran, tanto que, em 2015, lançou o curta Dá Licença de Contar, projeto que já trazia no elenco os mesmos atores principais que aparecem no filme que estreia logo mais. Cinco anos mais tarde, veio o documentário Adoniran, Meu Nome é João Rubinato (2020). “Meu fascínio vem da poética única que ele tem e pela linguagem muito própria que ele desenvolveu, um ‘falar errado’ que nada mais era do que a somatória de sotaques que se ouvia e ainda se ouve nas ruas de São Paulo, que ganhava ares de metrópole nos anos 1950 e era composta por migrantes de todas as partes do Brasil”, evidencia Serrano.
A composição Saudosa Maloca serve como a espinha dorsal do longa-metragem, colocando em cena o próprio Adoniran e os personagens criados por ele no samba, tais como Mato Grosso, vivido por Gero, e Joca (Gustavo Machado). A partir dela, o diretor aborda temáticas como a especulação imobiliária, questões de moradia etc. Tudo isso, segundo Serrano, vai sendo costurado por outros sambas e personagens presentes nas letras de Adoniran. “A gente traz falas do Charutinho, personagem interpretado por ele no rádio, causos, contos e crônicas que vão traçando esse panorama de uma São Paulo que foi devorada pelo apetite voraz do progresso”, detalha.
Para o intérprete do Mato Grosso, dar vida a um personagem que sai da música foi uma das partes mais interessantes do processo de construção do filme. “Desde o curta-metragem, sabia que esse filme tinha um mote dramatúrgico que poderia ser aprofundado para os cinemas, com personagens tão ricos e que trazem uma dramaticidade muito boa”, expõe Gero Camilo. Ao Tapis Rouge, ele enaltece a obra de Adoniran Barbosa, a quem compara com o poeta cearense Patativa do Assaré. “Ambos trouxeram questões importantíssimas através de uma linguagem poética. Resgatar Adoniran é resgatar Patativa e a poética humana através de corpos políticos”, defende o ator.
A atemporalidade da obra de Adoniran, que iniciou Saudosa Maloca com os seguintes versos: “Se o sinhô não está lembrado/ Dá licença de contar/ Que aqui onde agora está/ Esse adifício arto/ Era uma casa velha/ Um palacete abandonado”, se faz muito presente na capital cearense, conforme constata Gero Camilo. “Estou hospedado na Praia de Iracema e de frente para o Edifício São Pedro. Faz 30 anos que fico entre idas e vindas do Ceará e nada foi feito. Agora, um monumento maravilhoso vai ser demolido por negligência e especulação imobiliária.” “O filme fala justamente sobre essa cidade que não tem memória, que é destruída e que encobre a vida e a cultura”, compara o artista.
Tanto Pedro Serrano quanto Gero Camilo evidenciam a importância de rememorar a obra de Adoniran Barbosa. Para o cineasta, é importante que as gerações atuais conheçam a figura histórica do sambista. “Ele teve uma importância enorme para a música brasileira, que deve chegar ao conhecimento de pessoas que não têm tanta proximidade com sua obra, além de ser uma forma de discutir temas contemporâneos”, aponta o diretor. No entender de Gero, o longa chega como uma forma de não deixar que figuras do passado caiam no esquecimento. “Não podemos deixar que esses corpos políticos sucumbam como está acontecendo com esses corpos materiais. Eles são a nossa memória, a nossa cultura popular”, completa.
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Assista ao trailer:
Serviço
Pré-estreia de Saudosa Maloca
Hoje (18), às 19h
No Cineteatro São Luiz (Rua Major Facundo, 500 – Centro)
Ingressos: R$ 14 (inteira) e R$ 7 (meia)
Vendas: sympla.com.br