Documentário “Memórias da Chuva”, de Wolney Oliveira, e longa-metragem “Mais Pesado é o Céu”, de Petrus Cariry, serão exibidos no Festival de Gramado, uma das maiores competições do cinema brasileiro. Saiba mais sobre as produções e as expectativas dos diretores
Sâmya Mesquita
samya@ootimista.com.br
Que o cinema cearense é primorosamente talentoso, isso não é novidade. Mas é perceptível que, nos últimos anos, diversas produções locais têm ganhado as salas de cinema de festivais de grande relevância nacional e internacional. Um desses tapetes vermelhos é o do Festival de Gramado, na serra gaúcha, que começa nesta sexta-feira (11) e vai até o dia 19 de agosto. Entre os competidores de toda a América Latina, dois são cearenses: o documentário “Memórias da Chuva”, de Wolney Oliveira, e o longa de ficção “Mais Pesado é o Céu”, de Petrus Cariry.
As duas produções giram em torno de uma base em comum: a extinção da antiga cidade de Jaguaribara, a 162 km de Fortaleza, engolida pela água para a construção do açude Castanhão. Mas embora a premissa seja a mesma, a diferença reside no formato e na abordagem. No caso do documentário de Wolney Oliveira, diretor da Casa Amarela da Universidade Federal do Ceará (UFC), são apresentadas as perdas imateriais que os cidadãos daquela cidade sofreram – e ainda sofrem. Ao Tapis Rouge, o diretor fala sobre ter seu documentário exibido na 51ª edição do festival, no mesmo dia do conterrâneo Petrus Cariry. “São duas gerações de cineastas cearenses e são os dois únicos filmes de ficção e documentário do Nordeste que estão competindo. Então isso prova a força, a pujança e o poder do cinema cearense que nos últimos anos despontou como uma das principais cinematografias do País, ganhando prêmios aí pelo mundo todo. Acho que isso impacta fortemente na geração de novos cineastas”, reflete Wolney, que aponta o trabalho da Casa Amarela Eusélio Oliveira e do Cine Ceará, do qual é diretor-executivo, como efervescentes na propulsão desse cenário.
Wolney foi premiado em festivais do Brasil, Itália, Cuba, México, entre outros. E ele lembra que o cinema nacional é mais que arte: é denúncia. Do mesmo jeito que fez em “Soldados da Borracha” (2019), relatando as mais de 30 mil mortes de nordestinos na Amazônia em plena Segunda Guerra Mundial, “Memórias da Chuva” relata a história de cidadãos que tiveram suas memórias menosprezadas pelos órgãos públicos: “Este é o primeiro longa documentário sobre a história de Jaguaribara e vem dar voz a essas pessoas não ouvidas e, de certa maneira, abandonadas no espaço e no tempo. E que, através do filme, existe uma organização para dar voz a essas pessoas”.
Já no caso de “Mais Pesado é o Céu”, a história ficcional tem ecos na cidade afundada, mas não se restringe a isso. Antônio (Matheus Nachtergaele) e Teresa (Ana Luiza Rios) acolhem uma criança abandonada, mesmo que eles próprios sejam órfãos de sua origem e não tenham previsões de futuro. Petrus Cariry, que já participou do festival com o curta “Dos Restos e das Solidões” (2006), fala do simbolismo em referência à cidade inundada. “A questão de Jaguaribara entra no filme de forma política e poética. Você ter toda uma população removida de uma cidade, alojada em uma outra cidade, construída para elas… É no mínimo estranhíssimo, isso. Porque, de alguma forma, a sua alma fica naquela cidade. Suas dores, por mais que você as carregue. Memórias assim estão sempre com a gente, mas alguma coisa fica ali, né? Naquela cidade submersa, no fundo da represa do Castanhão. É um espanto”, diz o cineasta, que teve seus filmes exibidos e premiados em importantes festivais internacionais de cinema, da Índia a Miami.
“Memórias da Chuva” e “Mais Pesado é o Céu” serão exibidos na próxima segunda-feira (14), a partir das 17h30, e o resultado sai no último dia de evento, às 21h.
Festival de Gramado
O Festival de Gramado, oficializado pelo Instituto Nacional de Cinema (INC) e realizado pela primeira vez em janeiro de 1973, é um dos principais eventos do gênero do País, realizado anualmente no Palácio dos Festivais, no município de Gramado, no estado do Rio Grande do Sul. Desde a sua 20ª edição, em 1992, inclui não apenas produções brasileiras, mas também filmes de origem latinoamericana — de onde vem sua designação oficial, “Festival de Cinema Brasileiro e Latino”. O troféu em formato de sol é o Kikito.
A curadoria desta edição é de Caio Blat, Marcos Santuário e Soledad Villamil. Entre os presentes, estão as homenageadas Laura Cardoso, Léa Garcia, Alice Braga, Ingrid Guimarães e Lucy Barreto. Concorrem também Isis Valverde, Reynaldo Gianecchini, Grazi Massafera, Leticia Collin, Vera Holtz, Marcos Palmeira, Emanuele Araújo e outros grandes nomes.
Mais
Para quem deseja visitar o RS para assistir ao festival pessoalmente, os ingressos para as sessões noturnas estão em fase de definição do formato de acesso. A decisão final depende de prerrogativas da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Acompanhe o Tapis Rouge para saber dessas novidades.
Onde assistir ao Festival de Gramado
LMB e LME | Longas-Metragens Brasileiros e Estrangeiros: Única exibição em televisão pelo Canal Brasil, a partir das 20h.
Cerimônia de premiação | Entrega dos Kikitos: Transmitida ao vivo nos canais digitais do Festival de Cinema de Gramado (YouTube, site e Facebook) e pelo Canal Brasil, na TV e no YouTube.
Entrevistas com filmes concorrentes Brasileiros e Estrangeiros: Nos canais digitais do Festival de Cinema de Gramado (YouTube, site e Facebook).
Serviço
Festival do Cinema Brasileiro de Gramado
De 11 a 19 de agosto
Palácio dos Festivais, Gramado, Rio Grande do Sul
Informações: festivaldegramado.net