Cadeh Juaçaba é o terceiro entrevistado da “Arte em Isolamento”, série criada pelo jornal para apresentar o processo criativos de artistas plásticos durante esse momento de recolhimento
Emanuel Furtado
emanuelfurtado@ootmista.com.br
Mesmo afastado do seu ateliê, em uma das salas do tradicional edifício Palácio Progresso – no Centro da capital cearense -, o artista visual Cadeh Juaçaba segue esse período de reclusão social produzindo arte, ao lado da mulher grávida. Em conversa com O Otimista, ele nos fala da série que está criando, a qual intitulou “Quarentena”.
“Eu já vinha estudando os elementos de identificação, os símbolos nacionais, principalmente o Brasão de Armas do Brasil, que foi o motivo da minha exposição (“Eles não sabem as armas que têm”) no fim do ano passado, em Lisboa. Então estou fazendo essa série a partir de manipulações digitais, impressões, reimpressões e intervenções pictóricas sobre essas impressões.”, explica ele.
O artista conta que segue dando continuidade a essa pesquisa e destaca a frequente aparição do Brasão nos meios de comunicação, durante o atual momento político brasileiro. “O Brasão vem aparecendo cada vez mais na televisão e na internet. Daí estou utilizando as imagens, onde os políticos, ministros e o presidente aparecem na frente do ‘Brasão da República’”.
Minucioso, ele complementa a explicação: “E o Brasão sempre é cortado pelo enquadramento da câmera, então utilizo esses retalhos e reinterpreto eles, recortando mais ainda, colando. Isso na intenção de afastar a compreensão de um elemento que eu acho muito característico do Brasão, que são as estrelas. Elas estão tanto na bandeira, como no Brasão de Armas e no selo (Selo Nacional do Brasil)”.
Ainda sobre as estrelas presentes no símbolo nacional estudado por ele, Cadeh Juaçaba diz que na série está tentando, através do processo de desconstrução, dar “um segundo ou terceiro significado” à forma da estrela. “Porque a forma dela, diferente do círculo, do retângulo e do quadrado, tem um protagonismo e não deixa de ser estrela em qualquer momento. Então estou procurando, em “Quarentena”, um processo de desmanchar a estrela, remontá-la, para que ela possa ter uma terceira, uma quarta ou uma quinta imagem”.
Arte em família
De família ligada ao universo artístico, Cadeh Juaçaba desde cedo foi cercado e estimulado a se interessar por esse caminho. Na infância, o hoje artista visual frequentou museus locais, assim como os que teve a oportunidade de conhecer e vivenciar em viagens para além do Ceará. “Na minha família sempre teve artista, tanto por parte de pai, como por parte de mãe. Em casa eu tive essa sorte, esse privilégio. A gente foi cercado de arte, seja através do colecionismo ou da própria atividade artística das artes visuais ou da dança”.
“Meu avô materno é comunicador radialista e apresentador de televisão e minha tia-avó paterna, Heloísa, é uma figura muito importante nas artes visuais do Ceará. Ela me estimulou muito quando eu era criança. Minha avó também trabalhou com decoração durante muitos anos. Além disso, meu pai é cirurgião plástico e não deixa de ser um artista. Ele coleciona”.
Entre os artistas que admira e que o “tocam de certa forma”, como disse, o norte-americano Andy Warhol é considerado por ele um divisor de águax na história da arte. “Eu me dedico muito à pesquisa sobre a biografia do Warhol”. O francês Marcel Duchamp, assim como o vietnamita Danh Võ, também estão entre os seus prediletos.

























