Coletânea reúne 50 textos jornalísticos de Gabriel Garcia Márquez, publicados em diferentes jornais e revistas pelos quais o jornalista e escritor colombiano passou. “O Escândalo do Século”, acaba de ser lançado no Brasil
Naara Vale
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O mundo conheceu o colombiano Gabriel Garcia Márquez com o livro “Cem anos de Solidão”, lançado em 1967. Os holofotes sobre ele se acederam ainda mais com o Prêmio Nobel de Literatura, em 1982. Por outro lado, Gabo, como era carinhosamente chamado, sempre deixou claro que queria ser lembrado pelo jornalista que foi. “(…) Porque o jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e humanizar mediante a confrontação descarnada com a realidade. Quem não sofreu essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida, não pode imaginá-la (…)”, escreveu no texto “A melhor profissão do mundo”, uma espécie de oráculo para os profissionais de redação.
Alguns dos seus melhores textos jornalísticos escritos ao longo de trinta anos de exercício da sua paixão maior foram compilados e publicados no livro “O Escândalo do Século”, traduzido recentemente pela editora Record. A obra reúne cinquenta textos publicados entre 1950 e 1984 em jornais e revistas.
Entre os escritos, selecionados pelo editor espanhol Cristóbal, estão os primeiros textos que publicou no El Universal de Cartagena e no El Heraldo de Barranquilla, quando contrariou o pai largando os estudos de Direito para virar repórter. Estão ali também textos publicados em meios venezuelanos, como Élite e Momento, e outros que escreveu como correspondente da agência Prensa Latina, nos Estados Unidos e na Europa.
No prólogo escrito pelo jornalista americano e repórter da revista The New Yorker, Jon Lee Anderson, também amigo de Gabo, a paixão do colombiano pelo jornalismo fica evidente. “Afora tudo isto, Gabo foi jornalista; o jornalismo foi de certa maneira o seu primeiro amor e, como todos os primeiros amores, o mais duradouro. Esta profissão proporcionou‑lhe o primeiro sustento como escritor, coisa que ele recordou sempre; a sua admiração pelo jornalismo chegou ao ponto de proclamar em certa ocasião, com a sua generosidade característica, que era ‘o melhor ofício do mundo’”, diz Lee Anderson.
O limiar entre o jornalismo e a literatura de Gabo era tênue. Em coberturas de eventos ditos sérios e geralmente enfadonhos, como as cúpulas presidenciais, por exemplo, ele conseguia fugir do óbvio e dar um tom de cronicidade ao texto. O relato do evento saía do mero formalismo político para mostrar os bastidores, as descrições físicas e emoções de seus personagens, sem deixar de lado o rigor da apuração jornalística.
Segundo Jon Lee Anderson, Gabo sabia dos exageros que cometia e imprimia ali o seu estilo de escrever. Ao mesmo tempo, tirava da realidade que retrava a matéria-bruta para os seus romances de realismo-mágico, estilo do qual é a maior referência na literatura.
O jornalista
Nascido em 1928 na aldeia de Aracataca, nas imediações de Barranquilla, na Colômbia, Gabriel Garcia Márquez é amplamente conhecido por títulos como “Cem Anos de Solidão”, “O Amor nos Tempos do Cólera” e “Crônica de uma Morte Anunciada”. Como jornalista, porém, sua obra é igualmente vasta. Além da vida dedicada às redações de jornais, Gabo deu asas ao seu amor pelo jornalismo com a criação da Fundação Gabo, antes chamada de Fundação para o Novo Jornalismo Ibero-Americano. Parte da Fundação foi custeada com a verba que ganhou do Prêmio Nobel.
Completando 25 anos, a instituição realiza oficinas, cursos, dá bolsas de estudos e promove prêmios com o objetivo final de realizar o sonho de Gabo de transmitir para novas gerações o melhor jornalismo do mundo: “um jornalismo independente que busca investigar, decifrar e explicar a realidade de maneira rigorosa, ética e criativa para que os cidadãos estejam melhor informados”. Num tempo em que o jornalismo é cotidianamente atacado, o sonho de Gabo é ainda mais urgente.
Serviço:
O Escândalo do Século
Autor: Gabriel García Márquez
Editora: Record
Págs.: 350
Preço: R$ 59,90






















