Rendas e bordados se transformam pelas mãos de Mario Sanders

Na segunda matéria da série Arte em Isolamento, Mario Sanders fala das novidades que vem criando durante este período de pandemia. Segundo ele, o público pode esperar uma exposição de seus trabalhos

Emanuel Furtado
emanuelfurtado@ootimista.com.br

Bordados e toalhas de renda ganham novos significados pelas mãos do artista visual Mario Sanders, que durante estes tempos de pandemia vem desenvolvendo a série TOQUE. Ela é o destaque desta segunda matéria da série Arte em Isolamento, em que O Otimista apresenta trabalhos de  artistas plásticos produzidos neste momento delicado.

“Essa série faz parte de um conceito que eu já tinha utilizado antes. Gosto muito de usar frases e palavras no meu trabalho, porque gosto de escrever também. Agora em 2020 comecei essa série, utilizando umas toalhas que minha mãe há muito tinha me presenteado. São bordados que tratam as relações afetivas, através do ‘toque’ nesse período de epidemia. Trata-se de negar de forma afirmativa a relação entre as pessoas, como um desejo proibido do contato físico e sensorial, por isso a utilização de frases, como conceito, como afirmação e negação: não.me.toque.me, não.me.abrace.me,não.me.beije.me e  não.me.deixe.me”, explica Sanders.

Sobre a ideia para a criação da série, o artista visual disse que sempre gostou “de tecidos, tecidos soltos, linhas. Minha mãe costurava e em casa sempre tinha sobras de tecidos, achava bacana a costura, as cores”. Há cerca de cinco anos ele relata que passou a utilizar costuras, colagens e pinturas com tecidos. “Hoje faço essa mistura nos meus trabalhos de pintura, onde utilizo a mesclagem, da tinta com as linhas do bordado. Nunca fui um pintor tradicional, nato, sempre me considerei um artista mais de ideias e utilizo materiais diversos pra executá-las”, revela.

Como relação à sua produção nesse período de quarentena, Mario Sanders conta que está criando mais que em tempos ditos normais. ”Por incrível que pareça, apesar de toda a gravidade, e de eu ser uma pessoa muito sensível, estou produzindo melhor que antes da pandemia. Estou pintando, desenhando e principalmente bordando, desenvolvendo alguns projetos, além das aulas online de desenho que ministro”. Todos esses trabalhos, de acordo com ele, devem resultar em uma exposição.

 Inspiração

Terra conhecida por suas belas rendas, Aquiraz é o berço de Mario Sanders. Ele lembra que, durante a sua infância, os meninos acompanhavam os pais, avós, na pesca e plantação, e as meninas iam fazer renda. “Minha avó era rendeira. Minha mãe rendeira, bordadeira e costureira. Então, cresci no meio disso, vendo minha mãe fazer renda e bordar. Mas somente comecei nessa atividade quando fui dar aula de desenho para uma turma de bordadeiras no Jornadas Criativas (espaço que oferece formações variadas de arte para iniciantes e profissionais)”, explica ele, sobre seu interesse pelo bordado.

Ele conta que começou a trabalhar o universo artístico em casa, através de revistas com quadrinhos. “Depois fiz um curso com Dante Diniz (já falecido) no CSU Adauto Bezerra, no José Walter, bairro onde eu morava, ainda com 16 anos. Na sequência, meu trabalho foi consolidado através do ‘Fratura Exposta’, grupo que criamos nos anos de 1980 no bairro, mas que fez um estrondoso sucesso em Fortaleza. Aí aconteceram premiações em salões locais e nacionais, e também com minha passagem com ilustrações por jornais, revistas e editoras”, explica.

O artista plástico cearense Aldemir Martins foi uma grande inspiração no início da carreira. “Fiquei apaixonado quando conheci seus desenhos e, claro, recebi muita influência. Como movimento, talvez a Art Pop tenha sido também uma boa influência e inspiração”.

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