Julia Panadés – O potente encontro feminino II – Aldonso Palácio

A artista mineira Julia Panadés é formada em Artes Plásticas pela Escola Guignard, mestre em Artes Visuais e doutora em Literatura Comparada pela UFMG. Além do tema da ancestralidade e o feminino, é no atravessamento e intersecção da escrita e do desenho que o trabalho de Panadés brilha. A obra da artista suscita correspondências na arte e literatura como Clarice Lispector, Louise Bourgeois e Leonilson. 

Os poemas escritos em carbono em folhas de arroz impactam pela simplicidade e ao mesmo tempo pela profundidade. Como ela explica: “são desenhos-poema, quando a palavra se torna imagem”. Seus poemas tomam forma de coisas que transmitem sentimento de familiaridade. Impossível não se deixar envolver, por exemplo, pelo trabalho “A Coragem da Pulga” (2020). A pulga do medo, afinal, precisa de ouvidos atentos.

Existe uma beleza própria de uma sensibilidade feminina que chama a atenção desde o primeiro contato que temos com sua obra. Panadés é cirúrgica na escolha das palavras e com isso convoca o leitor não simplesmente a se identificar com sua obra, mas a ser “atropelado” por ela. 

Panadés também exerce sua poesia em delicadas frases bordadas em tecidos sobrepostos, onde a mensagem se revela ao passar de cada nova folha. Ela afirma que é um exercício de desaceleração da leitura, uma dilatação do tempo que ocorre tanto na produção quanto na recepção da obra – um convite a ler, reler e compreender no tempo presente cada palavra ali bordada.

Sua sensibilidade e potência criativa nos chega, como ela mesmo fala, no seu encontro com outros artistas, como uns “arrombos”. Somos impelidos a repousar em seus desenhos-poemas e quase degustar cada palavra ali selecionada. Se a vida pede pressa, Panadés pede atenção – demorar-se por escolha, não por imposição. O trabalho de Panadés pode ser apreciado na sua página do instagram @panadesjulia.   

(Pela correspondente Caroline Domingues, de Paris)

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