No último sábado (17), Fortaleza amanheceu sem mais um prédio centenário. Perfis de redes sociais têm resgatado imagens e histórias de espaços que estão desaparecendo com a especulação imobiliária. O @fortalezanobre é um dos mais expressivos nessa linha
Naara Vale
naaravale@ootimista.com.br
Há uma semana, Fortaleza acordava com menos um prédio centenário de pé. De sexta (16) para sábado (17), um casarão construído por Arlindo Granjeiro Gondim, em 1912, foi colocado abaixo. Conhecida como Casarão dos Gondim, a estrutura localizada na rua General Sampaio, no Centro, estava com documento de tombamento provisório desde 21 de abril de 2011, o que, teoricamente, o protegia contra destruição ou descaracterização. Como o Casarão dos Gondim, centenas de outros prédios foram apagados da história de Fortaleza.
Algumas das histórias desses prédios – e consequentemente da própria cidade – têm sido resgatadas através de arquivos digitais disponibilizados ao grande público através de sites e redes sociais. Um dos projetos mais expressivos nessa linha é o perfil no Instagram @fortalezanobre, gerido pela historiadora e memorialista Leila Nobre. Com 14,2 mil seguidores, a página publica fotos e arquivos de Fortaleza antiga, contando um pouco da história de cada imagem.
A ideia do projeto surgiu da paixão de Leila pelas histórias contadas pelo pai ainda na infância. Mais tarde, a leitura do livro “A Normalista”, de Adolfo Caminha, reascendeu esse encanto pela cidade e, na primeira oportunidade na frente de um computador, deu início às pesquisas e ao arquivamento de fotos e histórias sobre Fortaleza antiga. “Como eu cresci sendo ensinada a amar minha cidade, a conhecer o seu passado, sei da importância desse resgate histórico e cultural. Talvez se fôssemos ensinados a dar valor à nossa história, não veríamos tantas demolições e depredações”, diz a memorialista.
O material garimpado começou a ser disponibilizado em um blog pessoal no início de 2009. “Não achei justo guardar tudo, pois só eu sei a dificuldade que era encontrar algo sobre a cidade antiga. No dia 29 de janeiro daquele ano, publiquei o primeiro texto e foi uma das melhores coisas que eu já fiz na vida!”, conta a pesquisadora, lembrando das dificuldades de achar foto e texto explicativo em um só local. “O objetivo do Fortaleza Nobre é o resgate da Fortaleza antiga, é tornar nossa história conhecida, incentivar as pessoas a amarem mais o lugar que vivem, aguçar essa vontade de preservar o que é nosso, de defender nossa cultura”, ressalta.
Muitas vezes, as imagens que apresenta – hoje principalmente nas redes sociais – são enviadas pelos próprios seguidores dos perfis ou por colegas historiadores e amigos. Jornais e livros também servem como fonte de pesquisa para reunir as informações. “O trabalho de pesquisa é árduo e cansativo, mas amo tanto o que faço, que se torna prazeroso”, pontua a historiadora.
Ontem e hoje
Algumas postagens comparativas feitas por Leila surpreendem os internautas ao verem as mudanças ocorridas na cidade, às vezes, num espaço de tempo nem tão longo assim. Essas são as postagens com maior engajamento, só perdem para as de denúncia sobre demolição ou processo de demolição, infelizmente, algo bem corriqueiro em nossa cidade.
Para ela, o resgate dessa memória apagada pelas demolições ou desconfigurações é uma forma de aproximar o fortalezense da sua história e da sua cultura. “Quando você passa a conhecer, a saber da história, da importância, você entende que precisa cuidar, precisa preservar. Como eu posso amar ou preservar o que não conheço?”, diz. “A destruição ou demolição dos nossos prédios históricos, simboliza o esquecimento de parte da nossa identidade cultural. Aqui em Fortaleza, nossos imóveis antigos estão constantemente em uma roleta russa. Poucos recebem algum tipo de atenção e cuidados. Alguns estão caindo aos pedaços, mesmo aqueles que são tombados”, critica a historiadora.
Para conferir:
Outros perfis no Instagram que resgatam memórias de Fortaleza
@fortalezaantigamente
@ arquivonirez
@ fortalezasemmemoria