Em bate-papo com O Otimista, o secretário da Cultura do Ceará, Fabiano Piúba, avalia impactos da pandemia na cena artística ao longo de 2021 e projeta iniciativas de apoio e novos equipamentos culturais a serem inaugurados no próximo ano. Confira!
Danielber Noronha
danielber@ootimista.com.br
O ano de 2021, na avaliação do titular da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult), Fabiano Piúba, foi de avanços na retomada da cena artística diante do arrefecimento do cenário pandêmico, mas ainda com ponderações, algo que ele espera ser diferente em 2022. O novo ciclo, prospecta ele, deve ser para experienciar a vida social em sua plenitude. “Para este momento de fim de ano, em que as polaridades estão tão aguçadas, a cultura possibilita esse ambiente do abraço, com respeito e diversidade”, define o gestor.
Para o próximo ano, um dos desafios, segundo Piúba, é retomar os ciclos culturais do estado, em especial os festejos juninos. A decisão do tamanho dos investimentos, porém, dependerá do cenário epidemiológico vigente. Além disso, acrescenta, será um ano de fortalecimento do acesso à cultura a partir de novas infraestruturas a serem inauguradas no Estado, como o Museu da Imagem e do Som do Ceará (MIS), em Fortaleza, e o Centro Cultural do Cariri, no Crato. Em entrevista ao O Otimista, ele deu detalhes de como serão os investimentos para 2022 e se posicionou sobre a suspensão das grandes festas de Réveillon. Confira.
O Otimista – Olhando para o ano que se encerra, como avalia o andamento do setor cultural durante o período?
Fabiano Piúba – Na minha cabeça, é como se 2020 e 2021 fossem um ano só. Fomos tomados pelo contexto pandêmico, que afetou diretamente o setor das artes e da cultura. Com os equipamentos fechados, precisamos nos reinventar. Uma das primeiras ações do governador foi a criação do edital Cultura Dendicasa, para fomentar conteúdo artístico em plataformas digitais. Isso ainda em 2020. Tivemos também a Lei Aldir Blanc. Ela possibilitou investimento de mais de R$ 3 bilhões, descentralizados entre estados e municípios. O Ceará ficou com cerca de 140 milhões, dos quais R$ 68 milhões foram para os municípios e o resto para o Estado. Digo isso porque parte dos projetos selecionados nos editais aconteceram também em 2021. Estamos fazendo um estudo para entender como a Lei Aldir Blanc impactou positivamente o Ceará. Os resultados devem sair até julho de 2022.
O Otimista – Tivemos nos 45 minutos dos segundo tempo a assinatura da lei que cria o Programa Ceará Filmes. Quais os ganhos para o audiovisual a partir disso?
Fabiano – Agora, a gente tem uma lei específica onde será criado um fundo setorial para o audiovisual, além de uma área administrativa na Secult, que é Coordenadoria de Cinema e Audiovisual. O Ceará tem se destacado com filmes como Pacarrete e Greta e o audiovisual tem um lugar muito importante na economia local. Esta ação permitirá a criação de uma política de estado continuada para o desenvolvimento do audiovisual em todo o Estado.
O Otimista – Havia muita expectativa pelo retorno dos eventos de grande porte à medida em que avançasse a vacinação. Como percebe a evolução deste cenário?
Fabiano – A gente ainda está em um contexto de pandemia. Não é aquele de 2020, mas o convívio social retorna gradativamente. A economia retorna e, obviamente, a cena artística também está voltando. Os equipamentos públicos estão recebendo público, mas seguindo todos os protocolos. Temos 2022 chegando com os ciclos da cultura e estamos lançando um edital não de fomento, mas de apoio aos grupos. Por ora, aguardamos o desenrolar do cenário epidemiológico para saber como será o junino, que é o maior deles, para saber se a programação será mais ativa presencialmente ou de forma híbrida. Temos o investimento de R$ 81 milhões para a cultura em 2022.
O Otimista – Por outro lado, tivemos a suspensão das grandes festas de Revéillon. O senhor é favorável à decisão?
Fabiano – Foi uma decisão acertadíssima. Como o governador Camilo Santana coloca: em primeiro lugar vem a preservação da vida. Se existe uma nova cepa circulando no mundo, temos que estar atentos a elas. É necessário para que tenhamos um 2022 com florescimento e renascimento do convívio social de forma plena. Divulgando aqui em primeira mão, queremos fazer o Festival Abrace, que será construído com projetos da Lei Aldir Blanc e isso requer um recuo momentâneo.
O Otimista – Olhando para o futuro, quais as perspectivas para a cultura em 2022?
Fabiano – Temos planejado a inauguração de novos equipamentos culturais que estão sendo finalizados. Em Fortaleza, estaremos entregando o MIS [Museu da Imagem e do Som do Ceará]. Contando com obra e mobiliário, o investimento é na casa dos R$ 49 milhões. Será um equipamento de referência, com restauro e migração de mídia, além de uma condição de política de acervo e fomento às questões da imagem e do som no Estado. Teremos também a Estação das Artes. Contando todas as obras, o investimento é de R$ 82 milhões mais R$ 32 milhões de mobiliário. Requalificamos um bem tomando que estava em pleno abandono. Lá terá o Mercado de Gastronomia, com restaurantes voltados à gastronomia cearense. Vai funcionar também o Centro de Design e a Pinacoteca, que já abre com exposição das obras de Aldemir Martins e Antonio Bandeira em 2022. Terá também o Centro Cultural do Cariri, instalado no Crato, que será localizado no antigo Seminário dos Alemães. Ele funcionará como complexo cultural, com cinema, planetário e área de formação. O investimento é na casa dos R$ 90 milhões. Temos também a Casa de Antônio Conselheiro, em Quixeramobim, onde o Estado fez a reforma e o restauro e passará a funcionar como centro cultural.
O Otimista- Pode deixar também uma mensagem aos cearenses para este fim de ano?
Fabiano – A cultura é um abraço. Ela, na sua epistemologia, vem da palavra cultivo, possibilita o encontro a partir das diversidades, sejam elas étnicas, culturais. Para este momento de fim de ano, em que as polaridades estão tão aguçadas, a cultura possibilita esse ambiente do abraço, com respeito e diversidade. E que, em 2022, possamos nos abraçar de forma plena, abraçando também a diversidade.